Na Amazônia as águas são heterogêneas com características bem diferenciadas, reflexo da geologia da região, e classificadas em três tipos: preta, branca e clara. As águas pretas são ácidas com pH abaixo de 6,0 e normalmente pouco mineralizadas com baixos teores do íon amônio (< 0,5mg/L). A Resolução 357/2005/CONAMA, art. 7º, estabelece limites de nitrogênio amoniacal para classe I e III de 3,7mg /L e 13,5 mg /L respectivamente, nas águas com pH menor ou igual a 7,5. Entretanto, as águas pretas dos rios da bacia Amazônica não se enquadram nessa Resolução. Segundo a mesma Resolução a qualidade do meio aquático também poderá ser avaliada por indicadores biológicos, quando apropriado, utilizando-se organismos e/ou comunidades aquáticas. Os insetos têm recebido atenção nas últimas décadas e, especialmente nos últimos anos, pela importância que vêm adquirindo como bioindicadores da qualidade da água. Atualmente, avanços importantes têm sido feitos nas ordens Ephemeroptera, Trichoptera e Plecoptera e os Diptera da família Chironomidae. Este estudo apresenta dados preliminares da avaliação do nível de toxicidade do íon amônio em ambientes aquáticos utilizando a fauna de Hydropsychidae (Trichoptera) como indicador biológico da qualidade das águas.

Os Hydropsychidaes foram coletados em um trecho da nascente do igarapé do Quarenta, localizado na área preservada do Campus Universitário (UFAM), com auxílio de uma rede entomológica aquática (rapiché), depois transportados para o laboratório e mantidos em pequenos aquários no período de dez dias. Os experimentos foram divididos em grupos. Cada grupo com um tipo de água com repetições, sendo que em cada aquário foram colocados de duas a três ninfas de Hydropsychidae. Grupos: 1) água do rio Negro (com tratamento), acidificada e com adição de hidróxido de amônio; 2) água de um poço tubular, ácida e que apresentava alto teor de íon amônio e 3) água controle (natural de uma nascente do igarapé do Quarenta), com baixa concentração de íon amônio. Em cada experimento foi monitorado as variáveis pH e íon amônio. As determinações do íon amônio (NH₄⁺) nas águas, foram feitas por espectrofotometria e pH por potenciometria.

Para avaliar a resistência de insetos Trichopteras em águas com diferentes níveis de íon amônio, estas foram organizadas em grupos, sendo grupo 01 - água do rio Negro com adição de hidróxido de amônio (acima de 10 mg/L e pH ácido), que apresentou perda de 67% dos insetos. Esse mesmo experimento foi exposto a um valor de 3 mg/L de íon amônio e apresentou perda de 50%. Ambos experimentos tiveram perdas significativas quando comparados ao controle (17%). Repetindo o experimento com água do rio Negro com teores menores do íon amônio (0,02 a 12,5mg/L) e pH de 9,5 (alcalino), observou-se perda de 50%. A diminuição no número de morte de insetos pode estar relacionada ao meio alcalino. Em um outro experimento, com água do rio Negro com teor de amônio natural, (entre 0,03 a 1,0 mg/L) não houve perda. O experimento com o grupo 2, foi feito com água de um poço tubular, contendo altas concentrações de íon amônio e pH ácido, considerada imprópria para consumo humano. Esta foi diluída em diferentes proporções, onde houve perdas nas porções mais concentradas (3,5 a 7,6mg/L de NH₄⁺), na faixa de 33% a 67%. No grupo 3 (controle), com água da nascente do igarapé do Quarenta com teor de amônio de 0,3mg/L, a perda foi mínima (17%).

Os insetos tiveram comportamento bastante diferenciado entre os diferentes tipos de água. Nas águas do poço tubular, imprópria para o consumo humano devido seus altos teor do íon amônio e baixo pH, assim como a água do rio negro, também com altos teores do íon amônio e pH ácido, apresentaram perdas significativas, confirmando que os insetos são sensíveis à presença de altos teores do íon amônio.