Espécies da família Rubiaceae são dominantes no sub-bosque de florestas neotropicais, constituindo importante fonte de recursos para animais que atuam em sua polinização e/ou dispersão de sementes. Rubiaceae também se destaca por ter o maior número de espécies distílicas, caracterizadas morfologicamente por indivíduos do morfo brevistilo, onde as anteras localizam-se acima do estigma, e do longistilo, com as anteras posicionadas abaixo da região estigmática. Apesar de seu domínio no sub-bosque da Floresta Amazônica, há apenas um estudo documentando a biologia reprodutiva de duas espécies de Rubiaceae na Amazônia Brasileira. O presente estudo teve como objetivo a caracterização da biologia reprodutiva de Psychotria brachybotrya DC. (Rubiaceae) no sub-bosque de floresta primária na Amazônia Central.

O estudo da biologia reprodutiva de Psychotria brachybotrya DC. (Rubiaceae) foi conduzido no sub-bosque de floresta primária na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas (2º 38’ 57,6”S 60º 3’ 11”W, 96 m altitude) distante 38 km da cidade de Manaus, Amazonas, nos períodos de Janeiro a Março de 2007 e 2008. Foram marcadas 55 plantas, sendo 28 longistilas e 27 brevistilas com distância entre os indivíduos de 10-200 metros. Observações foram conduzidas acerca da longevidade das flores e horário da antese em 20 flores de cada morfo, bem como sobre a disponibilidade de recursos florais. A presença de osmóforos foi testada através do uso de vermelho neutro em 30 flores de cada morfo. Dados da morfologia floral foram coletados a partir de 20 flores de cada morfo. Dados morfométricos, como altura do estigma e das anteras, foram registrados usando 20 flores de cada morfo com ajuda de paquímetro digital e lupa. O sistema de compatibilidade foi quantificado comparando a produção de frutos resultante dos experimentos de polinização manual (autopolinização e polinização intra e intermorfos) usando 20 flores de cada morfo. As flores usadas nos diferentes tratamentos foram codificadas através de fios de algodão coloridos dispostos próximo ao pedicelo e isoladas para verificar produção de frutos.

O período de floração da espécie foi concentrado entre os meses de Janeiro e Março, e cada planta produziu de cinco a 15 flores diariamente. As flores são brancas, eretas, tubulares, simpétalas, sinsépalas e epíginas, com um disco nectarífero na base do pequeno tubo floral. O androceu é isostêmone com estames epipétalos. O gineceu e sincárpico, consistindo de um ovário biloculado com dois óvulos. Apesar de não ter sido possível detectar a presença de odores nas flores, o teste do vermelho neutro indicou a presença de osmóforos nos lóbulos da corola. A antese tem início às 6h00 e cessa ao entardecer. Néctar e pólen estão disponíveis desde o início da antese até por volta de 11h. As alturas do estigma e das anteras são estatisticamente diferentes entre os dois morfos, indicando que P. brachybotrya é uma espécie distílica. Nos experimentos do sistema reprodutivo, houve produção de frutos e sementes apenas nos cruzamentos entre os dois morfos, sugerindo que a espécie seja auto e intra-morfo incompatível.

O sistema reprodutivo de P. brachybotrya na Amazônia Central está de acordo com estudos de espécies de Rubiaceae em outras florestas tropicais no Brasil e no mundo. Considerando, porém, a riqueza de espécies desta família na Floresta Amazônica, novas investigações são necessárias para um melhor entendimento dos processos reprodutivos de Rubiaceae nesse ecossistema.