O presente trabalho analisa as representações sobre a Amazônia na Literatura Amazonense, do início do século XX, a partir da problematização e contextualização da obra literária Inferno Verde: cenas e cenários do Amazonas, do escritor amazonense Alberto Rangel. Buscou-se verificar como a Amazônia foi representada na literatura e as relações que implicam a ficção e a história. Ora observou-se os sujeitos envolvidos nas ações apresentadas na obra e movimentos sociais insurgentes à ordem instituída pelos “donos dos seringais”, responsáveis pela extração da “borracha”, ora buscou-se verificar a construção de referências do homem amazônico do início do século, da discussão em torno da identidade amazonense e a compreensão dos significados da composição desse homem. Ora a descrição das características físicas e cognitivas dos personagens, de sua relação com a natureza e o índio, configura-se uma visão do amazonense ao público acadêmico. O estado do Amazonas aparece em outras obras de autores não–amazonenses estereotipado, descrito a partir de dados culturais marcadamente etnocêntricos. O que se busca construir com este trabalho é uma imagem integrada do estado, a partir do olhar de um autor nativo para com a sua terra, desmistificando referências construídas sem uma vivência da realidade. E isto, possibilita dar visibilidade a um ramo da historiografia brasileira pouco pesquisada, rica em informações sobre a vida cotidiana do maior estado da federação e de grande relevância para o cenário internacional.

O presente estudo foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica que aborda a questão das fronteiras entre a história e a literatura, que lidam a todo o momento com questões complexas que dizem respeito à sociedade, às formas como os sujeitos se organizam, às relações de conflitos procurando desvendar as ideologias criadas/disseminadas pelos grupos dominantes ou formas de reação dos grupos dominados, através da obra Inferno Verde: cenas e cenários do Amazonas, do escritor Alberto Rangel, que, publicada em 1908, registra em doze contos o cotidiano amazonense. Entre o material selecionado para o desenvolvimento deste trabalho, encontram-se textos de Roger Chartier, Nicolau Sevcenko, Sidney Chalhoub e Leonardo Affonso de M. Pereira, que correspondem à questão das fronteiras ou representações entre história e literatura. Este estudo pautou-se no método analítico – investigativo de Chalhoub (1998). Refere-se a uma modalidade de investigação histórica, que analisa obras da perspectiva da história social, o que significa entendê-las desde um ponto de vista materialista, considerando-as não apenas como obras de arte, mas como um testemunho histórico específico de determinado momento. A observação de vestígios históricos na obra em estudo possibilita reconstituir parte da memória do estado do Amazonas durante o início do século XX.       

A análise das representações sobre a Amazônia na literatura amazonense, a partir da obra Inferno Verde: cenas e cenários do Amazonas, de Alberto Rangel, permitiu visualizar como o autor representou o estado. Além da análise da obra, os resultados aqui expostos são frutos de investigação na Biblioteca da Universidade do Estado do Amazonas – CEST/UEA. No trabalho investigativo de levantamento bibliográfico notou-se uma vasta produção literária amazonense, que tem um aumento significativo no final do século XIX e início do século XX. O número de autores nativos retratando suas impressões sobre seu estado, personagens, lendas e tradições cresce bastante, certamente influenciados pelo impulso dado pela extração da “borracha” na região amazônica. O livro de Alberto Rangel permitiu visualizar como o povo vive, seja ele imigrante ou nativo, quais ações contrárias a filosofia dos “coronéis de barranco” e a situação econômica, política e social da época. Para isto, os contos foram elementos essenciais para a observação dos “mandos” e “desmandos” dos “coronéis de barranco”. A extração da “borracha” impulsionou o desenvolvimento do Amazonas no início do último século e foi a grande responsável pela imigração de milhares de nordestinos, especialmente de cearenses, para região amazônica. Nesse processo, destaca-se o papel desempenhado pelo “seringueiro” dentro dos “seringais” que estava incluso; homem forte e decisivo capaz de se opor as ordens dos “coronéis de barranco”, sendo sujeito de sua própria história.

O presente estudo investiga as representações da Amazônia na literatura amazonense, a partir da obra Inferno Verde: cenas e cenários do Amazonas, os diferentes sujeitos sociais, a natureza, a economia, a política e a linguagem do início do século XX. A “borracha” teve sua relevância para o desenvolvimento do Amazonas, visto que sua extração colocou o estado no cenário nacional e internacional; também, o “seringueiro” teve importante participação para o reconhecimento dos povos amazônicos, foi pelo trabalho dele, em extrair o látex das seringueiras que trouxe divisas para o estado e transformou Manaus na “Paris” dos trópicos. Na busca de confrontar história e ficção, encontra-se a problematização de referências e até mesmo de obras literárias amazonense no município de Tefé, principalmente nas bibliotecas das escolas estaduais e municipais. Isto só desafia a investigação e, que para se obter êxito em um trabalho de pesquisa com pretensões tão ousadas, é preciso além do esforço pessoal, estruturas materiais que favoreçam o desenvolvimento da pesquisa. Enfim, objetivou-se com o presente estudo construir uma historiografia regional, oferecendo sua contribuição a partir do viés das relações entre a literatura e a historia, tomando a obra literária como fonte para a Historia e, não somente como arte.