61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
TRADIÇÃO E SOLIDARIEDADE: A RELIGIOSIDADE NAS COMUNIDADES AMAZÔNICAS
Hamida Assunção Pereira 1
Roberta Ferreira Coelho 1
1. Universidade Federal do Amazonas
INTRODUÇÃO:

As populações tradicionais da região amazônica constroem a vida articulando e rearticulando o mundo do trabalho, as relações sociais, os costumes e tradições, tais como as festividades religiosas, que transcendem gerações e reavivam a memória, sinalizando para a correlação com o passado e a edificação do modo de vida presente. A vida de homens e mulheres no mundo amazônico valoriza sobremaneira as tradições relacionadas ao mundo do trabalho, às práticas de solidariedade e à religião. A religião se apresenta, segundo Galvão (1976), como um denominador comum que congrega roceiros, caboclos e citadinos. As festividades religiosas, constituídas por um conjunto de rituais e possuidoras de uma simbologia sem igual, incorpam as tradições, na medida em que se encontram permeadas por dogmas, valores e regras. A religião é predominantemente marcada pela tradição católica, a qual norteia as práticas religiosas, como as procissões, as novenas, os arraiais, as festas de santo, entre outras. Nestes festejos, os santos padroeiros se sobressaem frente à imagem da própria cruz, visto que homens e mulheres estabelecem um vínculo afetivo com os santos, para os quais fazem promessas, acendem velas e até fazem sacrifícios físicos, como andar de joelhos por quilômetros, carregar tijolo na cabeça, dentre outras manifestações de fidelidade e respeito ao que foi pactuado com o santo.

METODOLOGIA:

Por meio dos apontamentos em caderno de campo, registros fotográficos, história de vida, entrevistas e participação direta nas atividades de preparação e realização da festa religiosa de São Sebastião às margens do Lago do Puraquequara no município de Manaus – Amazonas e os festejos de Nossa Senhora Aparecida, no distrito de Cacau Pirêra, no Município de Iranduba, foi possível ter acesso à dinâmica própria de cada uma dessas localidades e a identificação da centralidade da religiosidade na vida dos moradores. Aliás, foi o contato direto com os residentes locais que evidenciou a força das tradições e das relações de solidariedade em ambas as localidades.

RESULTADOS:

Analisando a situação de duas localidades geograficamente distintas, pode-se perceber que seus moradores cultivam práticas religiosas semelhantes, ligadas aos santos padroeiros, que envolvem as várias gerações, que se irmanam em prol da organização e realização dos festejos, que representam o momento mais importante da vida social de ambas as comunidades. O interessante é que muitas das manifestações religiosas são fruto da iniciativa dos próprios fiéis, que se reúnem nas casas para rezar o terço, fazer novena e organizar procissões e outras atividades de cunho religioso, sem que, necessariamente, haja a presença da igreja ou de ministros consagrados, como padres e freiras, já que a própria formação cultural das populações amazônicas pressupõe o componente religioso, o qual constitui um traço importante da identidade e do habitus.

CONCLUSÃO:

Pode-se perceber que tais festejos se configuram como a mais importante manifestação da religiosidade popular no Puraquequara e no Cacau Pirera, na medida em que reacendem práticas sociais de solidariedade, amizade e união comunitária em função de um objetivo comum, congregam novos e antigos moradores, reúnem toda a comunidade, incitam a partilha, envolvem crianças, jovens e adultos, bem como revitalizam a fé e a religiosidade.

Palavras-chave: RELIGIOSIDADE, SOLIDARIEDADE, COMUNIDADES AMAZÔNICAS.