61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
CRESCIMENTO RELATIVO DE Dilocarcinus pagei STIMPSON, 1861 (CRUSTACEA, BRACHYURA, TRICHODACTYLIDAE) NA REGIÃO DO MÉDIO AMAZONAS PROXIMO À ITACOATIARA (AM), BRASIL
André Moraes de Farias 1
Raydriane Santos da Silva 1
Gustavo Yomar Hattori 1
1. CESI/UEA
INTRODUÇÃO:

A Família Trichodactylidae, com pouco menos de 50 espécies, distribui-se na América do Sul e Central, ocorrendo desde o sul do México até a Argentina. Estudos sobre a Família Trichodactylidae na região amazônica são bastante escassos, principalmente na região do Médio Amazonas.

O caranguejo Dilocarcinus pagei, ocorre em varias regiões no Brasil (AP, AM, PA, MT, RO, AC, MS e SP), na bacia amazônica e no rio Paraguai/Paraná. O caranguejo D. pagei é utilizado como isca viva na pratica da pesca esportiva.

O crescimento relativo têm sido mostrado pela relação de crescimento entre vários órgãos entre si (X e Y), representado pela relação Y= aXb, a letra “b” considerada a constante alométrica. Dá-se o nome de crescimento relativo quando certas dimensões do corpo de um animal modificam-se em taxas diferentes de outras, o que leva a mudanças nas proporções com o aumento do tamanho.

            O presente trabalho visa determinar as equações crescimento relativo de D. pagei, possibilitando a interconversão entre as variáveis morfométricas e o estabelecimento de possíveis alterações na constante “b” entre machos e fêmeas. Tais informações são importantes para compreender a ontogenia D. pagei na região de Itacoatiara (AM).

METODOLOGIA:

Os exemplares de D. pagei foram coletados mensalmente no Lago do Serpa (S03°08'09,1" e W58°27'47,3"), Lago do Miratú (S03°15'30,0" e W58°21'34,5") e Lago do Siripá (S03°10'57,2" e W58°28'27,1"), no período de Junho à Setembro de 2008.

A captura de D. pagei foi realizada por duas pessoas com puçás com cabo de 60 cm de comprimento, diâmetro da boca com 45 cm e saco com 50 cm de fundo e manualmente, revolvendo raízes de vegetações marginais. As coletas duraram em média 2 horas.

Todos os exemplares tiveram suas estruturas morfológicas mensuradas, cefalotórax (largura = LC, comprimento = CC, altura = AC), própodo quelar (comprimento = CP, altura = AP, espessura = EP), abdome (largura do 5º somito = LA) aferidos com um paquímetro (0,05mm) e gonopódios do macho (comprimento do 1º e 2º par = CG1 e CG2) que foram medidos com uma lupa acoplada a uma câmera digital utilizando o programa MOTIC (0,01mm). O peso dos animais (PE) foi registrado com uma balança semi-analítica digital (0,01g).

As analise de regressão foi utilizada para as relações CCxLC, ACxLC, CPxLC, APxLC, EPxLC, LAxLC, (para machos e fêmeas) e CG1xLC e CG2xLC (machos). As constantes de crescimento (b) foram submetidas a um teste “t” (α=0,05) para verificar o grau de alometria (b=1, isometria; b1 alometria positiva ou negativa).

RESULTADOS:

Um total de 177 exemplares (130 machos e 47 fêmeas) foi capturado. Machos apresentaram tamanho máximo de 49,70mm de LC e média e desvio padrão de 39,47±3,42mm, enquanto nas fêmeas foi de 48,00mm e 39,16±3,60mm, respectivamente.

Uma isometria foi verificada para CCxLC nos machos (b=0,955; t=1,48; p>0,05; R²=0,883) como para fêmeas (b=0,933; t=1,36; p>0,05; R²=0,887). A média de LC de machos e fêmeas foi não significativa no teste “t”student (t=0,42; p>0,01). A relação ACxLC indicou nos machos isometria (b=0,995; t=0,11; p>0,05; R²= 0,83) e alometria negativa para fêmeas (b=0,835; t= 2,05; p<0,05; R²=0,707). Para a relação CPxLC evidenciou uma alometria positiva para machos (b=1,29; t=3,09; p<0,05; R2=0,675;N=94) e isometria para as fêmeas (b=1,09; t=0,79; p>0,05; R2=0,660; N=41).

A relação APxLC apresentou alometria positiva para machos (b= 1,338; t=2,47; p<0,05;) e crescimento isométrico entre as fêmeas (b=1,18; t=0,925; p>0,05). Para EPxLC verifico-se isometria tanto para machos (b=1,040; t=0,34; p>0,05) como para fêmeas (b=1,035; t=0,16; p>0,05).

A relação CG1XLC mostrou um crescimento isométrico (b=0,932; t=0,97; p>0,05) enquanto a relação CG2xLC mostrou uma alometria negativa (b=0,810; t= 3,36; p<0,05).

CONCLUSÃO:

Estudos sobre o crescimento relativo de D. pagei são escassos na literatura, sendo os resultados comparados com de outras espécies de caranguejos marinhos, estuarinos e de água doce. A maioria dos estudos sobre alometria dá ênfase às relações de comprimento do própodo quelar (CP) para machos e largura do abdome (LA) para fêmeas.

Nos machos, um quelípodo grande aumenta o seu tamanho aparente e tem importância nos encontros agonísticos, defesa, captura de alimentos, demarcação de território e na atração de fêmeas para a cópula. O mesmo padrão está sendo observado para D. pagei, já que machos apresentam alometria positiva para CPxLC e isometria nas fêmeas.

Para fêmeas a relação LAxLC obteve um crescimento isométrico, apresentando similaridade ao resultado de Sylviocarcinus australis, Ucides cordatus e A. patagoniensis. Nas fêmeas de caranguejos é mais comum um padrão de crescimento alométrico positivo para largura do abdome. A isometria de D. pagei para LAxLC das fêmeas pode ser decorrente do baixo número de exemplares coletados (N=47). Um número maior de fêmeas poderia elucidar com mais precisão o padrão de crescimento. O baixo número de animais amostrado foi decorrente da dificuldade de captura durante o período de vazante dos rios da região.

Dilocarcinus pagei apresenta um padrão alométrico de crescimento semelhante ao de outras espécies de caranguejos. As taxas de crescimento alométrico das relação de CPxLC para machos e LAxLC para fêmeas são muito similares aos outros braquiúros. Relações biométricas das estruturas morfológicas mencionadas podem indicar o início da maturidade sexual morfológica. Mais informações sobre a ontogenia dessa espécie são necessárias para compreender melhor a biologia de Dilocarcinus pagei na região amazônica.  

Instituição de Fomento: FAPEAM (Programa DCR e Bolsa AT/A) e CNPq (Edital Universal 2007)
Palavras-chave: Crustacea, crescimento relativo, Dilocarcinus.