O bairro Pêra fica localizado na margem direita do rio Solimões e o restante é cercado pelo Lago de Coari, tratando-se de uma pequena ilha. O acesso aos demais bairros é feito através de uma ponte de madeira estreita que permite apenas a passagem de pedestres impossibilitando a coleta do lixo por veículo pela prefeitura criando um grande transtorno a vida dos moradores. Apesar de se tratar de um dos menores bairros da cidade e das dificuldades de acesso, a partir da década de 1980 com a exploração do petróleo e gás tem sido uma alternativa para um grande contingente populacional mais pobre devido a especulação imobiliária pelo processo de urbanização que tem ocorrido na cidade de Coari.  Desde a criação do bairro, os moradores têm dificuldades com o destino a dar ao lixo e os problemas se agravam com o passar dos anos, pois o bairro não dispõe de áreas para colocar o lixo e nem é recolhido pela prefeitura para fora do bairro. Este fato ensejou a realização da presente pesquisa que teve como objetivo identificar e analisar o destino que os moradores dão ao lixo domiciliar e orientar os moradores sobre os danos ambientais e de saúde que o lixo pode causar em virtude dos mesmos não possuírem oportunidades de uma aprendizagem sistematizada sobre educação ambiental.  

A pesquisa realizada no período de 08/2007 a 07/2008, foi executada em três fases: na primeira fase para se conhecer a realidade do bairro, foram realizadas visitas de reconhecimento em toda área do bairro e entrevistas com lideres dos moradores e gestores das escolas para se obter informações sobre o bairro e planejar a realização das palestras, no Centro comunitário e nas escolas. Na segunda fase, foram realizadas visitas as residências com entrevistas e aplicações de questionários que permitiram conhecer o destino que os moradores dão lixo e as doenças que os assolam. No posto de saúde do bairro, foram levantadas as principais doenças cadastradas. A terceira fase consistiu nas palestras e foi planejada em duas etapas: uma no inicio do projeto para informar sobre a importância do projeto e os problemas causados pelo lixo e convidar os moradores e estudantes a participarem do projeto e na segunda etapa para apresentar os resultados. Para estimular os presentes, as palestras foram apresentadas de forma lúdica e alegre com apresentação de fantoche e peças teatrais. Durante as entrevistas e nas palestras foram distribuídos folders educativos aos presentes informando em linguagem acessível os problemas causados pelo lixo e as ações alternativas de solução.

O projeto possibilitou a capacitação dos 16 alunos do Instituto de Saúde e Biotecnologia de Coari da Universidade Federal do Amazonas participantes do projeto ao adquiriram posturas críticas conscientes sobre a problemática ambiental e de saúde pública como poluição da água, lixo e a falta de saneamento básico. Os moradores, após as palestras e o debate que se restabeleceu durante as mesmas, começaram a refletir sobre suas atitudes perante o lixo como a disposição inadequada, o manuseio incorreto e os problemas ambientais causados. Foi constatado que um dos principais problemas da comunidade é o lixo, já que não há sistema de coleta e o bairro não dispõe de local apropriado para o depósito e também a ausência de saneamento básico que ocasiona o despejo dos dejetos para os igarapés mais próximos das residências. A maior porcentagem dos moradores 72% queima o lixo, 23% joga no igarapé e 5% coloca na rua para ser recolhido pelos garis da Prefeitura. Apesar de a maioria afirmar que queima o lixo, a realidade mostra que os igarapés que cortam o bairro e as margens do Lago estão cada vez mais tomados por lixo. As doenças apresentadas em 2008, de maior incidência foram: malária 30%, seguido de diarréia 25%, micose 10%, pneumonia 5%, gripe 5% e 25% para outras.

O lixo é o maior problema que os moradores do bairro Pêra enfrentam pela ausência de coleta e de um local para a disposição do mesmo no bairro. As doenças relatadas pelos moradores e cadastradas no posto de saúde podem estar relacionadas com o destino que os mesmos dão ao lixo como jogar no Lago e depois tomar banho nele e queimar no quintal das residências. Durante o projeto se orientou os moradores com informações a respeito do manuseio e acondicionamento do lixo doméstico nas residências fazendo com que os mesmos conhecessem o modo adequado de manusear o lixo domiciliar e a dar um destino adequado. O projeto serviu para provocar mudanças de comportamentos nos moradores principalmente nos jovens por uma melhor qualidade de vida para elevar o nível de consciência sobre os problemas acarretados pelo lixo; estimular a participação social e transformar esses jovens em eficientes multiplicadores de conhecimento para a comunidade como parentes, vizinhos e amigos.  A mudança de hábito é a parte mais importante, pois o cidadão consciente que age gera uma demanda de mudanças. Para os componentes do projeto a contribuição foi de aproximar a universidade da comunidade e a restituir o que se recebe da sociedade, ou seja, o conhecimento adquirido.