61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural
TRABALHADORES DA MALVA E OS AGENTES DA COMERCIALIZAÇÃO: A DIALÉTICA DA DEPENDÊNCIA.    
Aldenor da Silva Ferreira 1
Antônio Carlos Witkoski 2
Therezinha de Jesus Pinto Fraxe 3
Luciana Raffi Menegaldo 4
1. Universidade Federal do Amazonas
2. Universidade Federal do Amazonas
3. Universidade Federal do Amazonas
4. Universidade Federal do Amazonas
INTRODUÇÃO:

 

O cultivo de malva no Estado do Amazonas há mais de quatro décadas é uma importante modalidade de trabalho desenvolvida pelo camponês/ribeirinho e sua família em suas várias comunidades rurais. Essas fibras servem de matéria-prima para a fabricação de diversas mercadorias, tais como, fios, sacos, tapetes, materiais para estofamento de automóveis, bolsas, cintos, dentre outros. Entretanto, alguns fatores contribuem para não efetivação da agricultura de malva, no Estado, tais como: a falta de políticas contínuas e justas de preços; garantia de compra da produção; ausência de tecnologia que eliminem o trabalho degradante e que garanta qualidade das fibras; aquisição das sementes; dificuldades de transporte e escoamento da produção. Esses aspectos deixam os camponeses produtores de malva dependentes das ações dos agentes da comercialização, gerando instabilidade no processo produtivo e, conseqüentemente, a desvalorização dessa atividade agrícola na região. No processo de  comercialização das fibras de malva, que são fundamentalmente matérias-prima, portanto, não são vendidas em feiras e lojas urbanas, o camponês fica ainda mais à mercê da flutuação do mercado, e do “bom humor” do agente da comercialização, uma vez que esses sujeitos sociais representam à única forma de comercialização das fibras. É por meio dos patrões e marreteiros que os camponeses conseguem mercado para seus produtos. Os trabalhadores da malva são os elos mais fracos de uma cadeia produtiva que tem como característica principal o monopólio das ações.

 

METODOLOGIA:

Para uma análise eficaz do processo de trabalho na malva critério de quantidade e qualidade foram articulados de maneira conjunta. Os procedimentos metodológicos utilizados para o diagnóstico do processo produtivo consistiram em entrevistas semi-estruturadas, conversas informais e observação direta dos trabalhadores em sua atividade de produção. Foram aplicados oito questionários em N. S. das Graças, (Manacapuru) 18 em Bom Jesus (Anamã) e 10 em Santo Antônio (Anori). Outra técnica importante, que também se mostrou eficaz, foi à técnica de entrevistas. O uso do gravador com os trabalhadores da malva permitiu aos mesmos discorrerem livremente sobre seu modo de vida. No tocante às delimitações e escolhas dos atores sociais que foram entrevistados e observados, não foram selecionados de maneira aleatória, mas sim fazendo uso de critérios de prioridade com relação de pertinência da pesquisa (HAGUETTE, 1992 p. 96).

As fontes primárias foram fornecidas pelos próprios camponeses – trabalhadores da malva. Já as secundárias obedeceram a critérios de importância para a pesquisa. Nesse sentido, contribuíram o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas, (IDAM), Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo Amazônia (PIATAM) e o Núcleo de Socioeconomia da Universidade federal do Amazonas (NUSEC), cujo banco de imagens e de dados, relatórios e apoio logístico foram determinantes para a execução da pesquisa.

 

RESULTADOS:

Os fardos de malva são em média são de 50 kg e são comercializados diretamente com os agentes da comercialização, patrões e marreteiros, sujeitos sociais que atuam mais fortemente no setor têxtil no Amazonas. Segundo Witkoski (2007) os agentes da comercialização, são sujeitos sociais que não produzem nenhum tipo de produto – seja de origem agrícola, criação animal ou extrativista – apenas apropriam-se dos excedentes da produção camponesa para vender e revender na cidade.

Os agentes da comercialização (marreteiros e patrões) adiantam sementes, bem como gêneros de primeira necessidade para os trabalhadores da malva, e depois compram toda sua produção por preços que variam de R$ 1.00 a R$1.20 o kg. A proporção e o contrato que eles estabelecem com esses trabalhadores é de 10 kg de fibras para 1kg de sementes. O custo de um saco de sementes de malva de 50kg, por exemplo, é de aproximadamente R$400.00. São necessários no mínimo 1 saco para se plantar cerca de 2ha, que terá uma produção média de no máximo 2 toneladas. Portanto, se o trabalhador produzir, por algum motivo, apenas uma tonelada de fibras e vendê-las por R$1.00 o kg, ele terá um lucro líquido de apenas R$600.00. Uma renda pequena se levarmos em consideração todo o processo de trabalho. Todavia, esses trabalhadores não têm como escapar desse processo, pois os agentes da comercialização representam à única maneira de escoar a produção e garantir renda. Segundo Fraxe (2000, p. 150) é nas relações mantidas entre os camponeses e os agentes da comercialização que está representado um dos momentos mais importantes de subordinação do camponês à vontade do capital comercial.

CONCLUSÃO:

O cultivo de malva pode configurar-se como uma alternativa importante de geração de emprego e renda para as populações varzeanas da Amazônia, desde que haja o desenvolvimento de ecotecnologias que removam as dificuldades dos processos de trabalho e, também, políticas públicas que regulem todo o processo produtivo, principalmente a etapa da comercialização do produto final. É preciso o retorno do crédito rural feito diretamente ao produtor, bem como outras ações de incentivo, para que haja capitalização desse agente e consequentemente o fim  das relações de aviamento, onde o produtor precisa pagar com o produto in natura as mercadorias e o dinheiro adiantados pelos patrões, marreteiros e atravessadores.

Diferentemente das fibras sintéticas derivadas do polímero extraído do petróleo, que não são biodegradáveis, as fibras de malva, são o oposto. Essa atividade possui grande capacidade de geração de emprego. Poderia se fomentar toda uma cadeia produtiva, que se estenderia desde a várzea –  área do plantio –  até o supermercado, shopping e feiras em geral. Entretanto, os entraves do processo produtivo e da comercialização precisam ser removidos. Superar esses obstáculos é uma tarefa árdua, mas que deve ser encarada com seriedade pelos governos e, também, pela academia, para que o Estado do Amazonas amplie seu leque de opões produtivas, gerando emprego e renda no interior, a partir do cultivo de uma planta que produz fibras biodegradáveis e que são extremamente adaptadas ao clima e hidrografia da região.

 

Instituição de Fomento: Nusec/Piatam
Palavras-chave: Trabalho, Comercialização, Malva.