61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
Exploração e testagem quantitativa sobre a aceitação de mitos na Amazônia
Renan Albuquerque Rodrigues 1
Andréia Mayumi Niiyama 2
1. Universidade Federal do Amazonas (Ufam)
2. Faculdade Boas Novas (FBN)
INTRODUÇÃO:
Historicamente, populações amazônicas construíram grande parte de seus conhecimentos de mundo e sociedade a partir de tradições populares, sendo que ainda hoje a mitologia tende a auxiliar na formação do pensamento social no bioma. Entretanto, para que a tradição mitológica permanecesse viva por tanto tempo, o fortalecimento dos mitos amazônicos junto às populações não ocorreu por acaso e muito menos de forma rápida, através dos tempos. Foi necessário um processo lento e primitivo para que houvesse a concretização dos preceitos na mente dos amazônidas e esses preceitos permanecessem vivos por tantas gerações. Partindo desses pressupostos, duas questões-chaves, orientadoras da pesquisa, foram levantadas a partir das considerações. Se antigamente os mitos amazônicos eram proferidos e ensinados em rituais restritos, será que nos últimos anos, com o aumento populacional e a facilidade de comunicação, essas atividades ritualísticas não caíram nas graças do senso comum e começaram a ser difundidas em conversas do cotidiano? E ainda. É possível que essa transmissão facilitada de informações influencie no processo de inclusão social das populações amazônicas?
METODOLOGIA:
Foram estipulados três levantamentos. O primeiro explorou a auto-imagem das populações. Questões do tipo “como você se vê enquanto participante de sua comunidade?”, com opções fechadas para dez possíveis respostas, foram realizadas. A meta foi delimitar tendências de senso comum sobre coletividade e participação social. Buscou-se inferir sobre a integração histórica da comunidade. O segundo investigou de que maneira as pessoas interpretam o meio ambiente onde vivem. Foram feitas questões subjetivas do tipo “o que significa, para você, seu meio ambiente?”. A expectativa foi quantificar correlações que indicassem características míticas de ver o mundo e se as variáveis “pensar sobre o meio ambiente” e “pensar sobre a mítica amazônica” tinham associação. O terceiro levantamento buscou questionar, diretamente, sobre a crença em mitos amazônicos. Perguntas objetivas foram feitas, do tipo “você acredita ainda hoje em histórias antigas contadas em mitos da sua terra”, com opções fechadas para cinco possíveis respostas, em um gradiente tipo likert. A intenção foi saber se os mais crentes em mitos mantinham atividades produtivas regulares e tinham melhor renda.
RESULTADOS:
No estudo inicial, 366 participantes foram entrevistados (173 de uma área rural a Norte de Manaus [identificada como região Alfa] e 193 de outra a Noroeste da urbe [a região Beta]). A variação de respostas para grupos dominantes de estudantes e trabalhadores rurais foi de 4%, apontando para uma existência de sentimento de pertença correlato. No levantamento seguinte, dois grupos de Alfa e Beta foram selecionados (DP: 16,7). Os resultados apontaram que: a) um terço deles tende a desenvolver relação indireta de negação para mitos; b) outros dois terços são inclinados a manter relação de proximidade com tais histórias; c) e a menor parte do grupo é propensa a aceitar ou negar a mítica amazônica conforme questões contingentes, por exemplo, quando isso lhe render benefício. O terceiro estudo teve 120 respondentes (60 em Alfa e 60 em Beta). Nele, viu-se que 49,16% dos homens com até quatro anos de residência no local aceitam os mitos; das mulheres em igual situação, 54,16% enfatizam o mesmo discurso; dos homens com nove ou mais anos de residência, 67,50% deles reafirmam a mítica; referente a mulheres em igual condição, 72,50% destacam a vigência da mitologia.
CONCLUSÃO:
O que foi sugestivo notar é que a permanência, com fixação de residência, nas regiões rurais e/ou ribeirinhas é um quesito positivo para o desenvolvimento de fortes tendências a usar os mitos como base e sustentáculo para explicar a realidade do entorno. Foi verificado que a aceitação da mitologia amazônica é diretamente proporcional ao aumento do tempo de convivência dos povos nessas regiões. O estudo sugere que a quantidade de pessoas que hoje acredita em mitos contados desde a antiguidade ainda é significativa no conjunto da opinião pública das populações amazônicas. Essa mitologia, característica intrínseca dos povos, auxilia de maneira determinante na formação sociohistórica. Os dados ainda sugerem que populações narradoras de mitos o fazem porque se sentem envolvidas de alguma forma em seu cotidiano familiar, social e trabalhista. Da mesma maneira, um narrador de mitos ou um conjunto de narradores, sendo transmissores de tradição oral, são vistos como detentores da responsabilidade de articulação entre o saber mitológico e sua aplicabilidade para o entendimento do mundo circundante.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam)
Palavras-chave: Papéis e estruturas sociais na Amazônia, Meio ambiente, Mito.