61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 4. Arqueologia
A tafonomia no Sítio Arqueológico Hatahara (AM-IR-13)
Anne Rapp Py-Daniel 1, 2
1. Universidade do Estado do Amazonas
2. Universidade do Estado de São Paulo
INTRODUÇÃO:

Apresentamos aqui parte dos resultados da análise tafonômica de sepultamentos da fase Paredão (séculos VII a XIII) no Sítio Arqueológico Hatahara. A tafonomia é o estudo da reconstrução da história de um fóssil do momento em que ele morre até o momento de sua descoberta, incluindo todos os aspectos de passagem dos organismos da biosfera até a litosfera (Olsen, 1980, apud Haglund e Sorg, 1997a). No caso do material arqueológico, muitas vezes os esqueletos encontrados estão em processo de decomposição e não virariam fósseis (litosfera), mas isso não impede que os processos sejam estudados.

Apesar dos solos Amazônicos serem conhecidos como particularmente agressivos para a conservação de material orgânico, apresentaremos aqui um estudo sobre as condições excepcionais que permitiram que ossadas humanas de mais de 1000 anos se conservassem.

METODOLOGIA:

Parte do trabalho em tafonomia passa por entender os vários subsistemas do planeta (atmosfera, clima, geologia, oceanografia, ecologia e cultura) e como estes se organizam entre si e afetam um ao outro (Bonnichsen, 1989a). Um corpo e seu local de deposição são estruturas fechadas, que devem ser analisados como um contexto específico. “Tanto pela perspectiva da tafonomia quanto pela ecologia, uma carcaça pode ser considerada como a peça principal de um novo micro-ambiente em desenvolvimento” (Kormondy e Brown, 1998; Krebs, 1994). Esse micro-ambiente interage com a biosfera, a litosfera e a atmosfera (Sorg e Haglund, 2002: 5). A conservação ou deterioração dos ossos parecem estar ligadas mais ao micro-ambiente local do que a grandes zonas ecológicas (White e Hannus, 1983). Além de compreender o meio e os processos naturais é necessário identificar os gestos humanos intencionais, ou não, que permitiram a conservação do material orgânico. Para isso durante a etapa de campo devem ser reconhecidos a posição de cada estrutura óssea e seu contexto.

RESULTADOS:

            O fator mais importante para conservação parece ter sido os elementos utilizados para a construção do montículo I, a terra preta e os fragmentos de cerâmica (Machado, 2005). A terra preta possui um pH quase neutro, enquanto que o latossolo é ácido, fragilizando e deteriorando os ossos. A quantidade de cerâmica utilizada para construir os pisos de cerâmica entre as camadas de terra (Machado, 2005) associada à característica argilosa do sedimento criou um ambiente mais estável. Assim, o impacto das intempéries (calor, umidade e seca) foi atenuado, evitando mudanças abruptas. As cerâmicas e o montículo serviram de “cápsula” de proteção. O alto teor de cálcio encontrado no M.I (Rebellato, 2007) é um fator de preservação de material ósseo, pois isso aumenta o pH do solo e conserva o material.

            Dentre os fatores aceleradores da decomposição dos ossos, temos o mesmo sedimento. A enorme quantidade de raízes (ácidas), de bactérias, de animais decompositores e “remexedores de terra”, a própria ocupação do sítio por um período tão longo (mais de 1000 anos) também influenciaram na preservação. Outra ação humana que pode ter acelerado o processo de deterioração são os gestos funerários ligados ao tratamento pré-sepulcral.

CONCLUSÃO:

             A tafonomia como disciplina passa por um processo de desenvolvimento, na Amazônia, em particular, ainda estamos explorando as possibilidades e nenhum protocolo de análise foi estabelecido até o momento, Visto a raridade de material orgânico conservado na região ainda precisamos definir os padrões que levam à conservação, mas é possível num estudo de caso identificar alguns elementos.

Instituição de Fomento: FAPESP, USP
Palavras-chave: Arqueologia da morte, tafonomia, sepultamentos.