61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
SELVA SELVAGEM E AMAZONAS, PÁTRIA DA ÁGUA: UMA APROXIMAÇÃO INTERTEXTUAL ENTRE JOSÉ CASEMIRO BORGES E THIAGO DE MELLO
Ivone da Silva Rebello 1
Eliana da Cunha Lopes 2
1. Profª. Drª. - Prefeitura da Cidade de São Gonçalo - RJ
2. Profª. Ms. - Faculdade Gama e Sousa - RJ
INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa tem por objetivo estudar o poema épico Selva Selvagem, de José Casemiro Borges (1898) e a  prosa/poesia Amazonas, pátria da água, de Amadeu Thiago de Mello (1926). Trata-se de uma análise intertextual, que busca vozes textuais, elaboradas segundo a experiência de mundo de cada autor e incorporadas em suas obras. Procura-se identificar e analisar nos corpora em estudo, os recursos intertextuais explícitos e implícitos disseminados nos textos, fundamentando-se teoricamente em Kristeva (1969), Bakthin (1970), Marcuschi (1999, 2002, 2005), Koch (2000, 2004, 2006, 2007), Perrone-Moisés (2005), Barthes (2004), Denis (2002) entre outros. As vozes diluídas nos textos constituem não só conhecimentos lingüísticos (regionalismos), mas, sobretudo, conhecimentos sobre o meio e a cultura do homem e da sociedade amazônica como um todo. Estão presentes na obras os resquícios da colonização portuguesa, os mitos, a fauna, a flora e a própria realidade daqueles que dependem da floresta e do rio, ou seja, “o rio diz ao homem o que ele deve fazer. E o homem segue a ordem do rio”. (Mello) E ainda, “só o caboclo nativo, / criado na intimidade/ da floresta e da fauna/ cujos segredos entende, / penetra o fundo da selva, / como velho conhecido/ e nada o surpreende”. (Casemiro)

 

METODOLOGIA:

Os procedimentos metodológicos foram divididos em três partes. Primeiramente, explorou-se a leitura da obra de José Casemiro e de Thiago de Mello e os textos críticos acerca de ambos. A seguir, selecionou-se das obras os trechos que se inter-ralacionam, confrontando-os. Finalmente, estabeleceu-se, a partir da análise, um levantamento de pontos de contato possíveis entre os dois textos, ou seja, realizaram-se estudos mais profundos dos traços aproximativos, buscando encontrar identidades e diferenças nas relações intertextuais e interdiscursivas nesta interface da literatura amazônica. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, efetivada por abordagem plurimetodológica, tentando encontrar identidades e diferenças nas relações intertextuais e interdiscursivas entre as referidas obras.

RESULTADOS:

Ao confrontarmos as obras em estudo, observamos que Selva Selvagem é um poema épico-lírico, pois o poeta, ao traçar a trajetória de toda senda Amazônica, desde a sua criação no caos (“Há de ter sido do caos... a grandeza da Amazônia...”) até a sua saga como “grande celeiro do mundo” e a sua luta contra “... as máquinas gritando/ vão rasgando na selva/ O homem com seu engenho, / afronta a selva arrogante...”,  vai  enriquecendo seu poema numa atmosfera plástica lírico-sentimental, que faz com que tanto o escritor quanto o leitor percebam a dor da floresta em relação a sua destruição. É legítimo perceber na obra uma admiração pela temática desenvolvida, possibilitando refletir na poesia questões sociais em defesa da floresta, levando, assim, o poema ao engajamento poesia-realidade social.  Seguindo esse mesmo rastro temático em Amazônia, pátria da água,  o poeta nos remete ao local da nascente do Rio Amazonas (“Da altura extrema da Cordilheira, onde as neves são eternas, a água se desprende e traça um risco trêmulo na pele antiga de pedra: o Amazonas acaba de nascer”), perpassando, a seguir, pelos descaminhos da destruição causada pela mão do homem (“A este universo de água e de terra, de rio e de selva, chegou o homem”). O escritor nos apresenta uma obra alternando prosa e verso, cuja narrativa se torna realista e nos remete a um contexto político-social-realista, pois nos mostra o “desejo” tanto do rio quanto da floresta em sobreviver.  Assim, observa-se na obra do escritor o seu engajamento na luta pela preservação da Amazônia e dos povos que nela habitam, tornando a sua obra um espaço de reflexão político-social.

CONCLUSÃO:

Neste trabalho, percebemos uma riqueza intertextual, que abre caminhos para a discussão dos seguintes temas: o sofrimento da floresta, o desespero do homem nativo e a persistência dos ambiciosos. Todos esses temas estão relacionados à região Amazônica. Assim, a intertextualidade vai se constituindo como um fenômeno coletivo e interdependente da relação que se estabelece entre o autor e o leitor, já que instaura entre os mesmos um jogo interativo: o primeiro elabora o seu texto com base em toda a sua experiência cultural, construída no seu meio social. Ao leitor, cabe identificar o propósito do autor e de sua obra, interagir com o mesmo e perceber as vozes que vão sendo formadas a partir da sua escritura. Observamos, então, nos textos analisados, os seguintes níveis intertextuais: intertextualidade com crenças, idéias e engajamento político-social explícitos; intertextualidade com tipos reconhecíveis de linguagem (ex.: regionalismos), de estilos e de gêneros (épico, lírico e narrativo); intertextualidade com recursos linguísticos (exs.: comparações, alusões...). Enfim, os textos literários analisados nasceram a partir desta dádiva da natureza, que “apesar da destruição, do saque de suas riquezas, do florestamento impiedoso, da fauna ameaçada e, sobretudo, do  desamparo do homem ribeirinho – a esperança amazônica resiste” – T. Mello).

 

 

Palavras-chave: Literatura Comparada, Intertextualidade, Literatura Amazônica.