61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 1. Genética Animal
CARACTERIZAÇÃO DE QUATRO ESPÉCIES DO GRUPO Simulium perflavum DA AMAZÔNIA BRASILEIRA PELO MÉTODO DE BARCODE
Fernanda Rodrigues Soares 1
Alessandra Cunegondes 1
Neusa Hamada 1
Ana Claudia Kaminski 2
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia / INPA
2. Universidade Federal do Amazonas / UFAM - Coari
INTRODUÇÃO:

Espécies do grupo Simulium perflavum (Diptera: Simuliidae) são muito similares, principalmente no estágio de larva e adulto (Hamada & Adler, 1999a), sete são as espécies que compõem esse grupo (Adler & Crosskey, 2008). Espécies amazônicas pertencentes a esse grupo de espécie têm sua identificação dificultada, sendo duas delas, S. rorotaense Floch & Abonnenc e S. maroniense Floch & Abonnenc consideradas sinônimas, anteriormente (Coscarón, 1990). Caracteres citológicos e morfológicos foram utilizados para a revalidação de S. maroniense (Hamada & Adler, 1999b), no entanto, em um estudo utilizando isoenzimas, locos diagnósticos não foram observados entre o citótipo D de S. maroniense e S. rorotaense (Scarpassa & Hamada, 2003). O método de “DNA barcoding”, sistema de identificação por meio da análise de um pequeno segmento do genoma, representa um método extremamente promissor para o diagnóstico da diversidade biológica (Hebert et al., 2003a). O método apresenta diversas vantagens, tais como: possibilitar a identificação de espécies em qualquer estágio de vida; facilitar a delimitação de espécies crípticas; e auxiliar áreas diversas do conhecimento relacionadas (Savolainen et al., 2005).

 A análise de regiões curtas e padronizadas de um gene (“DNA barcodes”) pode discriminar espécies animais reconhecidas (Hebert et al. 2003a, b). Em particular, é sugerida a designação de um simples fragmento de mtDNA na extremidade 5’ do gene Citocromo oxidase subunidade I (COI), o qual é facilmente amplificado de diferentes estágios da vida com os primers padrões do “barcoding” (Ekrem et al., 2007). O objetivo desse trabalho foi utilizar o método de Barcode para discriminar quatro espécies do grupo S. perflavum da Amazônia brasileira.

METODOLOGIA:

Foram estudados indivíduos das seguintes espécies do grupo perflavum: S. perflavum Roubaud, S. rorotaense, S. maroniense, S. trombetense Hamada, Py-Daniel & Adler. Espécimes utilizados nesse estudo foram coletados e preservados em álcool 100%, espécimes adicionais foram provenientes da coleção do laboratório de Citotaxonomia e Insetos Aquáticos, do INPA. O DNA total foi isolado pelo kit “DNeasy Blood and Tissue” da Qiagen, de acordo com o protocolo fornecido pelo fabricante. As seqüências do gene COI foram amplificadas por “Polymerase Chain Reaction” (PCR), de acordo com o programa de temperaturas padronizado. Os produtos da PCR foram separados por eletroforese em gel de agarose 1,5%, corado com brometo de etídeo. As bandas de DNA foram visualizadas em um transiluminador de luz ultravioleta (UV) e fotografadas. Os fragmentos foram purificados através da reação de Exo-sap. O seqüenciamento foi realizado em seqüenciador MegaBACE 1000. A análise das seqüências já alinhadas foi realizada pelo método Kimura-2-parâmetros. As espécies foram agrupadas em uma árvore de Neighbor-Joining.

RESULTADOS:

Foi possível identificar e separar as espécies S. perflavum e S. trombetense já durante o alinhamento através da observação de sítios polimórficos, o que não foi possível com as duas outras espécies. No total, S. perflavum obteve 38 sítios polimórficos e S. trombetense, 23. S. rorotaense e S. maroniense apresentaram sítios diferentes das outras duas espécies (22), entretanto nenhum entre elas mesmas. Foram considerados 466 pares de bases.

De acordo com a média de variações interespecíficas, S. perflavum constitui claramente uma espécie diferente das demais, por possuir menor variação interespecífica de 11,7%. S. trombetense também apresentou variação interespecífica maior do que a intraespecífica, confirmando sua monofilia. Já a relação entre S. maroniense e S. rorotaense apresentou 3,8% de divergência nucleotídica, o que poderia sugerir que essas duas espécies na verdade constituem apenas uma.

CONCLUSÃO:

A baixa variabilidade genética entre S. rorotaense e S. maroniense pode indicar que: a) as linhagens estão em processo de especiação, não havendo diferenciação genética suficiente para que sejam separadas; b) hibridização; ou c) uma combinação desses fatores (Hebert et al, 2004b).

S. perflavum constitui um ramo monofilético, assim como S. trombetense, o que viabiliza perfeitamente a utilização do método de barcode para essas duas espécies.

            S. maroniense e S. rorotaense são, provavelmente, espécies recentemente formadas e por isso constituem um grupo parafilético, o que dificulta a utilização do método do barcode para discriminá-las.

Instituição de Fomento: CNPq, FAPEAM, INPA
Palavras-chave: Barcode, Simuliidae, Sistemática Molecular.