61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
DANÇA E EDUCAÇÃO: DIÁLOGO ENTRE O SABER POPULAR E O SABER ESCOLAR EM DOIS CONTEXTOS EDUCATIVOS.
Neide da Silva Campos 1
Eva Batisa dos Santos Silva 1
Beleni Saléte Grando 1
1. Universidade do Estado de Mato Grosso
INTRODUÇÃO:

A discussão que trazemos neste trabalho resulta de uma intervenção exploratória como proposta metodológica no desenvolvimento do projeto de pesquisa e extensão Corpo e Educação: festas e jogos como forma de mediações interculturais em relações de fronteiras étnicas e culturais em Mato Grosso, institucionalizado no Núcleo de Estudos Corpo, Educação e Cultura, COEDUC/UNEMAT. Com esta pesquisa, buscou-se compreender como se estabelece as relações entre os saberes populares e os saberes escolares visando à construção de uma proposta de Educação Intercultural. Após estudos sobre a cultura popular cacerense, estabeleceu-se uma proposta de intervenção pedagógica com novos referenciais, buscando o diálogo com as tradições/saberes existentes na cidade de Cáceres-MT, em dois contextos distintos: uma escola e um projeto de extensão universitária. Nesses dois contextos foram ministradas oficinas de Danças Tradicionais, com o siriri de roda para crianças de 8 e 9 anos de idade, objetivando analisar a prática educativa e criar novos referenciais metodológicos para o trabalho com a cultura popular tradicional, numa perspectiva de que o ensino dialogue com os saberes da cultura local, numa perspectiva de educação intercultural, que respeite as diversidades existentes no contexto escolar.

METODOLOGIA:

Para efetivação da pesquisa utilizamos a pesquisa qualitativa, bem como observação participante e a descrição de densa referenciada por Clifford Geertz (1989), na execução das oficinas de danças. Para análise dos dados empíricos, recorremos a literatura específica através de Geertz (1989), Grando (2002), Fleuri (1998, 2001), Freire (1987,1996), Passos (2003), entre outros. A intervenção pedagógica se deu por meio das oficinas de Danças Tradicionais, com o siriri de roda, sendo esta expressão de cultura, lazer, educação e identidade local, realizada nas festas de santos homenageados durante todos os meses do ano. Diante da realidade histórica e da leitura de mundo dos meninos e meninas, partimos dos saberes populares para realizarmos uma prática educativa com as danças tradicionais, mais especificamente com o siriri de roda, por ser esta dança expressão de sentidos e significados do ser cacerense e mato-grossense. A opção por trabalhar com as danças tradicionais, em meio a uma grande diversidade de danças existentes no estado de Mato Grosso e no Brasil, visou valorizar a cultura local como proposta metodológica para pensar a educação intercultural, pois, conforme afirma Grando (2002, p. 14). “Ao dançar, o corpo expressa uma determinada vida social cujas ações se constituem segundo códigos e convenções simbólicas definidos pela cultura do grupo social a que pertence”.

RESULTADOS:

Os resultados destas intervenções investigativas nos permitiram compreender que nesses espaços (Escola-Projeto), é possível trabalhar com a cultura local, em especial, as danças do siriri de roda. Esta práxis nos abriu um leque para discutirmos sobre as festas, as comidas e bebidas típicas, rezas e cantos e danças, com as crianças cujos saberes e práticas alimentavam os conhecimentos em construção coletiva, além de proporcionar às crianças pesquisadas um contato com a cultura popular tradicional nos dois ambientes educativos. Percebeu-se nesses processos educativos uma participação das crianças foi significativa, o que contradiz a fala da maioria dos professores que enfatizam que os jovens e as crianças não têm interesse pela cultura local. Assim, pelo que foi constatado, além do grande interesse das crianças diante da temática, elas também se demonstraram orgulhosas da sua cultura. A partir destas experiências vivenciadas, compreendemos com Fleuri (2001, p.140) que “A educação intercultural se configura como uma pedagogia do encontro”, e como todo encontro de sujeitos diferentes os conflitos, confrontos, acolhimentos não estão dissociados dessa relação. As observações das práticas pedagógicas desenvolvidas confirmam esta afirmação, pois durante as oficinas mediamos os conflitos e acolhimentos das crianças nos momentos da dança. A mediação intercultural amenizou as relações conflituosas existentes, quer seja de origem étnica, de gênero ou religiosa.

CONCLUSÃO:

A cultura popular, como símbolo e códigos que orientam a vida cotidiana dos sujeitos, deve estar na escola. Nos referimos à festa e às danças, por exemplo, que são vivenciadas pelas crianças que cotidianamente frequentam a escola. Os adultos que organizam o mundo da criança fora da família, sejam em espaços sociais fora, como os projetos sociais que não tratam diretamente com o ensino formal, ou dentro da escola, têm tido dificuldades de articular estes contextos, aparentemente distante e dissociados um do outro. Pois para a escola, ou para os educadores que buscam reforçar a cultura escolar, estes contextos são como linhas paralelas que não se encontram, o local/tradicional não dialóga com o global. O trabalho proporcionou uma educação intercultural motivadora de uma nova relação existente entre educadores e educandos e entre os próprios alunos. Esta experiência com a dança viabilizou interações entre os diferentes sujeitos, mostrando que é possível a construção de um novo modelo de educação e de novas formas de educar, que não sejam etnocêntricas e nem monoculturalistas. Assim, pensar em práticas educativas interculturais, requer competências diante da prática pedagógica a ser executada, o que nos legitima realmente como autoridades no processo educativo.

Palavras-chave: Dança Tradicional, Cultura popular, Educação Intercultural.