61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 1. Genética Animal
DETECÇÃO DE SIMPATRIA EM DUAS ESPÉCIES DO GÊNERO Proechimys (RODENTIA, ECHIMYIDAE) DA AMAZÔNIA BRASILEIRA, A PARTIR DE DADOS CROMOSSÔMICOS
Eduardo Schmidt Eler 1
Eliana Feldberg 2, 4
Maria Nazareth Ferreira da Silva 3, 4
1. Mestre. Laboratório de Genética Animal / CPBA-INPA, Manaus – Amazonas – Brasil.
2. Doutora. Laboratório de Genética Animal / CPBA-INPA, Manaus – Amazonas – Brasil.
3. Doutora. Coleção de Mamíferos / CPEC-INPA, Manaus – Amazonas – Brasil.
4. Orientadora
INTRODUÇÃO:
Atualmente são conhecidas cerca de 25 espécies do gênero Proechimys na Amazônia brasileira, sendo este gênero o mais abundante dentre os roedores neotropicais. A sistemática desse grupo é extremamente complexa e na Amazônia há relatos de espécies crípticas e de até cinco espécies ocorrendo em simpatria. Os bandeamentos cromossômicos, associados aos números diplóide e fundamental, têm se apresentado como uma ferramenta útil na caracterização e distinção das espécies, auxiliando em estudos sistemáticos desse gênero. Este trabalho teve como objetivo estudar cariotipicamente roedores deste gênero provenientes do vale do rio Jari (Pará e Amapá), uma área caracterizada por um complexo de florestas primárias, secundárias e monocultivadas (Eucalyptus urograndis), que forma um mosaico de ambientes naturais e antropogênicos.
METODOLOGIA:
Sete indivíduos (3♀ e 4♂) foram coletados no município de Monte Dourado – Pará (0º27'S; 51º40'W), utilizando transecções lineares de armadilhas Sherman e Tomahawk, em florestas primária, secundária e plantações de eucalipto. Os cromossomos mitóticos foram obtidos a partir de células da medula óssea, através da técnica de “air drying” de Ford & Harmerton (1956), com pequenas modificações. A região organizadora de nucléolo (RON) foi localizada por impregnação com nitrato de prata, através da técnica descrita por Howell & Black (1980). A heterocromatina constitutiva foi evidenciada pela ação do hidróxido de bário (banda C), conforme Sumner (1972). O padrão de banda G foi determinado pela ação de tripsina, conforme Seabright (1971) com modificações. As preparações cromossômicas foram examinadas em microscópio óptico, sendo que as melhores metáfases foram fotografadas e editadas em software. Para a montagem dos cariótipos, os cromossomos bandeados (banda G) foram emparelhados, medidos e colocados em ordem decrescente de tamanho. A morfologia dos cromossomos foi determinada de acordo com a posição do centrômero. Na determinação do número de braços (NFa) foram considerados apenas os autossomos.
RESULTADOS:
Os espécimes analisados foram divididos em dois grupos distintos a partir do número diplóide: 2n=28 cromossomos (P. cuvieri-1♀), 14m+4sm+2st+6a+XX/XY, NFA=46, X e Y metacêntricos, sendo X maior que Y; 2n=38 cromossomos (Proechimys gr. guyannensis - 2♀/4♂), 6m+4sm+6st+20a+XX/XY, NFA=52, sendo X subtelocêntrico e Y um pequeno acrocêntrico. A RON localizou-se intersticialmente no braço longo de um par submetacêntrico médio em todos os indivíduos, sendo o 9º em P. cuvieri e o 5º em Proechimys gr. guyannensis, homeólogos entre si. A banda C em P. cuvieri revelou blocos conspícuos pericentroméricos de heterocromatina na maioria dos cromossomos autossomos e no X. Em adição à marcação pericentromérica no cromossomo X, um dos homólogos apresentou uma pequena banda na região proximal. Em Proechimys gr. guyannensis a heterocromatina constitutiva apresentou-se como marcações tênues, presentes na região pericentromérica da maioria dos cromossomos, inclusive do X, e o cromossomo Y apresentou-se totalmente heterocromático. A banda G apenas permitiu o correto emparelhamento dos homólogos. Em todos os casos a RON foi negativa para Banda C e G.
CONCLUSÃO:
Cromossomicamente P. cuvieri da região do vale do Jari se assemelha a P. cuvieri da região do rio Uatumã, diferenciando apenas na morfologia dos cromossomos sexuais (X e Y acrocêntricos no Uatumã). Essa diferenciação envolveu rearranjos do tipo inversão pericêntrica. A diferença verificada nos cromossomos sexuais e no padrão de banda C permite afirmar que essas populações representam unidades evolutivas distintas e a forma cariotípica encontrada na região do Jari é inédita para o gênero. Para 2n=38 cromossomos, esta é a segunda ocorrência para o gênero Proechimys, sendo o primeiro registro feito para a região de Barcelos e Santa Isabel (alto rio Negro), também classificados como pertencentes ao grupo guyanensis. Ambos cariótipos são idênticos, porém as populações são distantes geograficamente. Considerando as diferenças cariotípicas observadas, é possível concluir que existem duas espécies de Proechimys em simpatria na região do vale do Jari. Por enquanto, a distribuição dos indivíduos com 2n=38 cromossomos está restrita ao norte do rio Amazonas e leste do rio Negro, enquanto para P. cuvieri, o padrão apresentado é exclusivo para a região do Jari.
Instituição de Fomento: GCBEv/INPA, CNPq, CAPES, FAPEAM, Darwin Initiative
Palavras-chave: Citotaxonomia, rearranjos cromossômicos, diversidade.