61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 2. Botânica Aplicada
CARACTERIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE DA EXPLORAÇÃO DO CIPÓ-TITICA (Heteropsis flexuosa (H.B.K.) G. S. BUNTING. ARACEAE) NO PROJETO AGROEXTRATIVISTA RIOZINHO, ACRE, BRASIL
Evandro José Linhares Ferreira 1, 2
Richard Wallace 3
1. Núcleo de Pesquisas no Acre do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA
2. Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre-UFAC.
3. California State University, Stanislaus, USA
INTRODUÇÃO:

O nome cipó-titica tem sido tradicionalmente utilizado pelos habitantes do interior da Amazônia para identificar algumas Araceae do gênero Heteropsis caracterizadas pela presença de longas raízes aéreas alimentadoras que crescem em direção ao solo a partir dos galhos onde a planta-mãe está fixada. Estas raízes adventícias, duras e muito fibrosas, são extraídas e usadas para a confecção de produtos artesanais como cestos, cadeiras e bandejas, podendo também ser aproveitadas como substitutas de cordas e pregos nas construções rústicas das comunidades rurais amazônicas.O gênero Heteropsis é composto por aproximadamente 13 espécies, das quais oito ocorrem no Brasil e cinco no Acre: H. flexuosa, H. integrifolia, H. integerrima, H. oblongifolia e H. logispatacea. A espécie explorada comercialmente em larga escala na Amazônia, e no Acre, é H. flexuosa, cujas raízes podem atingir vários metros de comprimento, dependendo da altura do galho suporte. O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o extrativismo de H. flexuosa praticado em uma comunidade agroextrativista do Acre para avaliar se o mesmo é realizado em bases sustentáveis e se os aspectos econômicos da atividade favorecem ou não a intensificação da exploração.

METODOLOGIA:

O estudo foi desenvolvido no Projeto de Assentamento Agroextrativista Riozinho (9°40’S; 68°30’W), localizado no km 75 da BR-364, sentido Rio Branco-Sena Madureira. Este assentamento foi criado em 1989 e tem área de 38.896 hectares onde vivem 116 famílias de pequenos agricultores e extrativistas. Ele é uma modalidade de assentamento criada pelo INCRA onde as atividades desenvolvidas se baseiam na extração e manejo de recursos naturais. As informações sobre o sistema de exploração do cipó-titica foram obtidas em entrevistas com membros de famílias envolvidas na atividade, e observações in loco dos processos de extração, pré-beneficiamento, transporte, beneficiamento, armazenamento e comercialização. Os dados sobre o tempo empregado e o rendimento potencial da exploração das fibras (kg/ha) no campo foram quantificados a partir da observação do trabalho desenvolvido por dois extrativistas em duas parcelas de 250 m², implantadas em áreas indicadas por eles como ideais para a retirada das fibras. O custo da mão-de-obra empregada na cadeia exploratória do cipó-titica resultou de observações no campo, e levou em conta os preços praticados na comunidade. O preço de venda da fibra foi obtido junto aos extratores da comunidade e compradores no mercado de Rio Branco.

RESULTADOS:

O método de extração é relativamente simpes e consiste em puxar, com as mãos, as raízes para desprendê-las da planta-mãe. Isto raramente resulta no despreendimento da epífita de sua planta hospedeira. O pré-beneficiamento consiste no corte dos nós para reduzir o comprimento e o peso das raízes. O transporte desde a floresta, dependendo da quantidade colhida, é feito pelos extrativistas ou em animais. Raízes muito compridas são difíceis de transportar por que chegam danificadas ao destino final. O beneficiamento das raízes, feito na residência dos extratores, consiste na retirada da casca (córtex), se o comprador assim solicitar, e no preparo de feixes ou molhos de raízes cortadas em tamanho uniforme, geralmente com menos de 2 m. Um extrator consegue tirar entre 7 e 10,6 kg de fibras/hora e beneficiar até 8,8 kg de fibras/hora. A retirada do córtex das raízes resulta em 58,5 a 60% de perda do peso das mesmas. Embora o preço da fibra processada ou descascada seja o dobro, a grande redução de peso neutraliza esse ganho, pois as raízes são vendidas por quilo. Mesmo depois de beneficiadas, as fibras perdem cerca de 50% de peso após cinco dias de armazenamento na sombra. Este fator é um incentivo para que os extratores vendam as raízes o mais rápido possível após a sua retirada.

CONCLUSÃO:

A exploração do cipó-titica na região é praticada por poucas famílias, geralmente quando existe encomenda de algum comprador. Embora a espécie não seja abundante, ela parece ser suficiente para atender a demanda das famílias envolvidas na atividade, que apenas ocasionalmente a exploram em áreas de terceiros, geralmente áreas que serão desmatadas para a abertura de campos de cultivo agrícola ou de pastagens. As técnicas de exploração empregadas não parecem ser destrutivas, pois raramente as plantas de cipó-titica são destruídas pela retirada de suas raízes. Entretanto, a intensidade da exploração individual de cada planta é muito elevada e não existe um manejo ou orientação para se poupar um percentual mínimo de raízes visando garantir a recuperação rápida do sistema radicular das plantas exploradas. Com isso, o intervalo de tempo entre uma e outra retirada de raízes é muito prolongado. Economicamente, considerando o preço aproximado de R$ 2,5/kg de fibra não beneficiada, a renda obtida pela extração do cipó-titica se compara favoravelmente com a extração de látex de seringueira (Hevea brasiliensis) e a coleta de castanha do Brasil (Bertholletia excelsa). Entretanto, a falta de uma cadeia produtiva consolidada se constitui no principal limitante para a expansão da exploração.  

Instituição de Fomento: Rainforest Alliance, The New York New York Botanical Garden e PESACRE
Palavras-chave: Acre, cipó-titica, exploração.