61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais
INCIDÉNCIA DE ENTEROPARASITOSES NA POPULAÇÃO GERONTE DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA-AM
Míriam Andrade Martins 1
Maria da Graça Vale Barbosa 1, 2
1. Centro Universitário Nilton Lins
2. Fundação de Medicina Tropical do Amazonas
INTRODUÇÃO:

Este estudo apresenta os resultados de pesquisa sobre a incidência de enteroparasitoses em gerontes na área urbana de São Gabriel da Cachoeira, município do Amazonas, o qual concentra a maior população indígena do Brasil (90%) e é considerado Área de Segurança Nacional pela lei federal 5.449. Estudos sobre a ocorrência de enteroparasitoses em população idosa são escassos (ARAÚJO & CORREIA, 1997), especialmente na região Amazônica. Por isso é necessário ampliar os conhecimentos científicos sobre este grupo, e em particular, no que diz respeito aos gerontes desta cidade, considerando o fato de que nos últimos vinte anos, a população urbana de São Gabriel da Cachoeira quadruplicou-se, devido à migração da população rural. Com isso, surgem os problemas de saúde pública, principalmente as parasitoses intestinais, decorrentes de fatores, como falta de saneamento básico e comportamentos inadequados relativos à educação sanitária, à má qualidade da água de consumo e ao desconhecimento das medidas profiláticas. Assim é de grande relevância conhecer como se caracteriza essa população no que se refere à prevalência dos enteroparasitas, que são os agentes responsáveis por diferentes graus de desnutrição, deficiência cognitiva e, ocasionalmente, mortes.

METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo transversal realizado no Laboratório de Análises Clínicas de São Gabriel da Cachoeira. Participaram da pesquisa 633 idosos (acima de 60 anos), sendo 354 mulheres e 279 homens, os quais foram atendidos nos quatro postos de saúde do município (Posto da Praia, Centro, Dabaru e Areial) e encaminhados ao laboratório, durante os anos de 2006 a 2008.  As amostras coletadas foram analisadas por meio da técnica Qualitativa de Sedimentação Espontânea (método de Lutz ou de Hoffman Pons e Janer) e para determinar a prevalência das enteroparasitoses empregou-se a análise estatística dos resultados, segundo a espécie dos parasitas (Giárdia lamblia, Endolimax nana, Entamoeba histolytica, Entamoeba coli, Iodamoeba butschlli, Enteróbios vermiculares, Trichiura trichuris, Ancilostomídeo sp., Ascaris lumbricoides e Strongiloides stercoralis), sua frequência  e incidência de casos de mono e poliparasitismo. Esses dados foram então correlacionados com as variáveis: sexo e local de residência do paciente (Bairro da Praia, Centro, Dabaru e Areal).  A partir daí, obteve-se a incidência de enteroparasitoses e as características socioepidemiológicas dessa população.

RESULTADOS:

A positividade média de gerontes parasitados entre 2006 a 2008 foi de 70%. Constatou-se que essa incidência ocorreu numa escala decrescente. Em 2006, 79% encontravam-se parasitados; em 2007, esse índice caiu para 67%, e em 2008 reduziu para 63%. Quanto à variável sexo, a incidência de enteroparasitose foi significativamente maior entre as mulheres (78%), contra 55% dos homens. Esse fato pode estar relacionado a aspecto cultural, pois as mulheres são mais suscetíveis à contaminação por lidarem diretamente com o solo no plantio de roças, enquanto que os homens são caçadores. O biparasitismo foi predominante, atingindo 43,3%. Os enteroparasitos mais frequentes foram os protozoários (72%). Destacaram-se entre eles, Entamoeba coli (47%), Entamoeba histolytica (40%), Giárdia lamblia (8%), Iodamoeba butschlli (4%) e Endolimax nana (1%). Quanto aos helmintos, a Ascaris lumbricoides foi a mais incidente (75%); Trichuris trichiura (12%), Ancylostoma duodenale (7%) e Strongyloides stercoralis (6%).  Esses índices foram maiores em bairros periféricos onde as condições sanitárias são precárias e possuem baixo nível socioeconômico, como dos bairros Dabaru 46% e Areal 25%, em contrapartida aos bairros da Praia (8%) e do Centro (21%) com índices de positividade relativamente baixos.

CONCLUSÃO:

As enteroparasitoses constituem um sério problema de Saúde Pública Mundial, são consideradas endêmicas em algumas regiões e servem como indicadores socioeconômicos. Na população estudada, evidenciou-se um quadro de alta prevalência de parasitas intestinais, sobretudo entre as mulheres. Por isso, requere-se que sejam tomadas medidas emergenciais para o controle e educação adequada. Nessas ações devem ser considerados os aspectos culturais dessa população predominantemente indígena, para que se possa alcançá-la, melhorando assim a qualidade de vida desses idosos. É preciso que se tenha consciência da gravidade que esses enteroparasitas têm sobre o estado nutricional e que eles provocam sérias complicações clínicas que são potencializadas com a idade avançada. Desta forma, enfatiza-se a necessidade de outros estudos coproparasitológicos que abranjam todas as faixas etárias desta população. Ressalta-se também que estes achados aqui relatados diferem de outros estudos, como o de Ludwing et al (1999), que descreve uma diminuição progressiva nas taxas de incidência por parasitas com o avanço da idade e, ainda por não registrar diferenças significativas de índices de enteroparasitoses entre os sexos.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
Palavras-chave: enteroparasitoses, gerontes, população indígena.