61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
CULTIVO DE UMA LINHAGEM SILVESTRE DO COGUMELO COMESTÍVEL Lentinus strigosus DE OCORRÊNCIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA EM RESÍDUOS MADEIREIROS DA REGIÃO
Ceci Sales-Campos 1
Meire Cristina Nogueira de Andrade 1
Raimunda Liége Souza de Abreu 1
1. INPA/CPPF/LABORATÓRIO DE CULTIVO DE FUNGOS COMESTÍVEIS
INTRODUÇÃO:

Achados fósseis revelaram que os fungos existem desde o período Cretáceo (CHANG, 1993). A primeira coleta de cogumelos comestíveis pelo homem foi realizada na China e data de 5000 a 4000 aC. (ZHANXI; ZHANHUA, 2001). Os primeiros cultivos intencionais também surgiram na China, no início do século VII, com a espécie Auricularia auricula (CHANG; MILES, 1987). No entanto, o interesse pelos cogumelos, vem crescendo somente nos últimos anos, devido a sua importância nutricional, nutracêutica, assim como a possibilidade de reciclar diversos resíduos agrícolas, agroindustriais bem como as serragens (CHANG; MILES, 1984; EIRA, 2000; SALES-CAMPOS, 2008). Desta forma, o cultivo de cogumelos comestíveis representa grande potencial de inserção no modelo industrial madeireiro da região amazônica, devido a grande disponibilidade de resíduos gerados por este segmento. Atualmente, busca-se cultivar não só cogumelos tradicionalmente conhecidos, como também espécies selvagens com potencial de utilização para cultivo. Da mesma forma, é crescente a busca por substratos alternativos. Assim, este trabalho teve como objetivo a utilização de resíduos madeireiros do estado do Amazonas para o cultivo de uma linhagem selvagem do fungo comestível Lentinus strigosus de ocorrência na região.

 

METODOLOGIA:

A linhagem do fungo comestível (cogumelo) utilizada no presente estudo é procedente da coleção do INPA/CPPF. No preparo dos substratos utilizaram-se separadamente serragens de Simarouba amara (marupá), Ochroma piramidale (pau de balsa), Anacardium giganteum (cajui) suplementadas com farelo de arroz e de trigo e CaCO3, (80:10:8:2) respectivamente, os quais receberam as codificações: SIAMP, SIAPB e SIACJ para os substratos formulados a partir das respectivas serragens. A umidade dos substratos foi ajustada em torno de 75%. Cerca de 500g dos substratos foram acondicionados em sacos de PP, esterilizados em autoclave a 121 ºC, e inoculados após resfriamento e posteriormente incubados em câmara aclimatizada a 25 ± 3 ºC e UR de 85% até emissão dos primórdios. O experimento foi conduzido de forma axênica e sob condições ambientais controladas. Após a incubação e inicio dos primórdios, os sacos foram transferidos para a câmara de produção, com redução de temperatura para 25-23 ºC e aumento de UR para 85-90%, no período de frutificação. Foram avaliados: produtividade do cogumelo nos diferentes substratos, através da eficiência biológica (EB %), rendimento (g Kg -1) e perda da matéria orgânica (PMO %), ocorridos durante o cultivo.

RESULTADOS:

O crescimento micelial completo da linhagem de L strigosus ocorreu em torno de 12 a 20 dias a partir da inoculação, com surgimento de primórdios cerca de 15 a 25 dias. A frutificação ocorreu três a cinco dias após a emissão dos primórdios.Todas as serragens suplementadas foram eficientes no cultivo de L. strigosus, apresentando EB (38; 48 e 59%); rendimento (98; 119 e 177 g Kg -1) e PMO (42; 59 e 48 %) para os substratos formulados a partir das serragens de marupá (SIAMP), pau de balsa (SIAPB) e cajui, (SIACJ) respectivamente. Nota-se que a maior produtividade (EB), ocorreu quando o cogumelo foi cultivado no substrato elaborado a partir de cajui: SIACJ (59%), enquanto que a menor foi para o substrato preparado a partir de marupá: SIAMP (42%). Resultados semelhantes ocorreram em relação ao rendimento, com 177 e 98 g de cogumelos/ Kg -1 de substrato, para SIACJ e SIAMP, com maior e menor produtividade respectivamente. A perda da matéria orgânica (PMO) não teve relação com a produtividade (EB), pois o substrato onde ocorreu a maior perda de matéria orgânica (PMO) foi o substrato elaborado a partir de pau de balsa (SIAPB) com 59% de PMO, não sendo, portanto, o substrato de maior produtividade (EB), mas sim, o SIACJ, como já relatado.

CONCLUSÃO:

Todos os substratos possibilitaram boa  produção de L strigosus. Os resultados indicam potencial de aproveitamento desse resíduo na Amazônia, bem como possível utilização da linhagem silvestre deste cogumelo, para o cultivo, podendo contribuir para melhoria das condições sócio-econômicas e sustentabilidade dos recursos da biodiversidade.

Instituição de Fomento: CNPQ/INPA/FAPEAM
Palavras-chave: Cultivo de Cogumelos comestíveis, Lentinus strigosus, Resíduo madeireiro da Amazônia.