61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
O CARIMBÓ COMO PRÁTICA DA CULTURA POPULAR NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL PARQUE AMAZÔNIA NA CIDADE DE BELÉM-PA.
Elizabete Gaspar Gouvêa 1
1. Professora Oficial do município de Belém -SEMEC
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho foi construído sob a perspectiva do Projeto denominado Cultura, Escola e Alegria – CEAL em 2001 (Coordenação de Esporte Arte e Lazer,), no qual trabalhei como arte-educadora durante seis anos na Prefeitura Municipal de Belém, e cujos enfoques eram as linguagens música, teatro, dança e jogo. Em particular, centralizei as atenções do trabalho nas manifestações tradicionais populares, onde destaquei a dança, como prática corporal (Coletivo de Autores, 1992) e a tradição como memória coletiva da sociedade (Halbwaches, 2004), cuja pesquisa teve como objetivo principal, refletir a concepção da cultura popular, a partir da dinâmica histórica, cultural e coletiva que leva os sujeitos a ação, atividade e experiência dotada de dinamismo, onde o caráter relacional tem sentido e significado nos processos de interação (Gohn, 1999). Assim, a pesquisa problematizou a dança tradicional popular vivenciada no estado do Pará, que se faz presente no contexto urbano e na escola; Relacionou as danças tradicionais populares com os saberes dos alunos que estão representados em forma de gestos e expressões corporais; e registrou a dança tradicional popular como elemento constitutivo de identidade de uma cultura local.
METODOLOGIA:
Para desenvolver este trabalho, adotou-se a pesquisa participante, uma vez que como professora de educação física da escola, também desenvolvia na mesma, o projeto Cultura Escola e Alegria em turnos diferenciados, o que possibilitou a observar o cotidiano da escola e entendê-lo como uma realidade dinâmica, complexa e contraditória (Ghedin, 2008), cujo enfoque dialético permitia compreender, a realidade observada, os sujeitos e sua cultura local. Como as temáticas trabalhadas no cotidiano da escola deveriam perpassar pela pesquisa realizada no projeto, envolvendo os alunos e a dança tradicional popular, adotou-se a priori a técnica de investigação e observação livre, utilizando um roteiro de caminhada às proximidades da escola, com anotações e registros que apontavam aspectos do espaço físico, características do bairro e história de vida dos sujeitos na cidade de Belém, no estado do Pará. Em seguida adotou-se a roda de conversa com os alunos para dialogar sobre as manifestações tradicionais populares mais conhecidas, em especial aquelas que envolviam a dança folclórica. No terceiro momento foram realizadas oficinas com aplicação do conhecimento e o conteúdo da Dança Tradicional Popular, “Carimbó”, eleita pelos alunos para ser problematizada e vivenciada durante o projeto.
RESULTADOS:
A partir do roteiro da caminhada, das anotações e registros sobre os aspectos físicos da comunidade local que vive no entorno da escola, se observou a inexistência de serviços como: saneamento básico, coleta de lixo, pavimentação das ruas. Tal realidade social observada denunciava a frágil estrutura sócio-econômica de vida das pessoas. Em relação aos moradores em sua maioria vieram do interior do estado do Pará, em busca de trabalho, cujos pais e filhos estudavam na referida escola. Também foram registrados dois grupos de manifestações tradicionais populares, um de boi-bumbá e outro de Carimbó. Nas rodas de conversas com os alunos sobre as manifestações tradicionais populares, se identificou que apesar de existirem os dois grupos locais, que desenvolviam trabalhos com a cultura Popular, em especial a Dança folclórica Carimbó, os alunos do projeto desconheciam tal manifestação como representação da cultura local, legitimando sua negação. Nas oficinas de dança, o Carimbó entendido como expressão rítmica da cidade de Belém, possibilitou aos alunos a oportunidade de identificar, relacionar, vivenciar e ressignificar essa prática corporal como linguagem e elemento da cultura tradicional popular.
CONCLUSÃO:
No primeiro momento da pesquisa, o contato com a comunidade, a percepção dos sujeitos e suas particularidades de classe social, localidade e faixa etária de crianças e jovens entre 7 a 15 anos de idade, mobilizaram minhas ações para um contexto social e econômico contraditório, onde estavam explícitas a desigualdade social e a exclusão. Pelo olhar da cultura, constatei na pesquisa que tanto as crianças, como os jovens, compartilhavam o pensamento conservador da dança popular, como manifestação folclórica, não reconhecendo o Carimbó como tradição da cultura local, e sim como prática corporal vivenciada por pessoas mais velhas vindas do interior do estado. Nesse processo, a negação do Carimbó, passou a ser problematizada nas oficinas e nas rodas de conversas, onde se desmistificou o conceito de dança folclórica, como resquícios de um dado momento histórico, ampliando este pensamento para compreensão da dança como manifestação tradicional popular, sinônimo de resistência produzida por seus participantes e linguagem importante na construção da experiência, da tradição, e da subjetividade (Giroux, 1987), que deve ser ressignificada no processo educativo, possibilitando aos alunos a associação entre cultura, conhecimento e saber local. Trabalho de professor de Ensino Básico ou Técnico
Palavras-chave: dança, carimbó, cultura popular.