61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
ESTUDO BIOSSINTÉTICO DE NEOLIGNANAS EM EMBRIÓIDES DE OCOTEA CATHARINENSIS
Mariko Funasaki 1
Claudete Santa-Catarina 2
Eny Iochevet Segal Floh 3
Massuo Jorge Kato 4
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
2. Profa. Dra. / Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
3. Profa. Dra. / Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo
4. Prof. Dr. / Instituto de Química, Universidade de São Paulo (Orientador)
INTRODUÇÃO:

As neolignanas são fenilpropanóides diméricos formados por reações de acoplamento oxidativo e a grande maioria é opticamente ativa e amplamente encontrada em plantas superiores. Por outro lado, estruturas poliméricas como as ligninas, possuem estruturas relacionadas, porém com dímeros que frequentemente são racêmicos. O interesse nas neolignanas diidrobenzofurânicas tem aumentado por causa das diversas atividades farmacológicas. Ocotea catharinensis (Lauraceae) é uma espécie arbórea encontrada na Mata Atlântica, rica em neolignanas benzofurânicas e biciclooctânicas. Esta espécie encontra-se em risco de extinção por causa de importância econômica e por dificuldades de propagação. Por esta razão foi desenvolvido um sistema alternativo de propagação baseado no uso de culturas embriogênicas. Estudos fitoquímicos prévios realizados com O. catharinensis mostraram o acúmulo de neolignanas hexa-hidrobenzofurânicas e biciclooctânicas nos embriões cultivados in vitro como nas folhas e caules. Neste trabalho a rota biossintética das neolignanas foi avaliada através de cultura embriogênica como um modelo experimental utilizando-se precursores radioativos e não radioativos.

METODOLOGIA:

Os embriões somáticos cultivados em meio de cultura WPM foram transferidos para tubos de ensaio. Nestes tubos contendo 950 mg de massa fresca de embriões foram adicionados soluções de L-[U-14C]-fenilalanina (2 mCi/40 mL) ou ácido [8-14C]-ferúlico (2 mCi/80 mL) como precursores. Após a incubação, os embriões foram removidos e congelados em nitrogênio líquido, triturados, extraídos com AcOEt e filtrados em algodão. Os extratos foram submetidos à CLAE e coletados a cada minuto para medição da radiação. A administração de L-[1-13C]-fenilalanina (1 mg/100 mL) foi realizada utilizando o mesmo método dos precursores radioativos. Após extração o extrato foi submetido a cromatografia em camada delgada preparativa (hexano:AcOEt 3:7), obtendo-se duas frações. Após a evaporação do solvente, as frações foram analisadas por espectrometria de massa de ionização por electrospray no modo positivo e analisador quadrupolar acoplado com “tempo de vôo”, e RMN de 13C (125 MHz, CDCl3).

RESULTADOS:

Um sistema embriogênico in vitro mostrou grande acúmulo de neolignanas (0,3% de peso seco). No estudo da bioconversão utilizando-se este sistema, a L-[U-14C]-fenilalanina foi incorporada à neolignana hexa-hidrobenzofurânica 1, 2 e biciclo[3.2.1]octânica 3 após 5 horas de incubação. Após 48 horas observou-se o máximo de incorporação (0,30%) na neolignana 1, 0,19% na neolignana 2 e 0,12% na neolignana 3. A análise por espectrometria de massa possibilitou a detecção de enriquecimento com 13C nas neolignanas 1 e 2. Foram comparadas as áreas relativas da massa molecular de [M+H]+, [M+H+1]+ e [M+H+2]+ com as mesmas das neolignanas não marcadas e observou-se o enriquecimento de 8,0% e 2,3% em M+ = 390 e M+ = 391 respectivamente na neolignana 1 (M = 388.2). A análise dos espectros de RMN de 13C localizou claramente a posição do enriquecimento nas neolignanas. Através da comparação do espectro da neolignana 1 marcada com o espectro da neolignana 1 não marcada, considerando que a abundância natural de 13C é 1,1%, foram determinadas as porcentagens das incorporações em C-9 (d11,9) como 4,3% e em C-9’ (d120,1) como 5,0%. No caso do ácido [8-14C]-ferúlico, após 12 horas de incubação foi observada a incorporação de 0,17% na neolignana 1.

CONCLUSÃO:

Através desses experimentos de incorporação, a taxa de metabolismo nos embriões somáticos pode ser considerada elevada quando comparada aos resultados obtidos com outras espécies. Os resultados possibilitaram a definição de precursores e de algumas etapas que eram apenas hipótese. As incorporações nas neolignanas 1, 2 e 3 estão compatíveis com os teores nos quais essas são acumuladas nas folhas e nos embriões. Cabe destacar que as culturas embriogênicas de O. catharinensis apresentaram excelentes características para tais estudos em função da expressão aparentemente voltada para a produção de neolignanas.

Instituição de Fomento: CNPq e FAPESP
Palavras-chave: metabólitos secundários, neolignanas benzofurânicas, cultura embriogênica.