O tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia de células redondas de ocorrência natural em cães. Ocorre através do contato das células tumorais com a mucosa ou pele lesada, geralmente por meio do coito, lambedura, mordedura e arranhões. Nas fêmeas, acomete a região posterior da vagina, vestíbulo e vulva, enquanto nos machos localiza-se principalmente na porção caudal do pênis. Apresenta-se macroscopicamente como uma estrutura semelhante à couve-flor, peduncular, nodular, papilar ou multilobular com uma consistência friável a firme, podendo a superfície encontrar-se lisa, rugosa ou ulcerada. O diagnóstico é sugerido pelo aspecto físico, pela localização da lesão sendo a confirmação através da citologia esfoliativa, por impressão ou aspiração. A terapia ocorre através da utilização de diversos agentes quimioterápico, porém a droga de escolha é o sulfato de vincristina na dose de 0,5 a 0,75 mg/m² corporal, pela via intravenosa (IV), aplicada semanalmente durante 4 a 6 semanas. Objetivou-se neste estudo avaliar as características clínicas e citológicas TVT em cães atendidos no Ambulatório de Pequenos Animais do Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), bem como avaliar o efeito terapêutico e tóxico do sulfato de vincristina nestes casos.

Foram selecionados para este estudo oito cães, 5 fêmeas e 3 machos, no período de 15 de agosto de 2007 a 14 de maio de 2008, em que foi diagnosticado o TVT, mediante exame físico e citológico compatível com esta neoplasia. Foram registrados dados epidemiológicos, aspectos clínicos gerais dos animais e específico da neoplasia, além do registro fotográfico. Todos os animais incluídos neste estudo receberam ração comercial balanceada, 30 dias antes do inicio e durante toda fase de experimentação. Semanalmente foi efetuada citologia por impressão e swab e para avaliação de possíveis metástases a citologia aspirativa. Além disso, foi realizada avaliação hematológica dos animais, por meio da colheita sanguínea por punção da veia jugular. A toxicidade da terapia foi avaliada mediante anamnese, exame físico e através da citologia e hemogramas realizados semanalmente.

Os sinais clínicos apresentados pelos animais foram secreção serosanguinolenta, odor fétido, excesso de lambedura na região genital e visualização do tumor, que localizava- se em região vaginal em 25%, vestibular/vulvar em 37,5% das cadelas e na base do pênis nos machos. Um dos animais, além do TVT vaginal apresentou o TVT extragenital, na pele, que mostrava- se com numerosas nodulações distribuídas por todo corpo. Macroscopicamente, os tumores apresentavam-se como massa de aparência peduncular, friável, sangrando facilmente. Após acompanhamento clínico, os animais foram submetidos ao tratamento com sulfato de vincristina. A eficiência do medicamento foi avaliada segundo as características macroscópicas e avaliação citológica da neoplasia. Houve redução significativa do tamanho do TVT e da secreção em 50% logo após a 1° aplicação do quimioterápico. A partir da 3° semana de tratamento, verificou-se diminuição das células típicas de TVT, nas lâminas citológicas analisadas, que ainda observaram aumento da vacuolização das células de tumor. Ao analisar os hemogramas desses animais, observou- se anemia normocitíca normocrômica em 87,5% dos casos e 12,5% apresentou- se com leucopenia. Um animal não teve alteração hematológica quanto ao efeito da vincristina.

Após análise dos dados do trabalho pode-se inferir que a avaliação clínica, hematológica e citológica destes animais são necessárias para que haja o monitoramento da resposta da neoplasia ao sulfato de vincristina e para avaliar a toxicidade desta substância. Em caso de indício de toxicidade, recomenda-se a administração desta substância em um intervalo de 14 dias. O sulfato de vincristina mostrou-se eficaz para o tratamento do TVT, mostrando resistência do TVT ao medicamento em um único animal, sendo recomendado para este caso à terapia com o Sulfato de doxorrubicina na dose de 10 mg/ m² de superfície corporal.