61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais
A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NA MODIFICAÇÃO DE VALORES CULTURAIS INDÍGENAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O AUMENTO DO NÚMERO DE INFECTADOS COM AS DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
Jucielma Ribeiro de Lima 1
Pablo Kessio Rodrigues de Oliveira 1
Swellen Danuza Coqueiro Feitoza da Silva 2
Ronaldo Silva Junior 2
Adriana Nascimento Pereira 2
1. Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
2. Universidade Federal do Maranhão – UFMA
INTRODUÇÃO:

A população indígena é formada por diferentes povos com hábitos, costumes e línguas distintas. Atualmente o rápido avanço tecnológico tem permitido a aproximação entre os índios que ainda vivem em reservas e o restante da população. O contato com os meios de comunicação, especialmente a televisão, o telefone e a internet, colabora na busca pela adoção de um novo estilo de vida e na perda de antigos valores. Essa tentativa de aquisição da cultura exterior reflete negativamente, inclusive no campo da saúde indígena. A incidência de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), principalmente a AIDS, tem avançado sobre povos indígenas de diferentes regiões do país. O tema específico desta pesquisa tem como eixo central a investigação da influência de modernas tecnologias na modificação de valores culturais indígenas, trazendo como conseqüência o aumento estatístico das DSTs. Avaliar qualitativamente o aumento do número de infectados é um indicador que pode estar contribuindo no combate às doenças. Portanto, entende-se que este estudo pode colaborar na melhoria das condições de saúde através de ações das políticas públicas de atenção aos povos indígenas, onde também se busque manter viva sua riqueza cultural.

METODOLOGIA:
O presente trabalho constitui-se em uma pesquisa de abordagem qualitativa. A metodologia utilizada baseou-se em visitas a reservas indígenas, conversas em roda com a população e entrevista com profissionais de saúde, moradores da Aldeia e um responsável pela atenção à saúde dos índios. Para qualquer ação em saúde pública faz-se necessário, primeiramente, conhecer a população alvo da intervenção, dessa forma, meios de interação coletiva, de participação e de contato foram usados, o que gerou uma prática reflexiva, a partir dos dados coletados. Também foram realizados estudos exploratórios acerca do tema e pesquisas em artigos e sites que tratassem tanto sobre cultura quanto sobre as políticas públicas voltadas à prevenção e ao combate de DSTs.
RESULTADOS:
A atenção à saúde indígena requer a adoção de um modelo complementar e diferenciado de serviços voltados à proteção, promoção e recuperação da saúde. A política de saúde para os povos indígenas é uma das questões mais delicadas e problemáticas da política indigenista oficial. Sensíveis às enfermidades trazidas por não-índios e, muitas vezes, habitando regiões remotas e de difícil acesso, as populações indígenas são vítimas de várias doenças sexualmente transmissíveis, tendo destaque a AIDS. Não existem fronteiras que possam inibir a experiência sexual dos indígenas com as demais etnias. Com o uso da televisão, os índices de prostituição e homossexualismo têm aumentado dentro da população e, conseqüentemente, o número de infectados com DSTs/AIDS. Vale ressaltar que casos de infidelidade também passaram a ser comuns nessas comunidades e que eventos como poligamia e swing já se incorporaram à cultura indígena de algumas tribos. Contraditoriamente a tudo isso, notamos, também, que mesmo com alguns costumes adquiridos e outros deturpados, os índios ainda manifestam fé em suas crenças, pois os mesmos, ao se infectarem com alguma DST não aceitam o tratamento, por acreditarem que aquilo é um mau espírito que só poderá ser tratado pelo curandeiro da tribo.
CONCLUSÃO:
Apesar do maior contato com o meio exterior, devido à forte influência dos meios de comunicação, o conhecimento da população indígena a respeito das DSTs ainda é muito insuficiente. Na literatura, embora exista uma gama de estudos em relação à prevenção das doenças, essas não focam o indígena. Há que se substituir o atual modelo por um novo sistema de atenção à saúde dos povos indígenas que seja adequado às diferentes e complexas realidades de cada um e que esteja à altura da grave situação de saúde por quase todos eles enfrentada. Em 2005 foi publicado um manual de Educação Profissional Básica para Agentes Indígenas de Saúde com o Módulo Promovendo a Saúde e Prevenindo DST/AIDS. Atualmente reforça-se a necessidade do desenvolvimento de novas políticas públicas de conscientização à prevenção e ao combate de DSTs voltadas para a população indígena. Políticas que não só monitorem ou façam o diagnóstico, mas que tornem realidade o tratamento. Sugerimos, portanto, que o Programa Nacional de DST e AIDS do Ministério da Saúde dispense maior atenção à causa. Uma alternativa viável seria investir na criação de um Programa de Direitos Humanos, onde semelhante ao “Programa Estratégico de Ações Afirmativas: População Negra e AIDS” fosse desenvolvido um programa de políticas de enfrentamento da epidemia direcionadas à população indígena com campanhas publicitárias, palestras e programas educativos em relação ao tema, reforçando sempre a importância da preservação dos seus hábitos e valores culturais.
Palavras-chave: Tecnologia, Cultura Indígena , Doenças Sexualmente Transmissíveis.