61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 3. Cinema
IMAGENS DA AMAZÔNIA NO CINEMA HEGEMÔNICO INTERNACIONAL. O ORIENTE, O SELVAGEM E A NATUREZA.
Gustavo Soranz Gonçalves 1
1. Centro Universitário do Norte - Uninorte/Laureate International Universities
INTRODUÇÃO:
Apresentamos aqui os resultados de uma pesquisa empírica sobre as representações da Amazônia no cinema. Inicialmente buscamos identificar a gênese social do conceito de Amazônia para empreender uma análise de como as noções recorrentes sobre a região tem raiz histórica e socialmente construída, sendo parte de um discurso que remete ao projeto colonial europeu sobre o chamado Novo Mundo. Para Boaventura de Souza Santos (2006), existem três categorias explicativas fundamentais para entender o projeto colonial europeu para as Américas, são elas: o Oriente, o Selvagem e a Natureza. A utilização dessas categorias para analisar exemplos concretos da representação da Amazônia no cinema hegemônico internacional, notadamente o cinema de ficção de longa-metragem, ajudam a compreender como o cinema reiterou e difundiu pela história o discurso exotizante sobre a região, consolidando certo conceito de Amazônia no imaginário ocidental.
METODOLOGIA:
Partimos de uma concepção discursiva da cultura, onde esta se coloca como uma prática localizada no tempo e no espaço. Realizamos um breve itinerário na história da construção das idéias acerca da região, identificando matrizes de sua representação em diferentes narrativas. Tal proposta passa por valorizar o percurso intelectual de autores que se lançaram ao desafio de repensar criticamente as noções construídas em relação à Amazônia, sendo este um esforço relativamente recente de revisão da análise dos processos socioculturais historicamente constituídos na região. Identificamos idéias fundadoras do discurso sobre a Amazônia nos relatos dos cronistas de viagens do século XVI, que revelam como a região amazônica sintetiza os elementos do imaginário colonial europeu sobre o chamado Novo Mundo. A partir do século XX, o cinema assume o papel de ser um dos mais importantes veículos de consolidação das imagens estereotípicas sobre a Amazônia, difundindo um imaginário sobre a região que foi construído à priori, sem revelar seu mundo histórico e sua realidade empírica, reafirmando os mitos originais. Para a exemplificação dessa hipótese analisamos os filmes Creature from the Black lagoon (1954), Canibal Holocaust (1980) e Anaconda (1997), às luzes das categorias de Santos (2006).
RESULTADOS:
Nas categorias propostas por SANTOS (2006), O Oriente seria tudo aquilo que é distante, desconhecido e, portanto, misterioso. Refere-se a uma condição conceitual e não geográfica. A categoria Selvagem contempla as feras e animais, mas também o elemento humano, sintetizando o estranhamento do europeu frente a uma alteridade que abalava todas suas certezas acerca do mundo. Tais categorias em relação à Amazônia estão concretizadas em filmes como: Creature from the Black lagoon (1954), onde uma expedição científica viaja pelo rio Amazonas à procura de fósseis e acaba descobrindo um monstro anfíbio pré-histórico; Canibal Holocaust (1980), que mostra a viagem de uma equipe até a floresta amazônica em busca de rolos de filmes perdidos da produção de um documentário, que contém cenas de extrema violência, estupros e canibalismo, promovidos pelos nativos selvagens em retaliação à exploração dos cineastas e Anaconda (1997), onde um grupo navega pela Amazônia para realizar um documentário sobre uma misteriosa tribo indígena e é surpreendido por um caçador de cobras que está atrás da cobra gigante conhecida como Anaconda, que passa a persegui-los. Essas tramas têm um discurso eurocêntrico e reforçam clichês sobre a Amazônia, difundindo um imaginário exótico sobre a região.
CONCLUSÃO:
A Amazônia é uma categoria que abarca uma série de representações distintas, até contraditórias, que vão da idéia de um paraíso na Terra à de inferno verde. Estas mudam na história de acordo com quem as utiliza, em que condições e em quais relações. Entretanto, elas naturalizam categorias construídas historicamente, tomando os significados já colocados para aquilo que é um conceito empírico, reiterando discursos preexistentes. Ela permanece como um conceito em sua representação no cinema hegemônico. É uma região idealizada, ressaltando o exótico, onde geralmente não há referência ao mundo histórico, ignorando suas especificidades socioculturais. Em diferentes épocas foi um lugar privilegiado de representação dos exotismos e bestialidades de um mundo selvagem e natural, permanecendo na história do cinema como uma categoria em si, independente de realidades nacionais, políticas, sociais ou culturais. Podemos notar como o cinema foi um veículo privilegiado de difusão da representação da Amazônia como a de uma região sem história e fora da história, pois uma região tomada pelos atributos imaginários a ela relacionados à priori, difundindo discursos que reiteram mitos fundamentais sobre a região, contribuindo para a manutenção de seus estereótipos nos discursos hegemônicos.
Palavras-chave: Cinema, Amazônia, representação audiovisual.