61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica
CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: REPRESENTAÇÃO DO CONTEXTO FAMILIAR DOS USUÁRIOS
ANA GLAUCIA RICARDO PEDROSA 1
ALAIDISTANIA APARECIDA FERREIRA 1, 2
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - ESCOLA DE ENFERMAGEM DE MANAUS
2. ORIENTADORA
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho traduz os resultados de uma pesquisa realizada a fim de identificar e analisar as representações sociais das famílias dos pacientes com transtornos mentais no enfrentamento das dificuldades do processo do cuidar. Sabemos que com a Reforma Psiquiátrica foi criado um novo modelo de Atenção em Saúde Mental, através da criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em substituição aos modelos hospitalocêntricos de internação, buscando a reintegração do indivíduo ao convívio familiar e à sociedade. Porém, há a necessidade de avaliação das dificuldades e alterações dos processos familiares que estarão sendo relevantes para o processo de reabilitação do indivíduo à comunidade. É, nesse sentido, que faz-se necessária a articulação entre a equipe de saúde e a família em prol da recuperação e reabilitação do doente, buscando compreender nos relatos dos entrevistados as respostas para que possam ser implementadas ações de enfermagem direcionadas ao foco específico apontado. Nesse caso, o estudo é realizado com o intuito de fornecer reflexões e informações quanto à importância da manutenção do diálogo familiar e devidas estratégias de prevenção no surgimento e/ou agravamento de patologias mentais.

 

METODOLOGIA:

Para a efetivação do estudo que culminou nesta pesquisa foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, participando deste estudo 10 familiares de pacientes em acompanhamento no CAPS, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, garantindo o anonimato aos entrevistados. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Conselho de Ética e Pesquisa da UFAM. Utilizou-se a análise de conteúdo, elegendo este estudo para a área temática, segundo MINAYO, tendo como suporte referencial teórico-metodológico a teoria moscoviciana de representação social, e partindo do pressuposto de que as ações dos indivíduos são orientadas pelas representações estabelecidas no seu cotidiano. Os temas, definidos a partir da análise de dados permitiram a estruturação chegando-se a 07 categorias: Idade em que iniciou-se o transtorno mental, fatores desencadeantes do transtorno mental, motivação pela busca do tratamento, esperança quanto ao tratamento medicamentoso, satisfação quanto ao atendimento recebido no CAPS, mudanças ocorridas no contexto familiar devido ao processo da doença e convívio com o paciente com transtorno mental (PTM).

RESULTADOS:

Com a realização desse estudo qualitativo constatou-se que a maioria dos transtornos mentais foram atribuídos às perdas sofridas pelos pacientes, numa faixa etária que variou entre 24 anos, com amplitude de 12 a 45 anos de idade, através das seguintes citações: separações familiares, perdas amorosas e vínculo empregatício. Dentre as motivações pela busca do tratamento pela família estiveram: a dificuldade em conviver com as manifestações do comportamento psicótico do doente, a agressividade e a violência contra a família e outras pessoas. Todos, com êxito, esperam, através do tratamento medicamentoso, a melhora do paciente. O novo modelo de atenção em saúde mental, através do CAPS foi citado pela maioria como sendo muito bom devido a diversos fatores como a facilidade para conseguir atendimento em qualquer horário, a questão de ser um local em que o doente pode ser deixado para que o mesmo possa sair da ociosidade e isolamento social, ocupando algum tempo em atividades terapêuticas. Dentre as mudanças no contexto familiar foi notória a falta de colaboração ou impaciência dos próprios membros da família, em especial os irmãos do PTM, tornando o convívio difícil e geralmente sobrecarregando uma pessoa específica da família, em geral, ou o pai ou a mãe, responsáveis pela administração do lar. A maioria dos familiares demonstrou sobrecarga econômica e emocional, necessitando de suporte da equipe de saúde para direcionar medidas para conter os agravos. Quanto ao convívio com os sintomas da doença foram citados: o de estar preso ao PTM no sentido de não ser possível deixar o doente sozinho em sua residência, o isolamento social do doente, mudando a interação/ relacionamento com os outros irmãos e o comportamento exacerbado durante os surtos psicóticos, que trazem estresse aos demais membros da família.

CONCLUSÃO:

As conclusões proporcionadas por meio da pesquisa realizada revelam a importância da família no processo de reabilitação do PTM; que muitas já estão engajadas e conscientes de sua importância, outras, nem sequer acompanham seus doentes às consultas, já que alguns comparecem às mesmas voluntariamente e desacompanhados; outros passam muito tempo sem realizar a consulta e o tratamento. Demonstrou-se ainda, através das falas dos entrevistados, a grande sobrecarga emocional e o estresse constante na convivência com o PTM, e a família tendendo a absorver para si mecanismos de defesa para driblar os problemas enfrentados, porém não deixando de sentir os mesmos sintomas de desespero, angústia e revolta a cada vez que as crises do doente ocorrem, necessitando por isso de suporte e apoio terapêutico-profissional da equipe de saúde. Sabe-se que, seja pela pesquisa ou pela assistência, ainda há muito a aperfeiçoar para garantir um tratamento eficaz e torna-se necessário buscar ainda, em caráter preventivo, programas que trabalhem junto às famílias os devidos esclarecimentos sobre as patologias mentais, a fim de evitá-las, ressaltando o diálogo familiar como sendo algo imprescindível na formação ou estruturação da personalidade do indivíduo, visto que observou-se na maioria dos entrevistados, sérias dificuldades de relacionamento e agregação entre seus membros.

 

Palavras-chave: CAPS, FAMÍLIA, EQUIPE DE SAÚDE.