61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 17. Planejamento e Avaliação Educacional
A CULTURA DO MÉRITO NA CASA DA FÍSICA: REFLEXÕES PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS
Luciana de Oliveira Rocha 1
Gabriel Rodrigues do Nascimento 2
Saulo Vieira Cavalcante da Silva 2
Jonemar da Costa Sarmento 1
José Pedro Cordeiro 1
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM
2. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
INTRODUÇÃO:

A educação é central nos debates sobre crescimento econômico e social dos países, para a superação do desemprego e crises, tanto nacionais (violência urbana, mendicância, etc.), quanto internacionais (guerras étnicas, migrações forçadas, desastres ambientais, etc.).  Entretanto, o modelo pedagógico dominante em Manaus é o tradicional, marcado pela suposta neutralidade, tecnicista, autoritário com a ideologia do culto ao mérito individual, para valorização do esforço e da competência. Esta permanece, tanto nas escolas públicas de Manaus, como em projetos de educação não-formal, como é o caso da “Casa da Física”. Nesse projeto, o paradigma da igualdade das oportunidades pela valorização do mérito está presente nas práticas pedagógicas de muitos monitores, avaliando e classificando com critérios objetivos e, surpreendentemente, subjetivos. O objetivo geral da pesquisa é compreender como a cultura da meritocracia influencia as práticas pedagógicas dos monitores das turmas de 3° ano do Ensino Médio na Casa da Física. E os objetivos específicos são investigar as concepções dos monitores a respeito do sistema da meritocracia em sala de aula e observar os encaminhamentos metodológicos que esses monitores têm utilizado nos momentos de avaliação da aprendizagem dos estudantes.

METODOLOGIA:
Nos procedimentos metodológicos, os sujeitos pesquisados são dois monitores de duas turmas de 3° ano do Ensino Médio, e os instrumentos utilizados são a observação participante, devido “o contato direto do pesquisador com o fenômeno observado, para recolher as ações dos atores em seu contexto natural” (CHIZZOTTI, 2006, p. 90), no sentido de verificar os métodos avaliativos da aprendizagem dos estudantes em sala de aula. Também se utilizará a entrevista semi-estruturada, com um cuidado na recepção das informações. Para Gonzaga (2007, pg. 78) “é constituída em torno de um corpo de questões do qual o entrevistador parte para uma exploração em profundidade”. As perguntas foram: em que momento costuma planejar a avaliação dos estudantes? Como você observa os avanços de seus alunos? Hoje sua turma pode ser descrita como? Fale com suas palavras o que você acha do sistema da meritocracia? Na sua opinião é possível utilizar um modelo pedagógico alternativo?  
RESULTADOS:

A análise das falas mostrou que os monitores compreendem bem o sistema da meritocracia, pois ambos vieram da escola pública e vivenciaram nas suas formações acadêmicas, metodologias tradicionais de avaliação da aprendizagem. Entretanto, estes possuem uma concepção de avaliação da aprendizagem atrelada a idéias conservadoras, segundo as quais as práticas avaliativas vivenciadas e/ou propostas se efetuam por comparações entre os sujeitos, muitas vezes desconsiderando os objetivos traçados. Apesar de sinalizar uma vivência e/ou proposta de prática de avaliação mais preocupada com o processo do que meramente com o produto, não apresenta consistência entre fundamentação teórica e prática. Quanto às técnicas e os instrumentos apontados por eles, não são os mais adequados para acompanhar o processo de ensino/aprendizagem, mas apenas para obter notas e possibilitar a promoção do educando no final do ano letivo.

CONCLUSÃO:
Entendemos que a educação é fundamental na construção e na valorização de um mundo verdadeiramente plural, como é o caso brasileiro, cercado de terras urbanas, camponesas, indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, entre outros, nas quais todos são grupos étnicos e culturais marginalizados na sociedade brasileira. Por isso, os espaços de educação, tanto formais como não-formais, devem possuir sensibilidade para incorporar novas temáticas nas pesquisas, trabalhando o ideal de igualdade e o respeito à diversidade, terminando com a sua função de homogeneizadora de um tipo único de estudante, trabalhador, camponês e cidadão na sociedade. Afinal, não se pode pensar numa mudança efetiva das condições de vida se continua o modelo pedagógico tradicional marcado pela “neutralidade” e meritocracia, cujos serviços são prestados à manutenção de relações sociais de dominação e exclusão, encobertos por uma aparência de autonomia e de neutralidade política. Essas tensões, que se refletem dentro e fora dos espaços educacionais, mostram que esta deve ser entendida como espaço de vivência de todo tipo de aprendizagem, com a socialização dos conhecimentos adquiridos.
Instituição de Fomento: CNPq e FAPEAM
Palavras-chave: meritocracia, avaliação da aprendizagem, ensino de ciências.