61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
COMPOSIÇÃO DA COMUNIDADE DE INVERTEBRADOS EM CLAREIRAS ARTIFICIAIS EM ÁREAS DE EXPLORAÇÃO PETROLÍFERA NA AMAZÔNIA CENTRAL
Anacy Muniz Miranda 1
Lucille Marilyn May Kriger d’Amorim Antony 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia / INPA
INTRODUÇÃO:

Os invertebrados terrestres são animais de grande importância no funcionamento dos ecossistemas, pois são responsáveis por processos fundamentais como a decomposição e a ciclagem de nutrientes. Esse grupo de animais atua como agente transformador das condições físicas, químicas e biológicas do solo. Desta forma, tornam-se peças fundamentais no restabelecimento do equilíbrio ecológico de áreas perturbadas. As clareiras artificiais, formadas pela atividade de exploração petrolífera na região amazônica, representam áreas que foram degradadas e necessitam que seu ecossistema seja restaurado. O conhecimento da fauna de invertebrados de solo presente nestes ambientes é importante para o sucesso do processo de recuperação destas áreas. É de fundamental importância conhecer a diversidade de invertebrados do solo e monitorá-la como mecanismo auxiliar às técnicas de recuperação dos recursos naturais, promovendo a preservação e o equilíbrio ecológico. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo determinar a composição da comunidade de invertebrados do solo em duas clareiras artificiais com diferentes idades de reflorestamento localizadas na província petrolífera de Urucu, Amazonas, Brasil.

METODOLOGIA:

O estudo foi realizado na província petrolífera de Urucu, situada no município de Coari, AM (04o 53`S e 65o 11`W), no mês de outubro de 2008. As clareiras são áreas desmatadas que foram utilizadas para retirada de solo destinado à construção civil. Estas áreas estão em processo de reflorestamento com plantas nativas e técnicas de recuperação do solo. Para o presente trabalho foram utilizadas duas clareiras artificiais, Jazida 27 (0,57 ha) e RUC 31 (1,08 ha), com 13 e 15 anos de plantio, respectivamente. Os invertebrados terrestres foram coletados através de pitfall traps e amostras de solo (0-5 cm). Em cada clareira foram amostrados 10 (dez) pontos, 5 (cinco) sob a copa de árvores de ingá (Inga edulis) e 5 (cinco) sob a copa de árvores de lacre (Vismia guianensis). Foram retiradas amostras de solo na base de cada uma das árvores no raio de até 1 m. Na abertura feita pela sonda foram colocadas armadilhas de fosso (“pitfall traps”) com formol a 1% + detergente e deixadas por um período de 48 horas. A fauna do solo foi extraída através da técnica de funis de Berlese. Após as coletas, os invertebrados foram triados e identificados em laboratório. Foram considerados grupos de invertebrados dominantes no sistema, aqueles com abundância relativa maior que 1% do total capturado.

RESULTADOS:

Na Jazida 27 (13 anos) foram coletados 5526 indivíduos distribuídos em 21 taxa de invertebrados, com 36,67% (2026 ind.) coletados por pitfalls e 63,33% (3500 ind.) pelo Berlese. Na RUC 31 (15 anos) foram coletados 3544 indivíduos pertencentes a 22 taxa de invertebrados, sendo 53,47% (1895 ind.) capturados por pitfalls e 46,53% (1649 ind.) pelo Berlese. Na Jazida 27 foram encontrados 4 grupos não registrados na RUC 31 (Lepidoptera, Pauropoda, Opilionida e Oligochaeta), que apresentou 5 grupos exclusivos (Hemiptera, Nematoda, Protura, Neuroptera, e Pseudoscorpionida). Acari foi o mais abundante em todas as amostras de Berlese nas duas áreas (87,54 % e 73,62 %), seguido por Collembola (5,71% e 14,37 %). Nas pitfalls das duas áreas o mais populoso foi Collembola (67,47% e 74,35%), seguido por Acari na Jazida 27 (21,22%) e Formicidae na RUC 31 (9,87%). A Jazida 27 apresentou menor diversidade de grupos de invertebrados dominantes com 4 grupos nas amostras de pitfall (Collembola, Acari, Formicidae e Diptera)  e 3 grupos nas de Berlese (Acari, Collembola e Symphyla). A RUC 31 apresentou 6 grupos dominantes em amostras de pitfall (Collembola, Formicidae, Acari, Diptera, Coleóptera e Hymenoptera), e 6 grupos em Berlese (Acari, Collembola, Coleoptera, Formicidae, Isoptera e Symphyla).

CONCLUSÃO:
A Jazida 27, apesar de possuir um tamanho equivalente a quase metade do tamanho da RUC 31, apresentou fauna mais numerosa, chegando ao dobro da densidade populacional observada na RUC 31 (amostragem de solo até 5 cm), mas não exibiu diferença significativa na riqueza de grupos de invertebrados em sua área. Por outro lado, a RUC 31 consistentemente apresentou mais grupos dominantes que a Jazida 27 (tanto nas amostras de solo quanto nas armadilhas), o que evidencia a melhor estrutura de sua comunidade de invertebrados edáficos e uma distribuição de recursos mais homogênea entre os grupos do ambiente. Podemos concluir que o tamanho da área parece não ter sido um fator relevante para que a diversidade de grupos de invertebrados dos dois plantios fosse diferente. Contudo, a diferença de dois anos na idade do plantio entre as duas áreas parece ser determinante na estruturação da comunidade de invertebrados edáficos. As diferenças observadas entre os dois métodos de coleta concernentes às abundâncias relativas dos grupos taxonômicos capturados bem como aos totais de grupos encontrados evidencia a importância da utilização destes dois métodos (pitfall traps e sondagem de solo), para o estudo de comunidades edáficas, pois eles se mostram complementares cada um dos quais sendo direcionado para a captura de guildas específicas – a fauna ativa na superfície do solo e a fauna dos horizontes superfciais do solo.
Instituição de Fomento: CNPq / REDE CT-PETRO AMAZÔNIA
Palavras-chave: Invertebrados do solo, clareiras artificiais, recuperação de áreas degradadas.