61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 1. Genética Animal
CARACTERIZAÇÃO E VARIABILIDADE GENÉTICA DE POPULACÕES ARTIFICIAIS DE TUCUNARÉS (PERCIFORMES: CICHLIDAE)
Joseane Fernanda A. Costa Passos 1
Raquel Rodrigues Rocha 1
Cleydson Gomes 1
Elmary da Costa Fraga 1
Iracilda Sampaio 2
Maria Claudene Barros 1
1. Centro de Estudos Superiores de Caxias/UEMA. Caxias, MA
2. Instituto de Estudos Costeiros/UFPA Bragança PA
INTRODUÇÃO:

Os tucunarés são peixes pertencentes à ordem Perciformes, família Cichlidae e gênero Cichla. São originários da bacia amazônica e inclui espécies de alto valor comercial, sendo bastante utilizado para peixamentos em barragens e açudes. A sua presença fora do ambiente natural, pode gerar vários impactos sobre a ictiofauna local inclusive impactos genéticos (SAKAI et al., 2001). Todavia estes peixes têm sido introduzidos em praticamente todas as bacias hidrográficas brasileiras. A hibridização natural parece ser um evento comum entre C. monoculus e C. temensis como sugerido pela análise cromossômica e do gene rRNA 16S (Alves, 1998; Andrade et al., 2000) o que torna necessário o monitoramento genético para este gênero. O objetivo deste trabalho foi caracterizar geneticamente populações de tucunarés introduzidos em açudes do Piauí, nas bacias dos rios Parnaíba, São Francisco e Paraná, utilizando seqüências do gene rRNA 16S o que gerará informações quanto a origem genética destes estoques e estimar a variabilidade genética das populações com base na região controle (D-loop) do DNA mitocondrial contribuindo assim com informações relevantes para o manejo deste grupo de peixes.

METODOLOGIA:

As análises foram baseadas em 114 espécimes provenientes das bacias dos rios São Francisco, lago da UHE de Sobradinho/PE; Paraná, lago da UHE de Itaipu/PR; Parnaíba, lago da UHE de Boa Esperança/PI; Açudes de Cajazeiras/PI; Barreiras/PI e Ingazeiras/PI.  As amostras em áreas de ocorrência natural foram obtidas das bacias dos rios Uatumã, Solimões, Negro, Trombetas, Amazonas e Tocantins. O DNA total foi isolado a partir do tecido muscular e a amplificação das regiões genômicas através da técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) usando-se combinações de primers específicos. Os produtos da PCR foram seqüenciados utilizando-se o método didesoxiterminal.  As seqüências foram editadas e alinhadas usando-se o programa BioEdit (Hall, 1999). O número de haplótipos, sua freqüência, sítios variáveis, diversidades nucleotídica e haplotípica foram obtidos pelo programa DnaSP versão 4.10 (Rozas et al., 2003). A árvore de haplótipo foi gerada no programa Network 4.5. Às árvores filogenéticas e matriz de divergência genética, pelo programa MEGA4 (Tamura et al., 2007). A significância dos agrupamentos estimada pela análise de bootstrap (Felsenstein, 1985).

 

RESULTADOS:

Foi obtido um fragmento de 413 pb para o gene rRNA 16S onde observou-se quatro haplótipos e 16 sítios polimórficos.O haplótipo 1 (H1) de ocorrência no rio São Francisco, rio Parnaíba, rio Paraná e açudes do Piauí agrupou-se com C. kelberi proveniente do rio Tocantins/PA. O H2 encontrado somente no rio Paraná e reservatório da UHE de Itaipu/PR agrupou-se com C. piquiti proveniente do rio Tocantins/PA. O H3 do rio São Francisco agrupou com C. monoculus rio Amazonas/AM e o (H4) presente na bacia do rio São Francisco, agrupou com Cichla tyrorus provenientes do rio Trombetas/ PA. Um  fragmento de 346 pb para 54 espécimes de tucunaré foi obtido a partir da região D-loop do mtDNA. Observou-se para as populações de C. kelberi  e C. piquiti a ocorrência de 64 sítios polimórficos, 12 haplótipos, diversidade haplotípica de 0,7526 e nucleotídica de 0,04689. Para a população C. piquiti foi encontrado três sítios polimórficos, três haplótipos, diversidade haplotípica de 0,4643 e nucleotídica de 0,00217. Para C. kelberi  8 sítios polimórficos, 9 haplótipos, diversidade haplotípica de 0,67 e nucleotídica de 0,00350. A divergência genética intrapopulacional variou de 0,0 a 1,0% para C. piquiti e de 0,0 a 2,0% para C. kelberi; a variação interpopulacional foi de 19,0 a 21,0%.

CONCLUSÃO:

A análise com o gene rRNA 16S permitiu-nos inferir que na bacia do rio São Francisco houve a introdução de mais de uma espécie e de diferentes rios da bacia amazônica. A bacia do rio Paraná apresenta introduções das espécies C. kelberi e C. piquiti, no entanto provenientes da mesma bacia, rio Tocantins/PA. Os açudes do Piauí e reservatório da UHE de Boa Esperança/PI receberam introdução de uma única espécie, C. kelberi, a partir da bacia do rio Tocantins/PA. Portanto os resultados sugerem que grande parte dos estoques introduzidos no Nordeste são oriundos do Rio Tocantins/PA levando-nos a confirmar que a espécie C. kelberi tem sido amplamente utilizada para peixamento em diferentes regiões do Brasil. A magnitude das diversidades haplotípica e nucleotídica e a distância genética encontrada neste estudo para as populações de Cichla com o uso da região D-loop corrobora com os dados de Oliveira et al. (2006) indicando diferenças entre elas com ausência da espécie C. piquiti no Nordeste brasileiro e presença no Sul do Brasil. A espécie C. kelberi foi encontrada tanto no Nordeste quanto no Sul do Brasil. Este trabalho acrescentou um componente novo que foi o alcance da distribuição geográfica para Cichla até o nordeste brasileiro.

Instituição de Fomento: MCT/CNPq/PPG7/UEMA/FAPEMA
Palavras-chave: DNA mitocondrial, 16S, D-loop.