61ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação |
A HISTÓRIA DA COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBO DE ABACATAL PELOS ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA MUNIPAL DE BELÉM-PA . |
Madalena Corrêa Pavão 1 |
1. SEMEC |
INTRODUÇÃO: |
Os grupos remanescentes de quilombos, têm lutado pelo reconhecimento de suas terras e sua auto-afirmação. Nessa luta, enfrentam muitos desafios, mas têm contribuído para algumas mudanças favoráveis às suas reivindicações. No campo educacional, as modificações nos currículos escolares inseridas a partir da Lei 9.394/96 e desenvolvidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, referem-se ao reconhecimento das especificidades regionais, propondo conteúdos que contemplem as realidades locais. A Lei 10.639/2003 coloca a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro- Brasileira na Educação Básica, nas escolas públicas e privadas. Contudo, ainda são pouco conhecidas as experiências educativas que colocam em prática o que a legislação prevê. Nesse sentido, em 2007, desenvolvemos um trabalho com estudantes do Ciclo Básico III, de uma escola municipal de Belém – Pará, com o objetivo de “construir” a história da comunidade remanescente de quilombo Abacatal, localizada no município de Ananindeua, no Estado do Pará, a partir dos relatos dos próprios moradores. |
METODOLOGIA: |
Inicialmente, recorremos a uma literatura sobre quilombos no Brasil e em especial na Amazônia (SALLES,1988; ACEVEDO MARIN e CASTRO, 1998, 2004; GOMES, 1996; ARRUTI, 2006), para a fundamentação e elaboração das etapas do processo metodológico. No decorrer das aulas, discutimos o assunto, preparamos as fases do trabalho de campo na comunidade e fizemos um roteiro para nortear as entrevistas com os moradores, visando aproximar os estudantes da realidade vivida pelos mesmos e a conhecer a sua história. A pesquisa consistiu, principalmente, em observar o ambiente, conversar com os moradores, ouvi-los e anotar suas falas. Em sala de aula, para trabalharmos a oralidade, pedimos que narrassem suas observações. Com a “fala” das pessoas da localidade, orientamos os educandos na elaboração e ilustração de textos e ainda, na produção de cordéis para a escrita da história de Abacatal. A correção dos textos foi trabalhosa, mas se deu no coletivo para que a ausência de coesão e coerência, por exemplo, fosse apontada pelos próprios estudantes. Paralelo a este trabalho, montamos um painel de fotografias e orientamos a turma para a exposição oral na mostra cultural da Escola. |
RESULTADOS: |
Os resultados indicam que a aproximação dos estudantes com a comunidade, a observação daquele espaço e as conversas com os moradores, despertou neles interesse pelos conteúdos da disciplina História, tornando-se mais participativos e questionadores. O trabalho desenvolvido contribuiu significativamente para a compreensão dos estudantes sobre: as várias formas de constituição dos quilombos e o conceito de quilombo na contemporaneidade, bem como para o entendimento de como o modo de vida, as práticas de sobrevivência, as manifestações culturais, a preservação dos valores e tradições deixados pelos ancestrais e a memória de sua historia contribuem para afirmar a identidade daquele grupo. Além disso, possibilitou aos educandos vivenciarem diversas práticas de leitura, escrita e apresentarem sugestões para a organização e apresentação dos trabalhos. A Mostra Cultural da Escola serviu como indicador de resultado, pois as crianças falaram do trabalho com segurança e desenvoltura, o que lhes rendeu elogios dos pais e visitantes. |
CONCLUSÃO: |
Ao iniciarmos o estudo sobre quilombos na Amazônia, verificamos que os estudantes percebiam quilombo como algo preso num passado muito distante, sem nenhuma conexão com o presente. O livro didático era a única referência de leitura e não abordava as especificidades amazônicas. Como ansiávamos a ampliação da compreensão de quilombo contemporâneo, tomamos a iniciativa de aproximar os conteúdos da disciplina com a realidade não apenas para torna as aulas mais interessantes, mas para envolver as crianças na produção do conhecimento. Com o desenvolvimento deste trabalho constatamos o potencial criador dos discentes da escola pública, comprovando que com seriedade e compromisso é possível ensinar/educar partindo das experiências dos estudantes enquanto sujeitos históricos. Para finalizar, podemos dizer que o trabalho teve saldo positivo, pois a Mostra Cultural tornou-se um momento de disputa: todos queriam “contar” a história. Pela primeira vez, naquele contexto, o quilombo amazônico estava entrando na escola de forma significativa. |
Palavras-chave: HISTÓRIA, QUILOMBO, EDUCAÇAO. |