61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
VARIAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E NA ABUNDÂNCIA DO ICTIOPLÂNCTON DO RIO MADRE DE DIOS (PERU)
Rosseval Galdino Leite 1
Carlos Cañas 2
Maria del Carmen Rojas Rojas 3
Robinson Olivera 3
Roberto Quispe 3
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia / INPA-CPBA
2. Florida University - USA
3. Museo de Historia Natural, Universidad San Marcos, Peru
INTRODUÇÃO:
A cada dia é mais evidente a necessidade de conhecer o comportamento do ictioplâncton e seu padrão de distribuição em água interiores. A Amazônia a utilização dos recursos naturais para fins diversos requer cuidados. Conhecendo etapas de desenvolvimento larvais é possível conhecer áreas de reprodução dos peixes e épocas de sua ocorrência, conhecendo-se também os principais fatores que regem este comportamento. Os estudos realizados na Amazônia Central afirmam que a maioria das espécies migra para a desova saindo de rios com águas pobres em nutrientes para ambientes ricos em nutrientes tais como os rios que drenam os Andes; onde coincidentemente, se encontra a maior quantidade de larvas de peixes (Silva & Araújo-Lima, 2004). Uma questão interessante, e que deve ser reconhecida para fins de conservação, é qual o caminho trilhado pelas larvas de peixes durante o início de sua vida e também qual a posição na coluna de água em que elas se concentram. Este tipo de informação conduz a uma informação importante da biologia pesqueira que é relacionada com a renovação dos estoques através de novos recrutas. Este ensaio objetivou mostrar como as larvas de peixes estão distribuídas em uma região do rio Madre de Dios, um dos principais formadores do Madeira, no qual há intensa atividade reprodutiva dos grandes bagres (Leite et al. 2007). Estes peixes como é o caso da dourada, Brachyplatystoma rousseauxii, da piramutada, B. Vaillantii e do filhote B. filamentosum e B. capapretum desempenham papel econômico importante naquela região.
METODOLOGIA:
As larvas de peixes foram coletadas semanalmente no rio Madre de Dios (Peru) localizado no extremo Oeste da bacia do rio Madeira, o maior tributário do rio Amazonas (Goulding et al. 2003) O período de amostragem variou de 24 novembro de 2004 até 15 de fevereiro de 2005 com uma rede de ictioplâncton com 360µm de abertura de malha, com um fluxímetro acoplado na sua extremidade anterior e um copo coletor destacável na porção posterior. O fluxímetro permitiu calcular a quantidade de água filtrada, dando possibilidade de estimar a quantidade de larvas por área estudada e também foi medida a condutividade elétrica da água no momento da captura das larvas, para verificar relações entre a abundância de larvas e a variação deste parâmetro. Para este estudo as larvas foram classificadas apenas em dois grandes grupos separando-se os siluriformes das demais ordens. Entre estas ordens havia uma maior quantidade de Characiformes em relação a Perciformes, Gymnotiformes, Clupeiformes, Engrauliformes e Pleuronectiformes. Foram considerados os pontos Margem direita (MD), Margem esquerda (ME) e centro do rio para o estudo de posicionamento das larvas no calha dos ambiente estudados. As larvas foram coletadas em profundidades variando desde a superfície até 15 metros e a condutividade foi dividida em 4 classes de amplitude.
RESULTADOS:
As análises estatísticas confirmaram que houve diferença significativa na distribuição de larvas verticalmente na coluna d’água tanto para larvas totais quanto para larvas de siluriformes (ANOVA; G.L. 6,994; F= 7,782 e 8, 645 e p = 0,000 respectivamente). Considerando-se o total de larvas houve maior concentração nos primeiros metros diminuindo ligeiramente à partir do terceiro metro. Considerando-se as larvas de Siluriformes separadamente, houve maior concentração em torno do terceiro metro de profundidade seguindo-se o primeiro metro enquanto que nas demais profundidades as larvas se distribuíram uniformemente em menor quantidade. Em relação à posição em que as larvas ocupam no canal do rio, considerando-se a distância das margens, também foi observado diferença altamente significativa para larvas totais e de Siluriformes (ANOVA, G. L. = 2, 998; F = 51, 491 e 97, 663, respectivamente) mostrando que para os dois grupos, que houve uma maior concentração de larvas na margem esquerda do rio, seguida da direita e menor concentração na região intermediária do canal do rio. Em relação à condutividade como fonte de variação na quantidade de larvas, os dados mostraram que onde o ambiente apresentou maior condutividade houve maior concentração de larvas de peixes (ANOVA; G.L. 3, 994; F = 14, 942 e 8, 207 para larvas totais e larvas de siluriformes respectivamente e p = 0,000 para ambos).
CONCLUSÃO:
As capturas de larvas realizadas neste ensaio se deram em um período de intensa atividade reprodutiva local no rio Madre de Dios por isso, estes resultados são importantes. As diferenças no posicionamento vertical das larvas entre o total de larvas e as dos Siluriformes denota estratégias diferenciadas já nesta fase da vida entre as espécies. As larvas e juvenis dos grandes bagres no rio Madeira (Leite, obs. Pess.) ocupam áreas mais centrais e mais profundas porque eles não se utilizam dos mesmos recursos alimentares e do abrigo da maioria das larvas de peixes (Leite, ob. Pess.). Os Characiformes buscam as áreas recentemente inundadas como berçário (Leite, 2000, Leite & Araújo-Lima, 2000, 2002). Diferenças na concentração de larvas em relação às margens do rio pode ser explicada porque os adultos saem dos tributários e seguem próximos às margens para desovarem. Assim, suas larvas ficam próximas às futuras áreas de inundação onde encontrarão abrigo e alimento (Leite, 2000; Leite & Araújo-Lima, 2001; 2002). No caso dos Siluriformes eles fazem grandes migrações desde o estuário até os Andes para desovarem e suas larvas são levadas à grandes distâncias usando muitas vezes, o estuário como berçário (Leite et al. 2007). A maior concentração de larvas de peixes onde o ambiente possui maior condutividade elétrica também está relacionada à obtenção dos recursos alimentares, pois, a presença de nutrientes leva ao desenvolvimento de flora a fauna exuberantes com maior disponibilidade de alimento e abrigo próprios aos peixes nesta fase da vida.
Instituição de Fomento: Moore Foundation
Palavras-chave: Larvas de peixes de água-doce, Bacia do rio Maedeira, Amazônia peruana.