61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 7. Enfermagem
COMPORTAMENTO SEXUAL DE MULHERES LAQUEADAS
Diego Jorge Maia Lima 1
Maria Leonor Costa de Moraes 1
Ana Izabel Oliveira Nicolau 2
Priscila de Souza Aquino 3
Ana Kelve de Castro Damasceno 4
Ana Karina Bezerra Pinheiro 4
1. Graduandos em Enfermagem-UFC/Bolsistas do Programa de Educação Tutorial-PET
2. Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestranda em Enfermagem. Bolsista FUNCAP
3. Universidade Federal do Ceará(UFC).Doutoranda em Enfermagem.Bolsista REUNI/CAPES
4. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto da Universidade Federal do Ceará-UFC
INTRODUÇÃO:
O Brasil é responsável por um dos maiores índices de esterilização feminina do mundo. Tal situação remete à reflexão de como a escolha desse método está se processando, pois se trata de um método cirúrgico que ocasionará mudanças irreversíveis na vida do casal. Diante dessa realidade, pesquisas têm focalizado as inúmeras repercussões que a laqueadura tubária pode ocasionar, sendo as mais marcantes o arrependimento, alterações de saúde em geral e aumento do risco de aquisição de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) favorecido pela maior liberdade sexual e segurança de não engravidar. A enfermagem tem um papel de suma importância a ser desempenhado junto a essas mulheres, uma vez que realiza ações de planejamento familiar na melhoria da saúde sexual e reprodutiva dessa população. Perante este panorama, o estudo teve como objetivos caracterizar o comportamento sexual de mulheres laqueadas e investigar a presença de associação entre variáveis sócio-demográficas e sexuais, com vistas a identificar suas principais vulnerabilidades, compreendendo o contexto na qual estão inseridas e os aspectos envolvidos na vida sexual de quem elege esse método cirúrgico.
METODOLOGIA:
Estudo retrospectivo, documental, quantitativo, desenvolvido no Centro de Parto Natural Lígia Barros Costa (CPN), unidade de atenção primária no acompanhamento pré-natal e de saúde sexual em Fortaleza (CE), cujo atendimento é prestado por acadêmicos e profissionais de Enfermagem. Investigou-se o método contraceptivo registrado nos prontuários das consultas de enfermagem em ginecologia, datados de abril de 2005 a junho de 2008, somando 1423. Desse total, 909 mulheres utilizavam algum método contraceptivo, sendo que 277 eram laqueadas, compondo a amostra do estudo. Os dados foram armazenados no programa Excel for Windows e analisados pelo Statistical Package for Social Sciences for Personal Computer (SPSS-PC), versão 14.0. A primeira etapa da análise consistiu na descrição de freqüências, médias e desvio padrão. Posteriormente, investigou-se a existência de associações entre os dados de identificação e sexuais pelo teste qui-quadradro de Pearson, considerando significativas quando o valor de p (probabilidade) for menor ou igual a 0,05. Foram respeitados os aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, de acordo com a Resolução 196/96. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade federal do Ceará, sob protocolo nº 315/05.
RESULTADOS:
As participantes eram maiores de 21 anos, com média de idade de 40,19 anos. Salienta-se que quase metade, 38 (47%), se esterilizou até 30 anos e 14 (17,3%) antes dos 25 anos, denotando grandes riscos de arrependimento. O nível de escolaridade demonstrou um resultado preocupante, pois 164 (76,6%) mulheres possuíam apenas até o ensino fundamental completo, sendo 27 (12,6%) analfabetas. Quanto à situação conjugal, a maioria 167 (71,7 %), referiu viver maritalmente. A idade da coitarca apresentou uma média geral de 17,41, sendo que de 263 mulheres, 209 (79,5%) tiveram sua primeira relação na adolescência, o que demonstra um início precoce da vida sexual. Esta variável apresentou associação significativa (p=0,001) com a idade da menarca, apontando que 100 (65,3%) mulheres cuja menarca ocorreu até os 13 anos iniciaram a vida sexual até os 17 anos. O número de parcerias sexuais apresentou predominância de mulheres, 124 (54,1%), com único parceiro ao longo da vida. Apesar dessa pouca variedade, dados de tratamento pregresso de DST revelaram que 81 (32,5%) mulheres já o realizou, sendo acompanhado da baixa adesão do emprego do preservativo, apenas 20 (7,2%), especialmente entre mulheres unidas maritalmente, uma vez que o uso do preservativo esteve associado (p=0,001) ao estado marital.
CONCLUSÃO:
As características de identificação encontradas mostraram-se semelhantes a de outras investigações com mulheres laqueadas, compondo uma população, em sua maioria, casada ou unida consensualmente e com baixo nível de escolaridade. Alguns dados relativos ao perfil ginecológico demonstraram um início precoce da vida sexual, história de estabilidade e pouca variedade das parcerias sexuais. Porém as DST mantiveram uma alta prevalência, acompanhadas da baixa utilização do preservativo. Portanto, a preocupação puramente contraceptiva, solucionada pela realização da laqueadura, provocou uma negligência na promoção da saúde sexual, evidenciado pelo alto índice de infecções sexualmente transmissíveis apesar da prevalência de única parceria sexual. Destarte, trata-se de uma população vulnerável, carente de uma assistência em planejamento familiar que ressalte não somente a solução dos problemas relativos ao controle da prole, mas que enfatize a adoção de atitudes saudáveis para a garantia de uma vida sexual segura. A Enfermagem deve continuar atuando no estabelecimento de estratégias de aconselhamento e orientação ao casal candidato a esterilização cirúrgica, a fim de melhorar o perfil de saúde sexual e reprodutiva, além de oferecer maior segurança e autonomia nas escolhas.
Instituição de Fomento: Secretaria de Ensino Superior - Programa de Educação Tutorial
Palavras-chave: Enfermagem, Esterilização Tubária, Comportamento sexual.