O estudo sobre as práticas discriminatórias de meninos e meninas existentes no cotidiano de sala de aula, surgiu a partir da observação de comportamentos, falas, gestos e posturas do masculino com relação ao feminino e vice-versa (Bourdieu, 1999). Pretendemos refletir juntamente com as crianças sobre situações onde apareçam as práticas discriminatórias, permitindo  que se pense em atividades pedagógicas que contribuam para a construção de novas posturas, incluindo nas relações de gênero, o respeito, a igualdade de direitos e deveres, buscando a formação de uma sociedade mais justa e humana dentro da comunidade em foco.

Este estudo foi realizado na Escola Municipal Vila Operária do Recife, numa turma do 3º ano do 1º ciclo (2ª série), com um grupo de 30 alunos(as). Inicialmente, realizamos a observação na sala de aula de crianças que ofendiam umas às outras com expressões e posturas tais como: “menino não chora”, “mulher foi feita pra apanhar,” “o homem trabalha e a mulher cuida da casa”, “o homem é forte e a mulher é fraca”. Na etapa posterior realizamos um grande debate com a turma sobre o que foi observado. Surgiram alguns comentários a partir das reações que as crianças atingidas demonstravam. Num dia combinado com a turma, foram espalhadas pela sala de aula várias figuras e frases de homens e de mulheres que de alguma forma reforçavam a ideologia machista e de submissão das mulheres. Da apreciação das figuras e frases anteriormente analisadas, sugerimos a reflexão em cima de tudo que tinha sido visto, para facilitar o processo de produção textual individual e coletivo.

Os resultados obtidos foram notadamente percebidos a partir da construção de um novo modo de pensar, falar e agir, facilitando uma melhor convivência entre meninos e meninas num ambiente norteado pelo respeito e pela valorização das relações de gênero. Entendendo que é possível viver buscando a promoção da equidade de gênero no cotidiano escolar.

Concluímos que a promoção de reflexões em torno de expressões e posturas num ambiente de sala de aula, onde práticas discriminatórias eram facilmente percebidas, é antes de tudo contribuir para que tanto meninos e meninas passem a viver de maneira respeitosa, valorizando as diferenças entre homens e mulheres, compartilhando experiências que despertem em ambos os sexos o desejo de construir uma educação não-sexista a partir do que foi aprendido. É importante, também, ressaltar a presença da professora neste processo, como mediadora entre, os meninos e as meninas ajudando a resolver as situações  de conflito, motivando- os /as à reflexão para mudar essa realidade.