61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 1. Farmacologia Bioquímica e Molecular
BIOGÊNESE E FUNÇÃO DOS CORPÚSCULOS LIPÍDICOS NA INFECÇÃO PELO VÍRUS DENGUE 2 IN VITRO
Giselle Barbosa de Lima 1
Iranaia Assunção-Miranda 2
Marcelo Samsa 3
Andrea Gamarnik 3
Andrea Thompson Da Poian 2
Patrícia Torres Bozza 1
1. Laboratório de Imunofarmacologia - Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ - Brasil
2. Instituto de Bioquímica Médica/UFRJ - Brasil
3. Fundación Instituto Leloir - Argentina
INTRODUÇÃO:

O vírus dengue (DV), membro da família Flaviviridae, é um patógeno humano responsável por elevadas taxas de infecções e mortes nos países tropicais e subtropicais. Uma das razões para a ausência de abordagens terapêuticas adequadas se deve ao desconhecimento dos mecanismos moleculares envolvidos na interação do DV com as células do hospedeiro. No entanto, evidências sugerem que a regulação de diferentes etapas do metabolismo celular exerce um papel crucial tanto na replicação viral quanto na resposta do hospedeiro à infecção. Estudos recentes demonstraram o papel dos corpúsculos lipídicos (CL) - organelas citoplasmáticas presentes em virtualmente todas as células de mamíferos - na infecção pelo vírus hepatite C, com implicações na sua capacidade replicativa e infecciosa. Temos evidências de que os CL não são apenas locais de armazenamento celular de lipídios, mas são estruturas dinâmicas, altamente reguladas, que aumentam em número e tamanho em uma variedade de processos inflamatórios e que desempenham funções como domínios envolvidos no metabolismo lipídico, sinalização celular, formação de mediadores inflamatórios e no tráfego de membranas. Considerando que o envolvimento dos CL na infecção pelo DV ainda não foi avaliado, resolvemos investigar esse processo in vitro.

METODOLOGIA:

A indução da formação de CL pelo DV foi estudada nas células BHK (Baby Hamster Kidney) e HepG2 (Hepatoma humano). As células em cultura foram infectadas com o vírus DV2 ativo ou inativado por calor, na razão de 4 vírus/célula, durante 2h. Após 24 ou 48h, as células foram coradas com tetróxido de ósmio para avaliação e quantificação dos CL por microscopia óptica. O tráfego de proteínas virais e sua interação com os CL foram avaliados através da técnica de imunocitoquímica associada à incorporação de lipídios fluorescentes (bodipy), usando dupla-marcação com anticorpo específico para a proteína do capsídeo do DV2. Estes resultados foram confirmados por Western blotting, utilizando frações de CL purificadas através do gradiente de sacarose após o rompimento das células por cavitação em nitrogênio. Utilizamos abordagens farmacológicas com drogas que atuam sobre a inibição da formação de CL, tais como o C75 e o Triacsin C, e avaliamos o impacto da inibição da sua formação sobre a replicação viral pelas técnicas de infecção das células com DV2 carregando o gene reporter luciferase ou por PCR em tempo real. Os dados obtidos nesse estudo foram comparados através do teste Newman-Keuls-Student, considerando significativos os valores de p<0,05.  

RESULTADOS:
DV2, mas não o DV2 inativado por calor, foi capaz de induzir aumento na formação de CL tanto nas células BHK quanto nas células HepG2 in vitro. A indução da formação de CL pelo DV2 parece ser um evento específico, já que este fenômeno foi bloqueado por um inibidor da enzima ácido graxo sintase (C75) e um inibidor da enzima acil-CoA sintetase (Triacsin C). Através de imunocitoquímica associada à incorporação de sondas fluorescentes (bodipy), demonstramos que a proteína do capsídeo do DV2 estava colocalizada nos CL, sugerindo que proteínas do DV trafeguem para os CL. Visando confirmar estes dados, isolamos os CL por fracionamento subcelular seguido por Western blotting e constatamos que a proteína do capsídeo do DV2 estava localizada nas frações purificadas de CL. Posteriormente, nos perguntamos se a inibição de CL teria impacto na replicação viral e demonstramos que o tratamento das células, após a infecção, com C75 ou Triacsin C inibiu a replicação do DV2 de maneira dependente da dose e do tempo, paralelo à inibição de CL.
CONCLUSÃO:
Os nossos resultados revelam que a infecção pelo vírus dengue leva à biogênese de corpúsculos lipídicos e tráfego de proteínas virais para essas organelas. Além disso, demonstramos que a inibição destas estruturas citoplasmáticas durante a infecção levou à inibição da replicação viral, sugerindo um papel dos corpúsculos lipídicos na patogênese da infecção pelo dengue. Desse modo, os corpúsculos lipídicos podem vir a representar um potencial alvo terapêutico para a terapia antiviral.
Instituição de Fomento: FIOCRUZ / CNPq / FAPERJ
Palavras-chave: Inflamação, Dengue, Metabolismo lipídico.