61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
O PROBLEMA DA RELAÇÃO ENTRE LINGUAGEM E MUNDO NO TRACTATUS DE WITTGENSTEIN
Raimundo Nonato Araujo Portela Filho 1
Carmem Maria Almeida Portela 1
1. Universidade Federal do Maranhão
INTRODUÇÃO:
O filósofo austríaco contemporâneo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) sustenta no prefácio de sua obra Tractatus Logico-Philosophicus, doravante denominada Tractatus, que o objetivo central de tal obra consiste em estabelecer os limites do que se deixa expressar através de proposições dotadas de sentido. No seu entender, ao traçarmos os limites do discurso significativo, traçamos igualmente os limites do pensamento, visto que os pensamentos são conteúdos proposicionais. Desse modo, o Tractatus constitui-se uma tentativa de determinação dos limites daquilo que pode ser pensado, por meio de uma delimitação do que pode ser dito pela linguagem. A idéia fulcral aqui é a de que podemos traçar os limites do dizível se pudermos estabelecer as condições de possibilidade de constituição de proposições, ou seja, explicitar o que há de comum a todas as proposições- a sua forma lógica. A tentativa de determinação dos limites da linguagem, daquilo que pode ser dito, consiste em uma tentativa de determinação da essência da proposição. De acordo com o Tractatus, há um paralelismo estrito entre a linguagem e o mundo.
METODOLOGIA:
 Realiza-se uma pesquisa bibliográfica cujo referencial teórico básico é o Tractatus de Wittgenstein. Recorre-se também a textos de alguns comentadores, tais como: Glock (1998), Lopes dos Santos (1993), Margutti Pinto (1998), Stegmüller (1977) e Stenius (1960). Abordam-se os conceitos que constituem a concepção tractatiana da linguagem através do exame da teoria da figuração ou teoria pictórica ( Bildtheorie), da teoria das funções de verdade e da distinção entre dizer (zagen) e mostrar (zeigen), que tornam possível relacionar linguagem e mundo.
RESULTADOS:
 A crítica da linguagem no Tractatus se reduz à crítica da proposição com  sentido. A análise completa da proposição conduz às proposições atômicas e signos simples. A teoria da figuração busca examinar a linguagem de modo a conceber como função primária desta a de representar ou descrever o mundo. Cada proposição atômica constitui uma figuração ou modelo de um fato, pois a proposição atômica é um fato (lingüístico) utilizado para representar outro fato (mundano). O sentido da proposição atômica, como figuração, é dado pela configuração dos nomes juntamente com a relação projetiva que liga tais nomes aos objetos que eles designam.   A crítica da linguagem amplia-se para o mundo. Conforme a teoria das funções de verdade, o valor de verdade de uma  proposição complexa é determinado a partir dos valores de verdade das proposições atômicas que a constituem. Quanto à distinção dizer/mostrar, Stegmüller considera três acepções distintas de ‘mostrar’ no Tractatus:  interno, externo e  místico. Stenius distingue na teoria da figuração o aspecto descritivo e o ontológico. A semântica do Tractatus procura estabelecer as regras que associam os conteúdos da realidade às representações da linguagem, ou seja, as condições de verdade que conectam linguagem e mundo.   
CONCLUSÃO:
A teoria da figuração pretende estabelecer uma correspondência entre a proposição e o fato que ela descreve. As proposições complexas equivalem a combinações lógicas de proposições atômicas ou elementares e estas são combinações lógicas de signos simples. Estes são indivisíveis e seu conjunto constitui a substância da linguagem . Os signos simples e as proposições atômicas são as condições transcendentais  de possibilidade da linguagem. Cada signo simples deve designar um objeto  simples. Este é indivisível e, juntamente com os outros objetos simples, constitui a substância do mundo. Os objetos simples e os fatos atômicos são as condições transcendentais de possibilidade do mundo.  A realidade é o conjunto formado por todos os estados de coisas. Situações são subconjuntos da realidade. O mundo constitui um subconjunto especial da realidade formado pelos estados de coisas existentes. As situações do mundo são fatos complexos redutíveis pela análise a articulações de fatos atômicos. A linguagem é a totalidade das proposições. O mundo é a totalidade dos fatos. Neste sentido, a explicação do mundo se reduz à explicação dos fatos que o compõem. O isomorfismo ( paralelismo, semelhança estrutural) entre  linguagem e mundo possibilita a descrição do mundo.
Palavras-chave: Wittgenstein, Tractatus, Relação Entre Linguagem e Mundo.