61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
MENINAS-MÃES: RETRATOS DA MATERNIDADE JUVENIL NA PERIFERIA DE IJUÍ RS
Denise Raquel Rohr 1
Maria Simone Vione Schwengber 2
1. UNIJUI, Graduanda
2. UNIJUI, Dr.ª, Orientadora
INTRODUÇÃO:

A gravidez na adolescência não se constitui como um acontecimento recente na Sociedade Ocidental. No século XIX e início do século XX, em algumas culturas, as meninas-mulheres casavam-se entre 13 e 14 anos, e eram educadas para serem esposas, mães e cuidar da casa. Hoje a gravidez na adolescência continua a acontecer, porém, o que a diferencia é que alteraram-se os padrões de fecundidade da população feminina, e ocorreram redefinições na posição social das mulheres, gerando assim novas expectativas para as jovens no tocante à escolarização e à profissionalização. Conforme relatório da ONU (2008), o Brasil tem a segunda maior taxa de gravidez entre jovens de 15 a 19 anos da América do Sul, ou seja, 89 nascimentos a cada 1000 mulheres nesta faixa etária. Meyer (2006) destaca que a temática da maternidade [da gravidez] é de uma atualidade sem fim. Assim, entendemos que há um campo específico da história da maternidade e da gravidez ainda a ser explorado, sejam elas desejadas/recusadas, realizadas/interrompidas. Nesse sentido, nosso objetivo foi identificar como e de que modo as meninas lidam com as condições corporais, adolescentes/jovens e grávidas, partindo do seguinte questionamento: Quais os rastros que a gravidez produz nas trajetórias escolares e sociais das jovens estudadas?

METODOLOGIA:

Caracterizou-se como pesquisa de campo e nesta, analisamos a ocorrência da gravidez em adolescentes e jovens, triadas a partir de dados do CAAMI - Centro de Atendimento aos Adolescentes do Município de Ijuí-RS - direcionado às famílias vulnerabilizadas pela pobreza. Mapeamos 46 jovens grávidas no período de 2006 e 2007. Realizamos dez entrevistas semi-estruturadas com perguntas abertas. Fez-se então uma leitura transversal das entrevistas, separando-as por categorias temáticas que emergiram do discurso das entrevistadas. Este estudo apoia-se na análise do discurso, na perspectiva de Foucault, tomando o campo textual das entrevistas, o depoimento (suas linguagens) como narrativas discursivas. Das jovens estudadas, nove possuem filhos da adolescência, uma está grávida do primeiro filho e duas estão grávidas do segundo filho. Possuem idades entre 15 e 19 anos, duas continuaram a estudar após a gestação, e as demais pararam entre a 4.ª e 8.ª série do Ensino Fundamental “por causa da gravidez”. A vida das meninas pesquisadas e das suas famílias é marcada pela gravidade da violência e pela pobreza impostas, pois tem que sobreviver mensalmente com uma renda, com menos de um salário mínimo (complementado pelo trabalho de biscate e pelo Programa Bolsa Família do Governo Federal).

RESULTADOS:

Do movimento de análise, focalizamos alguns resultados: o corpo e a sexualidade na adolescência tornam-se um dos modos de afirmação e de entrada no universo adulto; o uso ou não de métodos contraceptivos pelas jovens estudadas está diretamente ligado ao acesso a eles; para essas jovens pobres, a maternidade pode ser uma das possibilidades de serem reconhecidas socialmente. Com a gravidez, as jovens estudadas passaram a ocupar um lugar de mulher-mãe-adulta dentro do núcleo familiar, ainda com os pais ou na nova família que venham a constituir. Após a gestação, os tempos e espaços sociais como os de lazer das jovens-mães, restringem-se ainda mais à domesticidade. O tempo dedicado ao lazer é usado de modo diferente entre as jovens e seus companheiros, sendo atravessado por fatores como as diferenças de gênero, pois o companheiro, como elas afirmam, sai para o bar, para o futebol, e elas tomam o ambiente doméstico como sendo de sua responsabilidade. O cuidado com o filho, bem como outras responsabilidades demandadas pela maternidade, impõe de certo modo, a restrição ainda maior do tempo de lazer das jovens. O tempo agora é quase exclusivo para os cuidados com o filho, pois a gravidez lhes trouxe outras responsabilidades e “o filho ocupou um tempo muito grande em suas vidas”.

CONCLUSÃO:

O acesso ao mercado de trabalho, aos espaços sociais de lazer, para as meninas estudadas se torna mais difícil, pois elas são excluídas pela cor da pele, pela escolarização que possuem, pela classe social, e pelo lugar onde moram. O endereço do bairro, da comunidade, da vila ou da periferia, torna-se um critério de seleção para o ingresso no mercado de trabalho, impedindo-as de buscar melhores condições para sobreviver, criar e sustentar os filhos. As adolescentes em suas narrativas referem-se à gravidez como parte de um projeto de vida e de constituição da família, uma espécie de passaporte para entrar na vida adulta e ter reconhecimento social. Ainda, restringem seu espaço de lazer ao espaço doméstico e ao bairro onde moram. Apesar das dificuldades, as jovens acreditam numa melhor perspectiva de vida, acreditam que o amanhã será melhor, terão condições de sustentar o filho “e dar tudo o que ele pedir”. Talvez, fosse necessário criar e/ou ampliar programas sociais e políticas públicas, que dêem uma estrutura para que essas meninas retornem à escola, se profissionalizem, se insiram no mercado de trabalho remunerado, se aproximem e usufruam dos espaços sociais de lazer e tenham maiores, melhores e reais perspectivas de futuro, para si e para seus filhos.

Instituição de Fomento: PIBIC - UNIJUÍ – PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Palavras-chave: Maternidade e Gênero, Juventude, Lazer.