61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 3. Geografia Física
UTILIZAÇÃO DE GEOPROCESSAMENTO NA ANÁLISE TEMPORAL DO CÓRREGO VILA CRISTINA (RIO CLARO – SP) E RISCO DE ENCHENTES ASSOCIADO
Cristina Deperon Maluf 1
Maria Luiza de Andrade Benini 1
Silvia Elena Ventorini 1, 2
1. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP
2. Profª MSc.–Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento - UNESP
INTRODUÇÃO:

A expansão urbana desordenada tem ocasionado grandes impactos ambientais, percebidos pelos frequentes atos de desmatamento e ocupação de áreas de encostas, que se acentuam, principalmente, pelas ocorrências de episódios pluviais intensos, provocando desastres como enchentes e deslizamentos.

A deterioração da qualidade e quantidade de recursos hídricos em áreas urbanas é facilitada pela falta de instrumentos, que cabe ao planejamento urbano destinar apropriadamente, sendo o uso e ocupação do solo fator extremamente influenciador, haja visto que qualquer loteamento modifica o ambiente e o sistema de drenagem de águas pluviais, provocando a redução de áreas permeáveis, vegetação, interferência nos eixos de escoamento e nos reservatórios. Deste modo, estudar a intensidade e a direção da expansão de uma cidade é de fundamental importância para o planejamento urbano e dos recursos naturais.

Esse estudo tem como objetivo principal a análise da evolução do ambiente e as mudanças ocorridas desde 1980 a 2008 no bairro Cidade Nova em Rio Claro (SP), onde apresentam-se problemas como lixo e entulho alocados impropriamente, nascente modificada por ações antrópicas e ocupação e destruição da APP, focando-se no estudo de risco de enchentes na região, aplicando-se técnicas de geoprocessamento.

METODOLOGIA:

Para o trabalho foi utilizado o software Arcgis 9.3, fotografias aéreas para georreferenciamento das imagens de satélite (fotos de 1980 e 2008) e a integração com curvas de nível e traços de drenagens digitalizados, que aliados à utilização dos dados de campo e de fotointerpretação, resultaram nos mapas de: Hipsometria, Declividade, Orientação de Vertentes, Uso do Solo e Áreas de Proteção Permanente (APP).

           A partir do material gerado houve o estudo para determinação dos pesos atribuídos a cada elemento analisado, baseado na Técnica Fuzzy para geração de estimativas da possibilidade de ocorrência de um fenômeno julgado atrelado a instâncias integrantes de um plano de informação ambiental, no caso, a possibilidade de ocorrência de enchentes na região analisada. Com os pesos adotados para os mapas de Declividade, Uso do Solo e APP (cuja soma deve resultar 100) e seus componentes (30 no total, considerando-se uma escala de pesos variando de 1 a 10 para os elementos, onde 1 refere-se a um componente de baixa contribuição para a ocorrência de enchentes e 10 para a situação oposta), há o cruzamento dos mesmos, permitindo uma análise multicriterial ponderada para determinação de um mapa integrador dos fatores ambientais considerados.

RESULTADOS:

          Pode-se constatar que: a área de reflorestamento da Floresta Estadual próxima ao bairro teve significativo aumento entre 1980 e 2008, contribuindo para a infiltração das águas pluviais; todavia, o crescimento urbano deu-se intensamente na área de estudo, aumentando as extensões impermeabilizadas, suprimindo gramíneas e vegetação rasteira, facilitando a ocupação de uma região de baixa declividade, onde a água facilmente permanece retida em superfície. Há diminuição das áreas de agricultura e de regiões arbóreas urbanas. A área de APP em nenhum momento é respeitada como obriga a legislação, mas apresenta significativa melhora em 2008 com relação a 1980.

           Na saída de campo verificou-se ampla degradação do entorno com a disposição de resíduos sólidos em bota-foras ilegais e nas áreas de APP, compactação das ruas de terra locais e do solo da APP, sinais de processos erosivos, antropização e ausência de vegetações herbácea e arbustiva ao redor da nascente, assim como alta degradação por todo o curso d’água, presença de população carente de informações sobre o córrego (proximidade com antigo lixão, comprometimento da qualidade da água com a incorreta disposição dos resíduos sólidos), moradias precárias, falta de infra-estrutura e uso da água do córrego pela população para uso nobre.

CONCLUSÃO:

Propõe-se como medidas urgentes a implantação de infra-estrutura sanitária e de resíduos sólidos, pelo potencial risco à saúde humana. Nas áreas ainda vagas, deve-se priorizar o plantio de árvores de mudas nativas, buscando a descompactação e contenção de processos erosivos e do desenvolvimento correto dos estados vegetacionais, para recuperação da APP e adensamento e alongamento das regiões arborizadas em detrimento de solos expostos ou com vegetação de baixo porte.

Ainda, propõe-se a implantação de programas de educação ambiental para a população local, em parceria com a prefeitura, para uma gestão participativa, com comprometimento de ambas as partes, e não conflitante como usualmente é visto, revertendo tais ações em benefícios ambientais e de saúde para a população.

           Pôde-se notar a evolução da área de estudo de 1980 a 2008, com o aumento das áreas verdes arbóreas da Floresta Estadual em contrapartida com a ocupação desordenada e sem estrutura da região próxima ao córrego Vila Cristina pela população.

           Assim, mesmo com o aumento das áreas de APP e reflorestamento, constatou-se um crescente risco de enchentes na região ocasionado pelo aumento da impermeabilização do solo e pela ocupação indevida da população nas áreas de várzea do corpo hídrico.

Palavras-chave: Enchentes, Análise Multicriterial Ponderada, Geoprocessamento.