61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
GÊNERO E LENDAS DO FOLCLORE BRASILEIRO: UM ESTUDO COM CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Marcela de Almeida Abreu 1
Gisele Maria Costa Souza 1
1. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
INTRODUÇÃO:
Este trabalho envolve lendas e a questão de gênero. São participantes, crianças matriculadas no 2° ano do 1° ciclo de uma escola pública, localizada na Baixada Fluminense no Município de Seropédica, Estado do Rio de Janeiro. Nos dias de hoje, os meios de comunicação em massa são reconhecidos como um dos agentes socializadores das crianças e podem definir padrões como a estética e os estereótipos de gênero. Nesse contexto, a literatura é uma estratégia importante para incentivar a contação de histórias e a leitura desde os primeiros anos de vida, distribuindo assim essa responsabilidade tanto para a família quanto para a escola (BAUKAT e MENGARDA, 2006). Desta maneira, objetiva-se analisar a percepção da criança na representação do feminino e masculino nas características, traços e comportamentos socialmente atribuídos às mulheres e aos homens nas lendas do folclore brasileiro. Para ser considerado folclórico é preciso ter como precedente o anonimato, a aceitação coletiva e a transmissão oral. Portanto, esse projeto se justifica como uma forma de resgatar a cultura e criar o prazer e hábito da leitura com a contação de histórias do folclore brasileiro, um misto de culturas, mitos, lendas, superstições e tradições de nosso povo.
METODOLOGIA:
Tendo em vista o objetivo de investigação, optou-se pela observação direta como método para compor uma das etapas de pesquisa na contação das lendas. O material utilizado para a coleta de dados foram três imagens para cada historia que pudessem representar o(a) personagem da lenda contada. As lendas selecionadas foram: O boto; Matinta Perera e Iara. As crianças foram separadas em três grupos para facilitar a contação e a observação. No total, trinta crianças participaram da contação. O primeiro grupo havia nove crianças; contou-se a lenda de Matinta Perera. Ao fim da história mostrou-se três fotos de mulheres, a primeira, uma senhora negra e gorda, a segunda, uma mulher de costas e corpo bem delineado, a terceira uma senhora idosa de pele branca com muitas rugas no rosto. No segundo grupo, contou-se a lenda do Boto na presença de dez crianças. As três imagens apresentadas foram de homens com chapéu onde o primeiro era negro, o segundo um loiro e o terceiro um branco de cabelos negros. O terceiro grupo, onze crianças ouviram a lenda da Iara. Após contação mostrou-se três fotos de mulheres, a primeira uma ruiva, a segunda uma negra, a terceira uma loira. Todas as crianças apontaram uma imagem que de acordo com a percepção representava a personagem central.
RESULTADOS:
O trabalho desenvolvido integra os contos populares traz às crianças uma oportunidade de entrar em contato com seus diversos conflitos e superá-los enquanto adquiri valores que lhes servirão como base para encarar as problemáticas subseqüentes (LIMA, 2000). Grande parte dos estereótipos procede de tradições culturais e/ou posições socioeconômicas reforçada e até mesmo criadas por meios de comunicação, família e escola (SANTOS, JABLONSKI, 2003). A formação dos estereótipos masculino e feminino presentes nos dias de hoje, se deu por um processo que se iniciou a milhares de anos. Entre escritos egípcios antigos, foi encontrado um romance intitulado "Os dois irmãos" (de aproximadamente 3200 anos), onde a mulher aparece como sedutora traidora e causadora da separação dos dois irmãos, ao fim da trama os homens a julgam, e ela é castigada por seus atos. Este é um dos muitos textos que leva a formação de um conceito negativo sobre as mulheres e do homem valente e destemido (FIAMONCINI, 2004).
CONCLUSÃO:
Os dados obtidos são: o grupo 1 não houve distinção pela cor de pele e parece ser baseada na aparência jovial, no grupo 2 a opção baseou-se pela vaidade do homem muito explorada nos meios de comunicação e no grupo 3 a escolha da mulher loira pode ser influencia de um padrão estético da beleza feminina que a mídia em geral exibe nas maneiras mais diversas e contundentes. Para Gomes (2002), a imagem do negro(a) é estereotipada como feia comparado a beleza branca devido ao seu cabelo, nariz e boca. Esta relação vem desde a época da colonização, onde o(a) negro(a) era considerado inferior ao branco e infelizmente até nos dias de hoje é pouco trabalhada no ensino fundamental. Finalmente escola é um ambiente que pode propiciar a formação de estereótipos ou até os potencializá-los como também atenuar essas diferenças com discussões e o conhecimento da formação da sociedade brasileira.
Instituição de Fomento: MEC/Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: Criança, Gênero, Folclore brasileiro.