61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática
UMA VISÃO PRELIMINAR DO ENSINO DE MATEMÁTICA NA ESCOLA INDÍGENA
Lucélida de Fátima Maia da Costa 1
José Camilo Ramos de Souza 1
Thiago Franco Medeiros 2
Rosi Meri Bukowitz Jankauskas 1
1. Universidade do Estado do Amazonas-UEA
2. Universidade Federal do Amazonas-UFAM
INTRODUÇÃO:

De modo geral, acredita-se que a escola indígena deveria ser um espaço onde as relações sociais e culturais se desenvolvessem, onde os alunos pudessem exercitar sua liberdade de aprender e também de fortalecer sua identidade cultural. Particularmente, em se tratando do ensino de matemática, deveria ser o lugar para se adquirir o conhecimento oficial através do fortalecimento dos saberes tradicionais. Essa concepção levou a realização de uma investigação vinculada às atividades do grupo de pesquisa GEMAZ, a qual tinha como objetivo maior compreender o processo de ensino e aprendizagem da matemática desenvolvido na escola indígena. As conclusões advindas das análises das informações coletadas no trabalho de campo permitiram delinear uma visão preliminar das relações que se estabelecem nesse processo, as quais indicam a urgência de se repensar o direcionamento que se está dando a esse ensino nesse contexto escolar.

METODOLOGIA:

Neste trabalho, a pesquisa bibliográfica complementa as informações adquiridas na prática de campo que, como parte de uma pesquisa qualitativa, utilizou-se de técnicas como a observação livre, entrevista com professores de matemática e aplicação de questionários a alunos de duas escolas indígenas, a primeira, localizada na comunidade de Cuchillo Cocha – Peru e a segunda, localizada na comunidade do Umariaçu – Brasil. Ambas atendem essencialmente a alunos da etnia ticuna. Foi feito também o acompanhamento das aulas de matemática durante dois meses, em turmas do quarto e quinto ano do ensino fundamental, o que possibilitou fazer uma análise da realidade vista no contexto escolar e da vivida pelos alunos na comunidade. Isso permitiu fazer conjecturas sobre formas de facilitar ou complementar a tarefa didática de conduzir o aluno indígena ao conhecimento da matemática oficial estabelecida pelos programas curriculares.

RESULTADOS:

A observação e a convivência no ambiente escolar permitiram ver que o ensino de matemática, no contexto analisado, não está atendendo as necessidades e perspectivas dos sujeitos envolvidos. Esse ensino, infelizmente, ainda fundamenta-se no conhecimento veiculado em livros didáticos que não contextualizam a realidade de uma comunidade indígena. Na maioria dessas comunidades a educação, ainda, está presa aos laços domésticos, a partir do quê os pais e as mães transmitem aos seus filhos e filhas através de suas ações no sentido da própria sobrevivência, como o ato de pescar e vender o peixe, coletar matéria prima para confeccionar o artesanato, plantar, colher e processar a mandioca para fazer a farinha ou tecer uma rede. Assim, se faz necessário que as crianças e os jovens percebam na escola a valorização desses conhecimentos, os quais encerram noções matemáticas intrínsecas e que podem ser, se bem trabalhados, a ponte para se alcançar a aprendizagem da matemática escolar. Decorrente da análise feita pode-se dizer que os problemas estão mais associados ao ensino do que a aprendizagem.

CONCLUSÃO:

É certo que o ensino de matemática enfrenta problemas em todos os contextos educacionais. Nos últimos cinco anos muito se tem feito para minimizar essa realidade, porém quando se trata desse ensino numa escola indígena a dimensão do problema aumenta, pois além dos fatores específicos do ensino dessa disciplina ainda existem outros, como a língua no qual é ensinada e a ausência de parâmetros para as definições matemáticas na cultura dos alunos.   Tais fatores levam a percepção da ausência de relação entre a matemática ensinada na escola indígena e a realidade vivida pelos alunos dentro ou fora de sua comunidade. Isso permite afirmar que esse ensino perde por não mostrar a matemática como ferramenta útil para se interpretar e resolver problemas ou, ainda, explicar fenômenos da natureza que de outro modo permaneceriam para sempre ocultos.     

Palavras-chave: Matemática, Ensino, Indígena.