61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 10. Geociências
IMPACTOS AMBIENTAIS, SOCIO-ECONOMICOS E CULTURAIS PROVOCADOS PELAS OLARIAS NO MUNICÍPIO DE TABATINGA/AM
Helder Manuel da Costa Santos 1
Márcia Vieira 2
Antonia Gomes Neta Pinto 3
1. Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas
2. Centro de Estudos Superiores de Tabatinga/CSTB da UEA
3. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA
INTRODUÇÃO:
A expansão urbana da cidade de Tabatinga, localizada na Região do Alto Solimões do Estado do Amazonas, tem provocado, nos últimos anos, o incremento das atividades das olarias devido a demanda crescente de tijolos. Assim, as atividades das olarias tendem a ser lucrativas para os proprietários e por outro lado causam preocupação pelos impactos que vêm causando. A preocupação reside no fato das olarias realizarem suas atividades sem a fiscalização por parte dos órgãos públicos competentes e dos estudos de impactos necessários para se conhecer as repercussões ambientais, socioeconômicas e culturais. A preocupação reside ainda no fato da complexidade ambiental e cultural que caracteriza a cidade de Tabatinga pelos altos índices de área rural com mata primária e a presença da comunidade indígena Tukuna próxima da área urbana. O conjunto de preocupações quanto aos impactos gerados pelas atividades das olarias ensejou a realização deste trabalho que teve como objetivo principal identificar e analisar os impactos ambientais com ênfase nos socioeconômicos e culturais principalmente na comunidade indígena. A pesquisa foi realizada, no período de julho de 2004 a agosto de 2005.
METODOLOGIA:

Foram efetuadas visitas nas duas principais olarias da cidade, nas ocupações circunvizinhas as olarias, nos bairros e na comunidade indígena Tukuna para reconhecimento das áreas e realizar entrevistas com aplicação de questionários. Nas olarias, foram realizadas entrevistas com os proprietários e com os oleiros (trabalhadores das olarias) para se obter informações sobre o método de exploração das argilas, a produção de tijolos, números de funcionários e salários. Além disso, foram realizados também vários percorridos nas áreas de explotação das argilas para registrar os impactos causados como desmatamentos e cavas (buracos). Com os moradores das áreas circunvizinhas foram feitas entrevistas com aplicação de questionários com objetivo de se obter informações sobre os impactos que as olarias causam. Nos bairros a pesquisa se concentrou na observação das construções e entrevistas com aplicação de questionários para conhecer a opção dos moradores pelas construções em alvenaria em vez de madeira. Já na comunidade indígena foram realizadas entrevistas sem aplicação de questionários porque a maioria era analfabeta. O estudo contemplou a identificação e análise dos impactos ambientais com ênfase nos sócio-econômicos e culturais.

RESULTADOS:
Em 2005, cada olaria produzia 150.000 tijolos por mês gerando mais de 50 empregos diretos. A expansão urbana vem ocorrendo atingindo as áreas rurais e até a comunidade indígena com edificações em alvenaria demandando maior produção de tijolos. As casas de madeira vem se transformando em casas de alvenaria porque as pessoas acreditam que as casas de alvenaria são melhores e também devido ao preço da madeira. A rigidez na fiscalização e a repressão sobre madeireiras por parte dos órgãos ambientais levaram a redução da oferta de madeira e a elevação dos preços levando a população a optar pela compra de tijolos na área urbana da cidade. Na comunidade Tukuna as casas outrora de madeira e/ou de palha estão se transformando em casas de alvenaria com telhas de alumínio. Com o passar dos anos, os tukunas tendem a construir suas casas em alvenaria tornando-as mais quentes e descaracterizadas de suas culturas. Como impactos ambientais destacam-se os desmatamentos e as cavas. Dos 90 hectares com vegetação primária das duas olarias 20 já foram desmatadas. As cavas têm servido de acúmulo de água das chuvas e criadores de mosquitos causando nos moradores das áreas circunvizinhas das olarias a desvalorização de seus imóveis e casos de malária que são crescentes assim como outras doenças.   
CONCLUSÃO:

Os desmatamentos e as cavas foram identificados como os principais impactos ambientais. A fumaça, a fuligem e o calor, derivados da queima da madeira, causam poluição atmosférica e danos diretos à saúde principalmente dos trabalhadores das olarias. Além disso, a presença de cavas com acumulo de água tem resultado na desvalorização imobiliária dos imóveis situados próximos das olarias e causando doenças. A presença das olarias vem causando além das alterações econômicas, sociais e de saúde, alterações culturais, pois, muitas das casas dos índios Tukuna, que vivem em uma comunidade próxima, aproximadamente 5km, da área urbana de Tabatinga, que eram de madeira e/ou palha estão sendo aos poucos construídas em alvenaria. Constata-se um conflito cultural e paisagístico na região uma vez que muitos índios gastam seus poucos recursos em material de construção especialmente em tijolos. A escassez da palha e da madeira tem contribuído para essa tendência. Nos bairros periféricos é inevitável a construção em alvenaria ditada pela especulação imobiliária que vem tomando espaço no cenário local. Assim, a presença das olarias além dos impactos ambientais vem causando alterações na paisagem e se por um lado valoriza os imóveis por outro desvaloriza aqueles próximos das olarias.

Instituição de Fomento: FAPEAM
Palavras-chave: Olarias, Impactos, índios.