61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 5. Genética Vegetal
VARIABILIDADE GENÉTICA EM ETNOVARIEDADES DE Capsicum sp. DA AMAZÔNIA.
Danilo Fernandes da Silva Filho 1
Hiroshi Noda 1
Francisco Manoares Machado 1
Ayrton Luiz Urizzi Martins 1
Sandra do Nascimento Noda 2
Pedro Chaves da Silva 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
2. Universidade Federal do Amazonas - UFAM
INTRODUÇÃO:
Na Amazônia existe uma excelente diversidade entre os vegetais, os animais, culturas, etnias e línguas, resultante do encontro de diferentes povos que, ao longo dos séculos habitaram a região. Na região do Alto rio Negro, também é encontrada nos sítios, roças, feiras e mercados, uma grande variedade espécies do gênero Capsicum. Esta diversidade se repete entre outras espécies hortícolas (abóbora, abacaxi, abiu, bananeira, biribá, maxixe, mapati, ingá e outros). Apesar do Brasil estar contido no centro de origem das pimenteiras e o germoplasma de pimentas e pimentões terem uma importante base de sustentação no mercado de hortaliças, pouco se sabe sobre as espécies de Capsicum nativas do País, encontradas principalmente, em áreas da Mata Atlântica e Amazônia. Por isso, estudos sobre as variações genéticas são importantes para definir descritores qualitativos e quantitativos que permitam o melhor conhecimento da biologia das espécies e da constituição gênica de suas populações, que poderá contribuir para implantação de um banco de germoplasma, conservação do material em outros ambientes e a utilização da variabilidade genética em programa de melhoramento da espécie, para muitas finalidades. Este trabalho avaliou 24 etnovariedades de Capsicum originárias de São Gabriel da Cachoeira, AM.
METODOLOGIA:
Foram avaliadas 24 etnovariedades (ETNs) de Capsicum cultivadas por índios e caboclos do município de São Gabriel da Cachoeira, AM. O experimento foi conduzido no período de agosto de 2008 a abril de 2009, na Estação Experimental do Ariaú, no município de Iranduba, AM, em solo de várzea (Gley pouco húmico). Adotou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com 24 tratamentos (ETNs) e três repetições representadas por cinco plantas cultivadas sem adubação, em um espaçamento de 1,0 x 1,0 m. As seguintes características qualitativas e quantitativas das ETNs foram avaliadas: Identificação das espécies, altura da planta, diâmetro do caule, largura da copa, formato dos frutos, número de frutos/planta, diâmetro transversal dos frutos, comprimento dos frutos, espessura da polpa, teores de pungência dos frutos, massa média dos frutos e massa total dos frutos. Estudou-se as divergências genéticas entre as ETNs de Capsicum por meio de análises uni e multivariadas. As médias foram comparadas pelo teste de Scott e Knott em nível de 5% de probabilidade. Utilizaram-se métodos de agrupamentos para estimar as distâncias genéticas entre as ETNs e reunir as unidades amostrais em grupos para demonstrar a homogeneidade dentro e a heterogeneidade entre eles (Falconer, 1987; Cruz, 1994).
RESULTADOS:
Das 24 ETNs avaliadas dez foram identificadas como Capsicum chinense, seis como Capsicum annuun, cinco como Capsicum frutescens e três como Capsicum baccatum. A literatura registra que apenas cinco espécies de Capsicum são aceitas como cultivadas: C. annuum, C. frutescens, C. chinense, C. baccatum e C. pubescens. Apesar dessas espécies serem consideradas como de hábito reprodutivo autogâmico, foram detectadas variabilidades genéticas entre e dentro delas. Levando-se em consideração a forma, o teor de pungência agradável, maturação precoce dos frutos (entre 85 e 107 dias), qualidades para o consumo in natura e na agroindústria em processamento de conservas, molhos e condimentos, seis ETNs de C. chinense, três de C. frutescens e uma de C. baccatum podem ser recomendadas para o cultivo imediato pelos agricultores familiares das várzeas amazonenses. Os grupamentos formados pelo método do Vizinho Mais Próximo, utilizando a Distância Generalizada de Mahalanobis, agruparam as 24 ETNs em nove diferentes grupos. Entre os principais componentes de cada um dos grupos, as ETNs mais divergentes, foram as originárias das comunidades de Camanaos e Cachoeira Pequena, indicando que as divergências intra e intergrupos são compatíveis com a distribuição geográfica das ETNs em S. G. da Cachoeira.
CONCLUSÃO:
Os pesquisadores brasileiros ainda necessitam de muitos conhecimentos sobre os importantes recursos genéticos de pimentas e pimentões da Amazônia. Nos resultados da pesquisa realizada com estas 24 ETNs, observou-se que, a variação no tamanho e cores dos frutos é algo extraordinariamente interessante. Os maiores e mais pesados frutos foram produzidos pelas espécies C. baccatum (18,5 g) e C. annuun (23,7 g). O maior número médio de frutos por planta (1880) foi detectado na ETN da espécie C. frutescens, procedente da comunidade Itacoatiara. A magnitude das divergências genéticas entre as ETNs de S.G. da Cachoeira, estimada pelas Distâncias Generalizadas de Mahalanobis (D2) e o método Hierárquico de Agrupamento pelo Vizinho mais Próximo, demonstrou que a variabilidade genética presente intra e intergrupos, permitiu selecionar cinco acessos para utilizá-los como progenitores em programa de melhoramento das pimenteiras, e de sete para trabalhar em sistemas de cultivos para uso comercial imediato. Dessa forma, afirma-se que, a variabilidade fenotípica dos frutos das ETNs de Capsicum poderão contribuir para o melhor aproveitamento dessas espécies, com agregação de valores e a promoção de oportunidades alternativas para geração de renda aos agricultores familiares do estado do Amazonas.
Instituição de Fomento: FAPEAM, FINEP E INPA.
Palavras-chave: Recursos genéticos, novos produtos, melhoramento genético.