61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
ESTUDO DA POSTURA EPISTEMOLÓGICA EM AMBIENTE UNIVERSITÁRIO: DISPOSIÇÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS DO ALUNO
Katlin Cristina de Castilho 1
Edineuza Oliveira Silva 1
Mayara Victor Gomes 1
Luiz Percival Leme Britto 1, 2
1. Universidade de Sorocaba - UNISO
2. Orientador
INTRODUÇÃO:
De forma a contribuir para a compreensão dos processos atuais de organização e oferta da Educação Superior no Brasil, este trabalho realiza uma análise da formação universitária, bem como de formas de conhecimento que circulam no âmbito acadêmico, com o objetivo de identificar e compreender a postura epistemológica de estudantes assistidos por Instituição de Educação Superior periférica (IES periférica implica o tipo de instituição e o lugar relativo que ocupa no campo da Educação Superior). Trata-se, em termos mais precisos, de analisar os modos como esses universitários compreendem e se relacionam com o conhecimento, bem como os efeitos deste processo nas formas como estudam. Este trabalho se insere no projeto de pesquisa “Cultura Escrita, Globalização e Formação Universitária: concepções de estudo e de aprendizagem e expectativas do estudante universitário de IES periférica”, envolvendo três pesquisas de Iniciação Científica, as quais analisam, especificamente, 1. a constituição de acervos pessoais como suporte de estudo e de trabalho; 2. a percepção da autoria do conhecimento e das particularidades referenciais do autor (teóricas e contextuais); e 3. a formação geral em ambiente universitário, bem como os efeitos desses aspectos na produção e aquisição de conhecimento.
METODOLOGIA:

Aproximamo-nos, neste trabalho, do conceito de postura epistemológica sob dois eixos básicos:1.postura instrumental e 2.postura teórico-formal. Estas formulações se referem à forma de o sujeito se relacionar com o conhecimento, de modo que os fatores que as fundamentam encontram-se no âmbito das disposições objetivas e subjetivas.

As disposições objetivas se constituem dos recursos materiais e financeiros, tempo hábil de estudo, instalações institucionais e outros aspectos que proporcionam contato com a cultura e conhecimentos formais e científicos.

As disposições subjetivas se caracterizam pelo interesse de desenvolvimento intelectual, vontade e disciplina de estudo; capacidade de auto-avaliação; organização e constituição de acervo pessoal; planejamento de rotina de estudo e trabalho; vida cultural; mesmo que parcialmente dependentes das disposições objetivas, umas não são plenamente determinadas pelas outras.

Ambas as disposições influenciam na postura epistemológica na medida em que condicionam e estão condicionadas às práticas sociais, institucionais e intelectuais de envolvimento com o conhecimento.

Para reconhecimento dos aspectos investigados, foram aplicados 280 questionários fechados com universitários de IES periféricas e realizadas 30 entrevistas semi-estruturadas.

RESULTADOS:

A postura epistemológica instrumentalizada direciona-se para a aprendizagem de técnicas, na busca de capacitação para o mercado de trabalho. Supõe envolvimento com conhecimentos pragmáticos, de caráter normativo e informacional, supostamente necessários à atuação profissional; se caracteriza, principalmente, pela aprendizagem rápida e fácil sem ou com pouca criticidade.

Nesta postura pouco importa a percepção de sua autoria e da historicidade do conhecimento, apagando-se as características históricas e os processos científicos envolvidos no desenvolvimento das Ciências, considerando-se, prioritariamente, o resultado em si. Há a tendência à absolutização dos fatos e à aceitação das normas de conduta como naturais. O modelo atual de Educação Superior, em especial nas instituições periféricas, tem favorecido esta tendência.

A postura epistemológica crítica implica maior acesso aos conhecimentos formais científicos e supõe estudo sistemático, organização e constituição de acervo, disciplina de estudo, percepção da autoria do conhecimento e de suas características históricas, possibilitando maior criticidade, discussão, reflexão. As dificuldades de formação básica e o tipo de compromisso do estudante com a instituição e sua formação prejudicam o desenvolvimento desta postura.

CONCLUSÃO:

O crescimento quantitativo das instituições é visível no contexto social e em dados estatísticos. É indispensável reforçar que a expansão do sistema, bem como das demandas por formação de profissionais capacitados para atuação no mercado, tem se caracterizado pela intensificação de um tipo de formação instrumental e pragmática destituída de análise crítica e pesquisa.

A formação acadêmica se fundamenta na aprendizagem de conhecimentos que se configuram como algo imediatamente aplicável, independentemente de discussões e problematizações, voltada para demandas urgentes de mercado. Nesta formação instrumental, a aprendizagem não supõe considerações acerca da historicidade e dos processos da produção do conhecimento (metodologia científica, linha de pensamento, autoria) e corrobora políticas que desprivilegiam o acesso à formação geral e organização de acervo pessoal.

Estas problematizações se fazem importantes devido à constatação de que as transformações que impulsionaram os meios e as possibilidades de este novo estudante alcançar a Educação Superior implicaram modificações profundas tanto da própria organização da universidade como no tipo de conhecimento que circula neste ambiente.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Palavras-chave: formação universitária, postura epistemológica, estudante de IES periférica.