61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
MITO, LENDA E ALTERIDADE: a natureza como legítimo outro na convivência – Estudo dos mitos, lendas e práticas dos indígenas residentes em Manaus.
ANTONIO ENRIQUE FONSECA ROMERO 1
Idson França Martins 1
Marco Antonio C. Pimentel 1
Sâmara Pinheiro de Oliveira 1
1. Faculdade Salesiana Dom Bosco – FSDB
INTRODUÇÃO:

Compreender a riqueza do múltiplo, na harmonia do uni-verso, é participar da dinâmica estrutural de acoplamento entre o homem e o meio, entre a cultura e a natureza. A prática cotidiana dos indígenas residentes na cidade de Manaus, de tratarem a natureza como igual e legítima na relação de convivência, com marcados elementos antropomórficos como: inteligência, fala, esperteza, simpatia, carinho, alegria, curiosidade etc, nos leva a perceber que a alteridade é um elemento fundante do agir ético dos povos indígenas frente e em relação com o ambiente e com os ecossistemas bióticos. Percebemos em muitos dos mitos, nas lendas e nos contos de nossos povos indígenas como a inteligência sempre ganha da força, da agilidade, do poder etc, para ver isto, só é preciso escutar os inúmeros contos da onça e do jabuti, do macaco e da tartaruga, entre outros. Consideramos que sociedades onde se repassa como um valor ético para as novas gerações a inteligência como contestadora e desafiadora da força, são sociedades altamente civilizadas e humanas. Transmitir estes métodos e ensinamentos a crianças e jovens, mediante fábulas, contos, lendas, mitos e ritos onde as personagens são animais, mas que se apresentam com características humanas como Inteligência, linguagem, pensamento e inter-relação de aceitação com seu meio vital de existência é contribuir para um processo de compreensão e de convivência com o diferente, no caso, da natureza como legítima na relação e interlocução com o humano e cultural.

METODOLOGIA:

O desenvolvimento do projeto foi acompanhando as seguintes etapas, num primeiro momento realizou-se um estudo bibliográfico para conhecer o método da pesquisa social qualitativa observação participante e o método de leitura dos dados de pesquisa Fenomenológico-hermenêutico, assim como, uma primeira aproximação à literatura produzida na região sobre os contos, lendas, mitos e rituais indígenas amazônicos,para logo iniciar o processo de contato com os diferentes grupos humanos indígenas moradores na cidade de Manaus nos seus habitats; isto é, nos bairros ou setores da cidade onde estabeleceram suas moradias, tratando compreender quais as motivações que levaram à escolha desse determinado lugar.

RESULTADOS:

Consideramos que o principal resultado e contribuição da pesquisa foi possibilitar mediante a análise do cotidiano das comunidades indígenas na cidade e da escuta do seu acervo mitológico oral a compreensão da relação que estas desenvolvem com a natureza da qual não possuem o imaginário de muitos cidadões urbanos, como selvagem, incivilizada, perigosa, hostil; muito pelo contrário foi possível perceber como esta relação prima pelo cuidado e a procura do verde no lugar de moradia; assim como, pelo desenvolvimento de um modelo de compreensão e de práxis fundamentado na harmonia e mútua inter-relação dinâmica de acoplamento estrutural, isto é, onde meio ambiente humano e ecológico se encontram em igualdade de condições na relação e na convivência com o humano, crescendo e se auto-implicando criativa e organizadamente; daí que na medida em que a natureza é antropomorficamente humanizada e personalizada, nessa mesma medida o humano é amorosa e cuidadosamente naturalizado, ou seja, não existe uma diferença substancial entre o humano e o vivo natural, se existe, existe uma diferença existencial, porém plaussível de adquirir, tanto uma como outra identidade, segundo seja a necessidade estrutural e organizativa da coletividade, isto é, na mesma medida em que nos naturalizamos amorosa e cuidadosamente, nessa mesma medida a natureza se humaniza amora e cuidadosamente na autopoiética relação de auto-implicação mútua. Natureza e cultura, o homem e meio ambiente, se criam, recriam e organizam dinamicamente.

CONCLUSÃO:

Consideramos que a pesquisa e a divulgação da mesma permite ajudar no reconhecimento e valorização pela sociedade manauara da presença indígena representativa na cidade e sua contribuição para o crescimento e construção da própria identidade regional; assim como, do desenvolvimento sustentável e a harmoniosa convivência entre a natureza, a tecnologia, o humano e o vivo presente na cidade.

Todavia a pesquisa contribuiu com o levantamento etnográfico, cultural e literário dos indígenas da cidade para uma melhor compreensão das suas cosmovisões e a compreensão, revisão e discernimento, segundo estas, dos modelos de desenvolvimento e sustentabilidade propostos para a cidade de Manaus; tirando da mentalidade urbana a relação e designação da natureza, meio ambiente e ecológico, como lugar de perigo, de delinqüente, de feio, de criminoso etc., por uma legítima relação de encontro e ajuda mútua entre a pessoa humana e a natureza caracterizada esta, também em sua identidade de ser pessoal dialógico e sócio-relacional. Ainda a pesquisa propõe novas formas de compreensão, de construção e de relação entre os diferentes modelos paradigmáticos de se aproximar da cultura, da mente e do cérebro humano, mostrando como: as estruturas mentais, sociais, ambientais ou ecológicas, e culturais, são o resultado de uma interação mútua entre o físico, o material, o fisiológico, e, o não-físico ou imaterial; isto é, o ser humano e a natureza não são o mero acaso de forças mecânicas, governadas por leis previsíveis e controláveis, senão o resultado de inter-relações neurobiológicas, sociais, culturais e naturais de maior complexidade.

Instituição de Fomento: Faculdade Salesiana Dom Bosco
Palavras-chave: Alteridade, Autopoiese, Natureza.