Em meio ao crescimento alarmante da Doença Renal Crônica, já considerada “epidemia”, pois cerca de 01 milhão de brasileiros têm problemas renais e 70% deles não tem conhecimento, a Sociedade Brasileira de Nefrologia informa que a doença se refere a um diagnóstico de perda progressiva e geralmente irreversível da função renal. Desse modo, a Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal (2003) demonstra a necessidade de trabalhar às doenças dos rins, a partir da atenção básica, pois os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença são: diabetes mellitus e hipertensão arterial aliado a outras causas, Assim, a, DRC torna-se um grande problema de saúde pública, com conseqüências humanas, sociais e econômicas, onde o ônus recai sobre o Estado, o portador e a sociedade. Segundo dados da SBN (2006) a região norte apresenta a menor incidência em prestação de serviços nefrológicos, apesar do progressivo aumento dessa patologia na região. Neste sentindo, o presente trabalho debruça-se a analisar a saúde voltada aos renais crônicos atendidos no Pronto-Socorro Dr. João Lúcio em Manaus, através de uma contextualização histórica da área da saúde, apresentando o perfil sócio-econômico e desvelando a realidade do atendimento nefrológico na cidade.

O presente trabalho foi pautado numa abordagem crítica que permitiu analisar a totalidade do objeto, assumindo aporte teórico metodológico das ciências sociais aplicadas. Realizamos o estudo, tendo por meios de investigação: levantamento e revisão bibliográfica, análise documental e entrevistas semi-estruturadas. Tomamos por base um universo de 26 profissionais envolvidos, destes, retirou-se a amostra de 05 profissionais, sendo (01) um de cada área: médico, assistente social, enfermeiro, psicóloga e nutricionista. Referindo-se aos usuários entrevistados, o universo foi de 40 pacientes com DRC internados no Pronto-Socorro, no período de Dez/ 2006 a Fev/2007, destes, foram retirados uma amostra aleatória simples de 20 indivíduos, tendo como critérios, o tempo de internação igual ou superior a sete dias e apresentação de disfunção renal há pelo menos 02 meses. Para a sistematização ou tabulação dos dados coletados foram empregados recursos e técnicas estatísticas a fim de traçar um panorama quanti-qualitativo. Assim, a análise, a interpretação dos dados coletados e informações obtidas para o estudo, foram desenvolvidas de maneira que pudéssemos relacionar a produção literária com a realidade institucional e dos sujeitos da pesquisa.

Os resultados apontam que entre os usuários entrevistados no Pronto-Socorro Dr. João Lúcio Pereira Machado, a maior incidência encontra-se na faixa etária de 41 a 50 anos, 35% deles vivem união consensual. Referindo-se a escolaridade 35% possuem ensino fundamental completo, 40% não possuem renda individual, 75% dos pacientes não utilizaram os serviços de atenção primária e 65% dos usuários responderam ter diabetes e hipertensão arterial. A pesquisa também revela que 85% dos usuários descobriram ter a doença no pronto-socorro, ou seja, na rede terciária. Quanto à utilização da rede terciária, 50% informaram recorrer ao pronto-socorro devido a facilidade do atendimento/consulta imediata, ratificando a necessidade de implementar o que preconiza o SUS, numa dimensão sanitarista, voltada ao modelo de atenção básica onde 80% das doenças seriam prevenidas. Em relação ao tratamento dessa enfermidade em Manaus, 50% dos usuários avaliaram o atendimento como regular, 30% informaram que falta prevenção a essa doença, 30% informaram que não realizam tratamento devido escassez de vagas e 26,6% sugeriam aumento na quantidade de clínicas.

Concluímos que o investimento quanti-qualitativo na principal rede de atenção à saúde através de ações preventivas e promocionais, reduzirá o aumento de doenças crônicas e auxiliará na melhoria da condição de vida da população. Referindo-se a instituição de saúde, é inegável que esta possibilidade de construção acrescenta maior conhecimento, visto que a pesquisa permitiu, por via da análise acerca das transformações societárias e condições de vida da população que refletem na saúde, analisar este setor como um processo histórico-social, e transportar a interpretação dos dados para um patamar crítico e reflexivo. Em relação ao atendimento de saúde oferecido à DRC em Manaus, constatou-se uma grande dificuldade para realizar o tratamento regular, devido a escassez de vagas nas 03 clínicas, impedindo o oferecimento dos serviços de saúde com qualidade, pautado na garantia de direitos. Desse modo, a falta de implementação dos serviços de prevenção nos grupos de risco, e a incidência da maioria dos casos pela via emergencial - terciária, aliado a reduzida quantidade de vagas nas clínicas de tratamento, sobrecarrega o sistema hospitalar e inviabiliza a recuperação dos pacientes.