61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
O MITO DA CONVICÊNCIA PACÍFICA ENTRE ÍNDIOS E NÃO-ÍNDIOS EM RORAIMA, NO PERÍODO DE 1996 A 2003, VISTO PELO JORNAL FOLHA DE BOA VISTA
Paulo Sérgio Rodrigues da Silva 1
1. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO/SECD
INTRODUÇÃO:

A falsa idéia em relação a convivência pacífica entre os índios e não-índios foi mantida ideologicamente pela imprensa de Roraima e muitos historiadores oficiais. No entanto, a história desmente o mito da convivência pacífica com os vários estudos sobre  conflitos entre índios e não índios, no Rio Branco, hoje estado de Roraima,  durante os séculos XIX, XX e início do século XXI. Desde o início da colonização as relações entre as populações locais e os colonizadores nunca foram amistosas, com prevalência de ações violentas por parte dos não índios. Este projeto de pesquisa pretende analisar o comportamento da mídia imprensa – Jornal Folha de Boa Vista – em relação à veiculação de notícias sobre a violência contra os povos indígenas no período de 1996 a 2003, questão que se relaciona diretamente a homologação da terra Raposa Serra do Sol.  Com o princípio de organização interna e uma conscientização dos direitos dos povos indígenas a luta pela terra passou a ter uma pauta de reivindicações constante,  como consequência dessa mobilização, os conflitos se acirram se acirram entre os não-índios e os povos indígenas, deixando muitas vítimas.  O olhar da imprensa local para os conflitos indígenas foi marcado por uma miopia  ou pela distorção proposital da informação.

METODOLOGIA:

A metodologia adotada para a pesquisa foi: levantamento bibliográfico específico sobre a questão indígena, especificamente a Área Raposa Serra do Sol e a imprensa em Roraima; o segundo momento foi a localização das notícias sobre violência indígena no jornal Folha de Boa no período investigado e a catalogação das notícias do periódico por ano e relevância ou repercussão; por último, foi realizado a análise do material coletado de acordo com a problemática pesquisada.

RESULTADOS:

No jornal Folha de Boa Vista ficou  evidente o envolvimento tendencioso  em relação às questões indígenas, principalmente no que se refere ao processo demarcatório e a violência indígena. O discurso do jornal mostra uma impregnação ideológica quanto a questão indígena, ressaltando que o jornal é uma espécie de porta voz das classes dominantes de Roraima.  O jornal Folha de Boa Vista, é um dos jornais de maior circulação da região,  pertence ao grupo político do empresário e fazendeiro Getúlio Cruz, ex-governador do extinto Território de Roraima. O referido jornal, como  porta voz dos interesses dos políticos, dos fazendeiros, empresários e rizicultores ao noticiar que “brancos” e indígenas sempre viveram harmoniosamente nega propositadamente a história de violência praticada contras os vários grupos étnicos durante muitos anos e impõe aos leitores como verdade a ideologia dos grupos dominantes o mito da convivência pacífica. A pesquisa também evidenciou que os povos indígenas violentos são os que participam de organizações de luta e defesa de suas terras.

CONCLUSÃO:

A pesquisa sobre a violência indígena e a mídia impressa local, especificamente o jornal Folha de Boa Vista, poderá contribuir para um debate maduro sobre os vários processos violentos que se estenderam ao longo dos últimos séculos e que muitas vezes foram silenciados ou desqualificados em nome do que foi convencionado de “convivência pacífica” entre não-índios e índios, fatos não comprovados pelas pesquisas.  Revelar os discursos do jornal e suas impregnações ideológicos, quanto a questão indígena, poderá contribuir para a construção da imagem das etnias indígenas de Roraima, não como povos violentos, mas como povos que têm uma história marcada pela exploração, pela tomada de suas terras, pela perda de alguns traços culturais, mas que sabe organizar-se em movimentos e lutar pelos seus direitos.

Palavras-chave: VIOLÊNCIA, POVOS INDÍGENAS, FOLHA DE BOA VISTA.