61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
FORMAÇÃO DE COMUNIDADES INDÍGENAS NA CIDADE DE MANAUS (AM): O CASO TIKUNA
Josibel Rodrigues e Silva 1
1. Universidade Federal do Amazonas
INTRODUÇÃO:

Como grupo social os indígenas percorreram um longo caminho de lutas frente à sociedade colonizadora. A expectativa em relação a esse enfrentamento seria, para algumas comunidades políticas e acadêmicas, um desvanecimento das tribos nativas brasileiras, com a sua extinção ou sua total assimilação pela sociedade nacional. Contudo, as várias etnias ou foram extintas, ou permaneceram, não nos padrões de seus antigos costumes, mas na sua auto-identificação étnica. Cada vez mais estes povos se organizam politicamente, sejam em suas terras ou migrando para as cidades, onde percebem que a afirmação de suas culturas e a manutenção de ritos e instituições sócio-tradicionais se tornam partes integrais de sua mobilização política, caracterizando novas formas de protagonismo. Dessa forma, este trabalho objetiva analisar o desenvolvimento de uma autoconsciência étnica e cultural, que se reflete em uma realidade de dinamização na questão indígena na cidade de Manaus.  Com isto, busca se ter uma perspectiva mais articulada para se entender e pensar as ações de caráter político e organizacionais que se configuram em diferentes estratégias de mobilização.  

METODOLOGIA:

A opção metodológica que nos propomos a seguir durante o percurso da pesquisa foi de natureza qualitativa, do tipo exploratória e de campo. Os sujeitos de nossa pesquisa foram os indígenas da etnia Tikuna, representados pela Associação Comunidade Wotchimaücü (ACW), localizada no Bairro Cidade de Deus, Zona Norte da cidade de Manaus (AM). As fontes-chave de informação foram os Tikuna que vivenciaram a migração para Manaus, homens e mulheres fundadores da associação e jovens maiores de 18 anos. Para este estudo, utilizamos entrevistas e conversas informais anotadas no diário de campo no ano de 2007, assim como presenciamos algumas reuniões na comunidade, e sua participação em seminários promovidos por órgãos governamentais.  

RESULTADOS:

Para viver na cidade o grupo Tikuna passou por algumas mudanças. Nos aspectos relacionados a trabalho, os Tikuna trocaram a agricultura familiar pelo trabalho industrial, a princípio, e pelo setor de serviços formais ou informais, posteriormente. Por conta disto, e devido a várias dificuldades sociais e econômicas na cidade, os Tikuna logo tentaram se organizar em uma associação. Formaram então, a Associação Comunidade Wotchimaücü (ACW), criado no ano de 2002. O órgão foi legalmente constituído para o fortalecimento da cultura, além de fomentar uma formação política dentro da comunidade, procurando alternativas de geração de renda, visando a melhoria da qualidade de vida dos Tikuna associados. Com a formação da associação, foi facilitada a criação de alguns projetos que já se realizaram, estão em andamento, e, outros estão por vir. Dos projetos, os Tikuna obtiveram algumas conquistas como, a revitalização da Língua e Cultura Tikuna, a formação de um grupo musical Wotchimaücü, confecção e venda de artesanato e de inclusão digital na comunidade. Tais projetos foram e estão sendo realizados em parceria com órgãos governamentais, não governamentais e instituições de ensino.

CONCLUSÃO:

O grupo Tikuna torna-se um exemplo de que os indígenas que moram nas cidades podem desenvolver um modo de vida diferenciado, com uma identidade coletiva forte. Para efeitos de mobilização, a formação de comunidades parece ser uma alternativa não apenas de fortalecimento político, mas também identitário, no qual os indígenas formam associações para tentar vivenciar a cultura étnica, e dessa forma, resistir à exclusão tão comum na cidade.  

Palavras-chave: comunidades indígenas, identidade, grupo Tikuna.