61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
VARIÁVEIS AMBIENTAIS RELACIONADAS À PROLIFERAÇÃO DO VETOR DA MALARIA
Abel Santiago Muri Gama 1
Helder Manuel da Costa Santos 1
Jocilene Guimarães Silva 1
1. Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da Universidade Federal do Amazonas
INTRODUÇÃO:

A malária é uma das doenças que mais contribui para a decadência do homem da Região Amazônica. No Município de Coari, situado no Médio Solimões do Estado do Amazonas, a incidência parasitaria anual (IPA) de malária é alta. Embora, o sistema de saúde do município faça há vários anos atividades de controle baseadas no diagnóstico e tratamento, a malária permanece ainda sem controle. Como é uma doença complexa produto da interação entre parasita, vetor, hospedeiros humanos e o meio ambiente, são imprescindíveis estudos que compreendam todos esses fatores para se tentar controlá-la. A combinação de fatores humanos com informações ambientais relevantes à biologia da doença pode permitir entender melhor uma situação epidemiológica de risco, facilitando a ação dos serviços de saúde. Dessa maneira se faz importante à análise das variáveis ambientais sobre as áreas de incidência e as condições sociais e antrópicas que poderiam favorecer a proliferação do vetor e a exposição de grande quantidade de pessoas à doença. Assim, este trabalho teve como objetivo definir os principais fatores ambientais, sociais e antrópicos relacionados com o desenvolvimento da malária em áreas de maior incidência.

METODOLOGIA:

A pesquisa consistiu inicialmente no levantamento e análise de dados secundários de casos de malária e pluviométricos referentes ao período de 2003 a 2007. O número de casos de malária e os dados de precipitação foram correlacionados e permitiu identificar através de gráficos a relação entre as precipitações e os casos de malária com os anos, meses e sazonalidade. Os dados de malária, obtidos na secretaria municipal de Saúde, permitiram conhecer a distribuição dos casos de malária no município bem como serviu para definir o bairro de maior incidência. Os de precipitação, obtidos na estação meteorológica de Coari, os meses de maior ou menor índice pluviométrico. Todavia, o conjunto dos dados estatísticos, embora fundamental, foi submetido à análise qualitativa produzida a partir de trabalho de campo. O trabalho de campo foi realizado após a definição do bairro com maior incidência e compreendeu visitas para identificar in loco os fatores ambientais como drenagem com ênfase nos locais de represamento de água, forma do terreno etc, as condições sociais e a ação antrópica envolvendo a ocupação do solo e o destino do lixo dado pelos moradores que são responsáveis pela proliferação dos mosquitos especialmente da malária.

RESULTADOS:

O bairro Pêra foi definido como o de maior incidência de casos de malária dentre os bairros da cidade de Coari. Ao correlacionar o número de casos de malária com os índices pluviométricos foi observado que os meses de menor precipitação correspondem com os meses de maior incidência de malária. Esta constatação pode estar relacionada com o ciclo de reprodução do mosquito Anopheles no bairro, uma vez que, com a baixa do rio, ocorre o aumento de áreas represadas, ambiente propício à reprodução dos Anophelinos, o que poderia aumentar a população do vetor e, por conseqüência, o aumento no número de pessoas acometidas por malária. Nos meses que correspondem o período de estiagem especialmente o mês de agosto com a diminuição dos índices pluviométricos e consequentemente com abaixamento das águas do rio Solimões e principalmente do Lago de Coari ocorre a redução do movimento das águas nos pequenos canais fluviais que são vários e cortam o bairro, gerando locais com água estagnada pelo mato e lixo jogado pelos moradores. Além disso, nas duas últimas décadas, o bairro apresentou aumento substancial de seus moradores provocando a expansão, principalmente dos mais pobres, para áreas próximas dos canais (depressões) ficando mais expostos aos locais de reprodução do mosquito da malária.

CONCLUSÃO:

As precipitações influenciam na reprodução do vetor, pois ao correlacionar o número de casos de malária do bairro Pêra com os índices pluviométricos foi observado que os meses de menor precipitação correspondem com os meses de maior incidência dos casos de malária. A fixação dos moradores nas áreas próximas dos canais, que no período de cheias, ficam tomadas por água em movimento e nos meses de estiagem, como o mês de agosto, transformam-se em áreas de águas estagnadas pelo mato e lixo jogado pelos próprios moradores e tende com isso a intensificar o contato dos moradores com o vetor da malária tornando-os propensos a serem acometidos pela malária. É importante destacar que no inicio das cheias, ocorre também um número significativo de casos de malária, pois com a elevação do nível das águas do Lago invadem os canais do bairro gerando a circulação da água e originando sítios de reprodução. Mas, os fatores agravantes na transmissão da malária são: a água estagnada e a proximidade das residências com os locais de reprodução do vetor. Este estudo alerta para a necessidade de se entender melhor as características ambientais e a dinâmica de transmissão da infecção e a ação antrópica de cada área da complexa região Amazônica.

Instituição de Fomento: CNPQ
Palavras-chave: Malaria, Fatores ambientais, Coari .