61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 7. Teorias da Comunicação
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA: ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS REVISTAS VEJA E CARTA CAPITAL.
Juliana de Oliveira Vicentini 1
Laila Caroline Zamboni Fraccaro 1
Mariana Piva da Silva 1
Renato Pellegrini Morgado 1
Antônio Ribeiro de Almeida Júnior 1
1. Universidade de São Paulo - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
INTRODUÇÃO:
A Amazônia é um bioma de grande biodiversidade, alvo de muitos interesses e de diversos conflitos com relação à utilização de seus recursos e a demarcação de suas terras. Não é difícil entender que estas controvérsias sejam transformadas em notícias. A taxa de desmatamento na Amazônia Legal tem aumentado e diminuído ao longo dos anos em função de uma variedade de forças econômicas, políticas e sociais (FEARNSIDE, 2006). As conseqüências do desmatamento da floresta amazônica podem ser inúmeras, entre elas estão: a perda de biodiversidade, a erosão, a compactação do solo e a exaustão de seus nutrientes. Tendo em vista a importância das discussões acerca da problemática ambiental e da Amazônia, a mídia pode distorcer as informações sobre estas questões, o que evidencia a existência de filtros (HERMAN E CHOMSKY, 2003). De acordo com estes autores, existem cinco filtros: o porte, a propriedade e a orientação para os lucros; a dependência em relação aos anunciantes; a relação com as fontes de informação; as ameaças e reações negativas dos afetados pelas notícias e uma postura pró-mercado; que provocariam uma distorção sistemática das informações. Este trabalho visa verificar como as notícias sobre o desmatamento na Amazônia têm sido veiculadas nas revistas Veja e Carta Capital.
METODOLOGIA:
Para este trabalho foi realizada análise de conteúdo das Revistas Veja e Carta Capital publicadas no período de maio a outubro de 2008. Segundo Bardin (2008) a análise de conteúdo se refere a “um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens”. A análise de conteúdo para comunicação escrita possui três etapas fundamentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. Além disso, houve a codificação, classificação e categorização. Finalmente, por meio de técnicas quantitativas e qualitativas se condensou os resultados na busca de padrões, tendências ou relações implícitas (GODOY, 1995). O material selecionado foi categorizado e o foco de estudo foi o desmatamento. Para a análise de conteúdo, foram selecionadas matérias, notas, cartas, colunas, frases e enquetes sobre o tema. Procedeu-se à quantificação do espaço dedicado ao assunto dentro das revistas, de suas fontes e demais temáticas associadas ao desmatamento.
RESULTADOS:
Foram analisadas 4.270 páginas da Revista Veja e 1.956 da Carta Capital. O desmatamento foi o tema mais abordado entre todos os referentes à Amazônia, apresentando uma freqüência de 58% e 40% nas Revistas Veja e Carta Capital respectivamente. Cabe ressaltar, que 5 destas 13 páginas da Revista Carta Capital constituíam um caderno especial de lançamento da revista “Sustenta!”, que abordará temáticas ambientais. O espaço ocupado pelo desmatamento representou apenas 0,08% das páginas totais analisadas da Revista Veja, e 0,45% da Revista Carta Capital, incluindo o caderno especial citado anteriormente. Em relação ao total de material sobre o assunto tem-se que para a Revista Veja, 55% do material sobre o desmatamento ocupa menos que um quarto de página e, para a Revista Carta Capital, 50% de suas abordagens ocupam mais que uma página. Com relação às fontes citadas nos textos analisados sobre o desmatamento, na Revista Veja houve predominância de fontes governamentais e na Revista Carta Capital, estas mesmas apareceram em igual número de vezes que as ONG’s. Além dos resultados anteriores, foram identificadas algumas associações feitas ao desmatamento como: pecuária, agricultura, extração de madeiras, assentamentos, fiscalização, legislação e práticas sustentáveis.
CONCLUSÃO:
Os resultados demonstram que em ambas as revistas o tema desmatamento é o mais freqüente e o que ocupa um maior espaço dentre todos os temas relacionados à Amazônia. Por isto, inferimos que, na visão dos veículos estudados, este seja considerado o principal problema ambiental da região. É incipiente o uso de fontes relacionadas aos atores locais, o que demonstra o silenciamento dos mesmos. Na revista Veja, nota-se uma intensa fragmentação dos textos que tratam do desmatamento, já a revista Carta Capital aborda o assunto de forma mais extensa. Em ambas as revistas, o assunto ocupa proporcionalmente um espaço muito pequeno. Na revista Veja, o percentual do espaço é 5 vezes menor do que na revista Carta Capital. Desta forma, os resultados apontam para um ocultamento das questões relacionadas ao desmatamento na Amazônia, sendo um indício de filtragem das informações, propiciando uma distorção sistemática das mesmas. Por ser um tema de extrema complexidade, tratar o desmatamento da Amazônia de modo fragmentado pode induzir a opinião pública a equívocos. A distorção das informações pode ocasionar um julgamento inadequado, empobrecendo e enfraquecendo a cobrança por mudanças da atual situação, favorecendo as praticas dos agentes que causam o desmatamento.
Palavras-chave: Mídia, Amazônia, Desmatamento .