61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
COMPOSIÇÃO DA DIETA DE SETE ESPÉCIES DE PEIXES NA ÉPOCA DE ALAGAÇÃO EM LAGOS DE VÁRZEA, AM, BR.
Fabrício Barros de Sousa 1, 2
Sergio Roberto Moraes Rebelo 2
Cláudio Rabelo dos Santos Neto 2
Davison Pinto Carneiro 2
1. 1. Graduando em Engenharia de Pesca - Universidade Federal do Amazonas.
2. 2. Laboratório de Ecologia de Peixes - INPA/CPBA
INTRODUÇÃO:

Nas áreas alagáveis do sistema Amazonas/Solimões da Amazônia Central a flutuação sazonal do nível da água, média anual de 10m, modifica as condições do meio ambiente e influencia o ciclo de vida dos peixes. No período de alagação (enchente e cheia) o aumento da área alagada favorece o acesso dos peixes a vários habitats que disponibilizam alimentação e proteção. E, nessas condições é esperado um incremento no espectro alimentar dos peixes. Por causa das variações do meio é comum os peixes exibirem a habilidade de mudar de alimento conforme as alterações na abundância do recurso alimentar. Isso sugere que a dieta possa refletir a disponibilidade de alimento no ambiente. Nesse contexto, o conhecimento da alimentação natural de peixes é essencial para compreender fatores alimentares importantes tais como a nutrição, que gera informações sobre as necessidades e a assimilação dos alimentos, os levantamentos faunísticos e florísticos que podem ser obtidos utilizando predadores como simples meios de coleta, e a ecologia trófica. Assim, o presente trabalho propõe caracterizar a composição da dieta de sete espécies de peixes capturadas em lagos de várzea do complexo do lago Grande, Município de Manacapuru, Amazonas.

METODOLOGIA:

As coletas dos peixes foram realizadas entre Maio e Julho de 2007, período de alagação, nos lagos Jaitêua e São Lourenço, rio Solimões, Manacapuru, AM. Os peixes foram capturados durante a excursão do projeto “Biologia e ecologia de peixes de lago de várzea: subsídios para a conservação e uso dos recursos pesqueiros da Amazônia”, com baterias de malhadeiras variando entre 30 a 130 mm entre nós opostos. As malhadeiras foram estendidas da margem para o centro do lago abrangendo diferentes habitats, onde permaneceram por 24 horas, com despescas a cada 6 horas. A identificação dos peixes foi realizada com o auxilio de chaves taxonômicas. Os exemplares não identificados em campo foram transportados para o INPA e identificados com ajuda de especialistas. A partir de uma incisão ventral nos peixes, os tratos digestivos foram retirados, etiquetados e fixados em formol a 10%. No laboratório de ecologia de peixes foram lavados em água corrente e conservados em álcool 70%. A dieta foi determinada por meio da análise do conteúdo estomacal. Nas análises foram utilizados os métodos de freqüência de ocorrência e volume relativo. Os resultados de ambos os métodos foram combinados no índice alimentar (IAi), adaptados para porcentagem, mostrando a importância dos itens na dieta.

RESULTADOS:

Foram analisados os estômagos de sete espécies de peixes: Auchenipterus nuchalis, Pellona flavipinnis, Trachlyopterus galeatus, Triportheus auritus, T. angulatus, Pygocentrus nattereri e Serrasalmus spilopleura. Do total de 196 estômagos, 36 estavam vazios, 160 tinham grau de replecão acima de 10%, e foram utilizados nas análises. A composição da dieta foi variada e os peixes ingeriram detritos; material vegetal (folhas, caules, flores, raízes de macrófitas); arthropoda (aracnida); insetos (Coleoptera, Ephemeroptera, Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Megaloptera, Odonata, Orthoptera, Trichoptera); crustáceos (Decapoda); zooplâncton (Cladocera, Rotifera, Ostracoda); peixes (escamas, nadadeiras) e frutos/sementes. As análises dos estômagos apontam peixes com tendência à insetivoría: A. nuchalis (IAi= 95,7%), P. flavipinnis (IAi= 86,7%), T. galeatus (IAi= 84,7%) e T. auritus (IAi= 54,6%); frugivoría T. angulatus (IAi= 62,4%) e piscivoría P. nattereri (IAi= 80,6%) e S. spilopleura (IAi= 45,6%). Outros itens alimentares foram ingeridos por: P. flavipinnis (IAi= 10,3%) peixes; T. galeatus (IAi= 8,4%), T. auritus (IAi= 39,10%) e S. spilopleura (IAi= 31.5%)  frutos/sementes; T.angulatus (IAi= 28,5%) e P. nattereri (IAi= 10,5%) insetos e outros itens de menor importância alimentar.

CONCLUSÃO:

A. nuchalis, P. flavipinnis, T. galeatus, T. auritus, T. angulatus, P. nattereri e S. spilopleura consumiram principalmente insetos, frutos/sementes e peixes. Insetos foi o item consumido por todas as espécies analisadas seguido por peixes.  Finalmente os frutos/sementes foram identificados em cinco espécies analisadas. O fato de todas as espécies ingerirem insetos tem relação com a sua presença nas florestas alagadas que na época de cheia e enchente se abrigam nas copas das árvores como estratégia de sobrevivência. Estudos realizados na Amazônia ressaltam a importância de alimentos provenientes da floresta alagada nos hábitos alimentares de peixes. Portanto, as florestas constituem importantes biótopos para a ictiofauna no período de inundação, por fornecerem uma cadeia alimentar alternativa de origem alóctone que podem manter uma biomassa de peixes relativamente grande.

Instituição de Fomento: MCT, CNPq, PPG7, INPA, FAPEAM.
Palavras-chave: Amazônia central, Florestas alagadas, Ecologia trófica .