As atuais políticas educacionais voltadas para a formação de professores trazem, na sua essência, as necessidades de mudanças, impostas pelas transformações do mundo global e se complexificam, não como uma opção, mas como necessidade emergente.

O estudo foi realizado junto aos professores de quatro escolas quilombolas localizadas nos municípios de Campos dos Goytacazes e Quissamã, no norte do Estado do Rio de Janeiro. Foi uma pesquisa de campo de cunho qualitativo desenvolvendo-se em três momentos em função dos objetivos propostos.

O primeiro momento – levantamento bibliográfico sobre a organização dos quilombos  em questão, buscando compreender e contextualizar a época  em que se iniciou o processo de escolarização nestas comunidades, identificando também características dos primeiros professores que atuaram nestas “escolas”.

O terceiro momento objetiva discutir a Identidade do Professor que atua em Comunidades formada pela raça negra, numa perspectiva de inclusão, tendo como base as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnicos- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Essa discussão será desenvolvida com os responsáveis pela formação profissional das licenciaturas do Instituto Federal Fluminense. Esta etapa da pesquisa ainda não foi desenvolvida.

Ao analisarmos as respostas obtidas com os questionários que foram aplicados em quatro unidades escolares de dois municípios do norte do Estado do Rio de Janeiro, dos quinze respondentes, onze entendem que o fator que mais afeta o ensino é a desvalorização docente e doze professores responderam que se pudessem mudariam de profissão. Nessa possibilidade de nova profissão, as opções que apareceram foram: enfermagem, direito, odontologia, medicina, jornalismo, secretariado, informática e piloto de Rally. Os resultados evidenciam que há um sentimento de inferioridade, desgaste profissional resultante da crescente banalização da categoria que vem gerando crise de identidade, apesar de reconhecerem o nível de relevância da profissão docente para a sociedade brasileira. Ficou evidente também a indiferença com a cultura de origem dos alunos. Apesar de existirem legislações sobre a obrigatoriedade do reconhecimento da contribuição da cultura afro-descendente como matriz de formação do povo brasileiro e mesmo estes docentes afirmando ser necessário o cumprimento destas leis, contraditoriamente suas práticas docentes se distanciam das exigências legais. Não foi encontrado em nenhuma das escolas pesquisadas ação pedagógica que aponta para a valorização das diferenças étnico-raciais. O destaque se acentua não apenas pela localização destas escolas, que além do cumprimento das exigências legais, deveriam contextualizar suas práticas com as raízes históricas da comunidade.

Dado o exposto, consta-se que a desvalorização da profissão docente vem comprometendo o valor que o professor atribui à sua própria profissão, sobrecarregando-a de identidades. O próprio status de professor, tão valorizado em épocas passadas, com as influências do mundo pós-moderno, vem se esvaziando, deixando estes profissionais vulneráveis a buscar outras possibilidades de trabalho, que em sua maioria são mais valorizadas socialmente. Tratando-se de professores de comunidades quilombolas e a obrigatoriedade de resgatar as matrizes da formação do povo brasileiro, o desconhecimento das bases legais por parte dos docentes e a indiferença destes profissionais com a contextualização no processo ensino-aprendizagem demonstram como essas identidades docentes estão sendo construídas na contemporaneidade e as consequências para as futuras gerações de docentes e discentes.