61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
MUDANÇAS NA DISTRIBUIÇÃO DA PECUÁRIA BOVINA NO TERRITÓRIO BRASILEIRO (1996-2006)
Danton Leonel de Camargo Bini 1
Eder Pinatti 1
1. Instituto de Economia Agrícola/Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
INTRODUÇÃO:

No estado de São Paulo, na primeira metade do século XX, a pecuária bovina passou por grandes transformações com a introdução de modernas técnicas de abate. Estando esse fragmento do território brasileiro vivenciando um acelerado processo de urbanização, a maioria das plantas frigoríficas e pastagens de engorda de bovinos estava localizada em terras paulistas. Dessa forma, em meados de 1960, São Paulo realizava mais da metade dos abates nacionais (Pigatto, 2001).  Nos anos 1970, com o Programa Nacional de Integração (PIN), intensificam-se os projetos de cria e recria bovina no Centro-Oeste do país, com destaque para a ocupação da atividade no estado de Mato Grosso. Na década de 1990, com a reestruturação produtiva da economia gerada principalmente pelas reformas regulatórias de atuação do Estado, o surgimento de inovações no elo de refrigeração e transporte de carnes que capacitaram aumentar as distâncias entre o abate e o consumo e as disputas de rentabilidade entre as atividades agropecuárias nas terras mais caras do Centro-Sul acentuaram o deslocamento das áreas de engorda e dos frigoríficos para regiões de terras baratas em terrenos recém desmatados na floresta amazônica.       

METODOLOGIA:

Para a confecção desse trabalho, além do levantamento bibliográfico que possibilitou um embasamento teórico para o estudo, priorizou-se a análise da formação sócio-espacial (Santos, 1978) da pecuária bovina no território brasileiro. Através da coleta de informações no banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se visualizou o movimento do rebanho bovino no espaço geográfico nacional entre os anos de 1996 e 2006. Para a análise dos dados, dividiu-se o território brasileiro em três fragmentos: região Centro-Sul, onde se incluiu os estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo; região amazônica, na qual se introduziu os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima; e os outros estados do país (incluído o Distrito Federal), conformados nesse estudo por Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins (este último estado, mesmo sendo oficialmente pertencente à Amazônia Legal, foi retirado na análise da região amazônica em estudo, por possuir somente uma minúscula fração integrada à vegetação característica dessa região do país).       

RESULTADOS:

No ano de 1996, tínhamos no Brasil um rebanho bovino de 158,2 milhões  de cabeças. Desse montante, 80,6 milhões (50,9%) estavam localizados na região Centro-Sul; 32,3 milhões (20,4%) na região amazônica e 45,5 milhões. (28,8%) nos outros estados do país. Acentuado o processo de deslocamento dos bovinos e das plantas frigoríficas para as áreas de frente de expansão agropecuária nas bordas e em enclaves da floresta amazônica, chega-se em meados da primeira década do século XXI apresentando a pecuária bovina uma nova e perversa geografia em sua ocupação do território brasileiro. Reajustado o rebanho bovino nacional para 205,9 milhões de animais, em 2006 este se apresenta dividido nas regiões brasileiras da seguinte forma: 89,1 milhões (43,3%) na região Centro-Sul, 65,9 milhões (32,0%) na região amazônica e 50,8 milhões (24,7%) nos outros estados do país, com crescimentos respectivamente entre essas repartições de 10,7%, 104,5% e 11,6% em relação ao ano de 1996.      

CONCLUSÃO:

Essa mudança na geografia da pecuária bovina brasileira tem acarretado uma visibilidade negativa do circuito espacial de produção pecuário nacional. Seguindo os rastros do desmatamento criminoso que se dá na floresta amazônica, a pecuária bovina tem contribuído para a triste efetivação do Brasil na lista dos maiores emissores de dióxido de carbono do mundo e assim como um dos principais responsáveis pelo aquecimento global do planeta. O crescimento da produção de carne bovina deve ser obtido pela melhoria da produtividade e não pelo crescimento do rebanho e da área de pastagem, assim somente com a melhoria dos indicadores de produtividade dessa atividade com a adoção de tecnologias e em especial nas localidades externas à região amazônica, com a atuação firme do Estado em parceria com a sociedade civil se encaminhará uma reversão desse processo que vislumbramos entre os anos de 1996-2006, direcionando o Brasil para a rota do desenvolvimento sustentável. 

Palavras-chave: Pecuária Bovina, Ocupação Territorial, 1996-2006.