61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada
LEVANTAMENTO DA FAUNA ATROPELADA NA ESTRADA DA EMADE, TEFÉ, AMAZONAS.
Daniel Epifânio Marques 1
Keiny Wallace da Silva 1
Luciane Lopes de Souza 1
1. Universidade do Estado do Amazonas, Centro de Estudos Superiores de Tefé
INTRODUÇÃO:

A mortandade de vertebrados por atropelamento em estradas e rodovias é uma das maiores causas de extermínio da fauna, além de impor barreiras a esse grupo.  A construção e pavimentação de estradas, quando implantadas sem planejamento adequado, pode comprometer a qualidade de ecossistemas naturais adjacentes. Suas conseqüências podem incluir impactos negativos na demografia e na genética das populações locais, provocando efeitos de poluição de águas e de solos, além de ser uma grande fonte de mortalidade às espécies. Na região de Tefé, Estado do Amazonas, especificamente após a implantação da estrada da EMADE, observa-se uma crescente devastação de suas áreas florestais devido ao aumento considerável da exploração antrópica, provocando impactos ambientais bastante negativos para a biodiversidade local. A grande necessidade de adequar o homem à natureza na região incentivou o estudo sobre os registros de atropelamento da fauna ao longo da estrada, que visa identificar quais as espécies mais ameaçadas pelo fluxo de veículos, verificar os impactos ambientais causados pela pavimentação, analisar os pontos críticos ao longo da estrada, bem como sugerir medidas de segurança e conservação da fauna ameaçada na área de estudo.

METODOLOGIA:

A estrada da EMADE está situada a 8 km da cidade de Tefé e consiste em um trecho de 23 km, que servirá como acesso ao futuro porto da cidade. Esta estrada caracteriza-se por ser uma pista única e de mão dupla, com alguns trechos sinuosos. A coleta de dados iniciava sempre no ponto do quilômetro 0, onde eram anotados: data, hora, clima e outras informações relevantes. Quando um animal atropelado era avistado, ao longo do caminho, dados específicos sobre a vítima eram anotados, tais como: nome vulgar ou da espécie, faixa-etária, estado de conservação e local de atropelamento. No ponto do quilômetro 23 dava-se um intervalo de 15 a 20 minutos na coleta de dados para iniciar o retorno ao ponto inicial. Em cada excursão mantinha-se uma velocidade média de 35 km/h, utilizando uma motocicleta, geralmente com dois observadores. Tomou-se a precaução de observar os dois lados da pista para evitar a perda de algum animal atropelado. As excursões ocorriam preferencialmente antes e depois dos dias e horários de maior fluxo de veículos na estrada. Os animais relativamente intactos foram coletados e encaminhados ao Laboratório de Biologia do Centro de Estudos Superiores de Tefé da Universidade do Estado do Amazonas para que fossem identificados por chaves taxonômicas ou especialistas da área.

RESULTADOS:

Foram realizadas 32 excursões de campo, resultando em um total de 1.472 km percorridos, no período de setembro de 2008 a fevereiro de 2009, com uma média de cinco dias por mês. Durante toda a coleta foram contabilizados 122 animais atropelados de 20 espécies diferentes de vertebrados. Considerando os 23 km de percurso, encontrou-se o atropelamento de 5,3 animais/km e considerando o total percorrido a média foi de 0,083 animais/km/percorrido. A classe de vertebrados com maior número de representantes atropelados foi a dos anfíbios com 72 indivíduos (59%), seguida pelos répteis com 30 indivíduos (25%), aves com 12 indivíduos (10%) e, por último, a dos mamíferos com 8 indivíduos (7%). As ordens de vertebrados que merecem destaque são: Anura com 58% do total, seguida pela ordem Squamata com 25%, Chiroptera com 6% e Passeriformes com 4%. Dentre as espécies vitimadas a que merece destaque é Bufo marinus (sapo cururu) que representa 30% do total dos registros. Este número alto pode estar relacionado à localização da estrada, pois há vários trechos que têm proximidade com corpos d’água. Quando calculamos o número de vítimas por mês, destaca-se o mês de dezembro com um total de 34 animais encontrados mortos, em seguida novembro com 23, outubro e janeiro com 21 cada, fevereiro com 18 e setembro com cinco registros. Os principais pontos críticos foram considerados aqueles com 10 ou mais atropelamentos, portanto destacam-se os trechos dos quilômetros 2 com 11,5%, 5 e 8 com 10,7% cada, 4 e 11 com 8,2% cada e, por fim, 6 e 16 com 5,7% cada.

CONCLUSÃO:
O número de indivíduos atropelados que pertencem a classe Amphibia, encontrado no presente estudo, é considerado um índice alto em comparação com outros estudos brasileiro. Tais resultados podem até ser subestimativas da realidade devido à dificuldade de visualizar os animais na margem da estrada coberta por vegetação, perdendo-se com isso informações importantes, pois a presença de corpos d’água em vários trechos da estrada propicia a presença constante deste vertebrado no local. Na literatura consultada não foi observado o registro de B. marinus como a principal vítima de atropelamento em estradas brasileiras. Com base nos pontos críticos da estrada da EMADE podem ser propostas algumas medidas mitigadoras dos impactos encontrados: a implantação de redutores de velocidade, principalmente nos quilômetros 2, 5 e 8, e a instalação de placas educativas, alertando os motoristas a reduzirem a velocidade para evitar ou minimizar os atropelamentos da fauna silvestre. Pode ser feito também um trabalho de Educação Ambiental nas escolas da regiãoque possibilitará a correta aplicação de tais medidas, reduzindo os impactos ambientais gerados pela construção e pavimentação desta estrada no interior do Amazonas.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa na Amazônia
Palavras-chave: Fauna Atropelada, Estradas, Amazônia.