61ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana |
O CEMITÉRIO DA SOLEDADE COMO TERRITÓRIO SIMBÓLICO |
Marlon Lima da Silva 1 Danusa Di Paula Nascimento da Racha 1 Romilson dos Santos Alcântara 1 |
1. Universidade Federal do Pará/UFPA |
INTRODUÇÃO: |
Situado na avenida Serzedelo Corrêa, no centro de Belém (PA), o cemitério Nossa Senhora da Soledade, criado ainda no século XVIII, apresenta características simbólicas e arquitetônicas específicas que o difere dos demais cemitérios da cidade. Dentre essas características, será destacado nesse trabalho o poder simbólico presente no cemitério, a partir da análise do culto aos mortos santificados, mas não canonizados pelo catolicismo oficial, enfatizando, a importância que o simbolismo contido nesse cemitério assume na medida em que incentiva seus freqüentadores a reivindicarem melhorias nas condições físico-estruturais as quais o Soledade se depara. Neste sentido, torna-se imprescindível o entendimento do conceito de território simbólico, bem como a prática do estudo de campo que visa, dentre outras coisas, a compreensão do ponto de vista dos freqüentadores do cemitério. |
METODOLOGIA: |
Esta pesquisa foi desenvolvida ao longo da disciplina Antropologia Cultural, sob orientação da professora Mariléia Nobre, no curso de graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará. O objetivo geral da disciplina consiste em evidenciar a importância que assume a pesquisa de campo antropológica, destacando, sobretudo, o ponto de vista dos nativos (no caso, os freqüentadores do cemitério Soledade) nos estudos de Geografia Humana. Assim, a metodologia empregada utilizou-se de visitas periódicas a campo no intuito de primeiramente realizar uma observação geral do cemitério (como, por exemplo, sua estrutura física, bem como a quantidade de freqüentadores). Em seguida, realizou-se entrevistas quantitativas e qualitativas com os freqüentadores do Soledade, visando, com isso, a elaboração de uma tabela com dados referentes às características simbólicas que fazem do Soledade um cemitério de múltiplas representações. Além da pesquisa de campo, desenvolveu-se, também, um levantamento bibliográfico e documental realizado no CENTUR (Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves) das poucas obras que contam a história desse cemitério. |
RESULTADOS: |
O cemitério Soledade, construído ainda no século XVIII, apesar de não receber mais sepultamentos desde 1880 e de se encontrar com problemas físico-estruturais, apresenta um movimento intenso de freqüentadores que, em sua maioria, direcionam-se até o local não somente para visitar entes queridos, mas, sobretudo, para realizar orações em torno de sepulturas que consideram como milagrosas. De acordo com as entrevistas realizadas, verificou-se que uma parcela significativa dos freqüentadores do Soledade obteve graças a partir das orações realizadas ao entorno das sepulturas de Raimunda Picanço, da réplica do túmulo de Escrava Anastácia, dentre outras. A partir desse modelo de apropriação, norteado pelo poder simbólico, o Soledade se diferencia dos demais cemitérios de Belém, apresentando, com isso, características particulares que lhe confere múltiplas representações. |
CONCLUSÃO: |
Tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1964, o cemitério da Soledade destaca-se, sobretudo, pelo freqüente culto aos mortos santificados, mas não canonizados pelo catolicismo oficial. A partir da análise, decorrente do trabalho de campo, dessa prática de apropriação e valorização do cemitério, verifica-se a importância que o poder simbólico assume na mobilização de reivindicações realizadas pelos seus freqüentadores no intuito de cobrar, exigir dos órgãos competentes melhorias nas condições físico-estruturais do Soledade. Com isso, considerando o ponto de vista de seus freqüentadores, evidencia-se o caráter de território simbólico do cemitério da Soledade. |
Instituição de Fomento: MEC-SESu (PET-GEOGRAFIA) |
Palavras-chave: mortos santificados, poder simbólico, território simbólico. |