Os Triatominae se revestem de importância epidemiológica por veicularem Trypanosoma cruzi ao homem e a um grande número de espécies de vertebrados domésticos e silvestres.  Embora a incidência da doença de Chagas tenha diminuído, estima-se que na América Latina existam 15 milhões de infectados. Dessa forma, os estudos dos triatomíneos continuam necessários, dada a ampla dispersão dos mesmos pela região Neotropical. Admite-se a existência de 143 espécies, todas potencialmente transmissoras de T. cruzi. A caracterização dessas espécies se faz necessária de modo a nortear as ações de controle, bem como para os estudos taxionômicos e filogenéticos. A distinção específica pauta-se em caracteres morfológicos, dentre os quais a descrição da genitália masculina. Embora seja bastante utilizada para distinção específica de alguns gêneros de vetores, a genitália feminina tem sido pouco utilizada nos Triatominae. Nesse aspecto, podem-se salientar os estudos de Abalos y Wygodzinsky, 1951; Sherlock e Serafim, 1967; Lent e Jurberg, 1969; conduzidos por microscopia óptica. Neste estudo descrevem-se as genitálias femininas de Panstrongylus herreri, P. megistus, Rhodnius colombiensis, R. prolixus, Triatoma infestans e T. vitticeps por meio de microscopia eletrônica de varredura.

Três exemplares de cada espécie, mantidos em colônias no Insetário de Triatominae da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, foram mortos e cortados transversalmente no sexto segmento abdominal, lavados, desidratados em série alcoólica e secos em estufa a 50° C. Posteriormente foram colados pelo sexto segmento abdominal em toros de alumínio, de modo que a porção terminal formasse com a base do suporte um ângulo de 90º. A seguir procedeu-se a metalização por “sputtering” durante dois minutos com potência de 10mA. Após essa operação as faces dorsais, ventrais, laterais e terminais foram examinadas em microscópio eletrônico de varredura.

Os últimos segmentos abdominais de P.herreri, P. megistus, T. infestans e T. vitticeps  terminam de forma cônica, ao passo que em R. colombiensis e R. prolixus de forma abrupta. O exame da porção terminal observada em ângulo de 90° mostra que a distinção principal entre as seis espécies, quanto às genitálias femininas, ocorre no 9º segmento dorsal. Em R. prolixus o 9° segmento apresenta a forma trapezoidal, enquanto que em R. colombiensis triangular. Em T. infestans o 9º segmento apresenta-se divido na porção inferior e não na superior, enquanto que em T. vitticeps percebe-se o 9º e 10º segmentos dorsais em forma de calha nitidamente separados. P. herreri e P. megistus também apresentam o 9° segmento dorsal totalmente separado do 10º. P. herreri apresenta os dois ápices laterais superiores do 9º segmento dorsal em formato distintos e maiores que em P.megistus. O comprimento do 9º segmento dorsal de P. herreri equivale à metade do apresentado por P. megistus, enquanto que as larguras são equivalentes. O 10º segmento dorsal de P. megistus é cerca de 1,5 vez mais comprido que o de P. herreri. O 8º segmento ventral das seis espécies apresenta-se disposto em pares. Lateralmente o 8º segmento ventral apresenta-se arredondado em P. herreri, enquanto que triangular em P.megistus.

As estruturas identificadas na genitália feminina dessas seis espécies por microscopia eletrônica de varredura sugere que esse carater pode contribuir para o estudo taxonômico e filogenético das demais espécies admitidas para a subfamília Triatominae. Das seis espécies estudadas P. herreri e P. megistus apresentaram maior número de estruturas que as diferenciam quanto à genitália feminina.